Relatório reforça argumento por medidas globais para redução
das emissões de gases de efeito estufa
Relatório sobre a
Lacuna de Emissões (Emissions Gap Report 2013) projeta o impacto das emissões
na temperatura global em 2020.
O objetivo é manter o
aumento da temperatura global abaixo dos 2°C até o fim do século XXI.
Se a comunidade
global não colocar em prática imediatamente medidas de amplo alcance para reduzir
o déficit de emissões de gases de efeito estufa (GEE), os custos para se manter
o aumento da temperatura global abaixo dos 2°C neste século devem crescer ainda
mais, e gerar uma nova gama de desafios.
O Relatório sobre a
Lacuna de Emissões 2013 (Emissions Gap Report 2013), coordenado pelo Programa
das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) com participação de 44 equipes
científicas, é lançado no momento em que os líderes se preparam para a
Conferência de Partes sobre as Alterações Climáticas em Varsóvia – COP 19.
O relatório conclui
que, embora existam vias para se chegar à meta de 2oC com emissões
mais elevadas, a não redução da lacuna agravará os desafios da mitigação após
2020.
Isto implicará em
índices muito mais elevados para as reduções globais de emissões em médio
prazo, maior uso de tecnologias carbono-intensivas, maior dependência de
técnicas ainda não comprovadas, custos de mitigação mais elevados a médio e
longo prazo e maiores riscos de não cumprir a meta dos 2°C.
Ainda que as nações
cumpram os seus atuais compromissos climáticos, as emissões de gases com efeito
de estufa em 2020 deverão provavelmente ser de 8 a 12 gigatoneladas de CO2
equivalente (GtC02e) acima do nível para uma possibilidade razoável
para a via de menor custo. O CO2 equivalente equipara todos os gases
estufa ao potencial de aquecimento do CO2.
Se a lacuna não for
anulada ou significativamente reduzida até 2020, será fechada a porta para
opções de limitar do aumento da temperatura a uma meta abaixo de 1,5°C,
aumentando a dependência ao desenvolvimento de novas tecnologias de eficiência
energética e de biomassa para captura de carbono.
Para manter o rumo em
direção à meta dos 2°C e evitar os impactos negativos, o relatório afirma que
as emissões devem atingir um máximo de 44 GtC02e em 2020, e preparar
o terreno para futuros cortes: para 40 GtC02e em 2025; 35 GtC02e
em 2030; e 22 GtC02e em 2050. Uma vez que estas metas se baseiam em
cenários de ação que tiveram início em 2010, o documento conclui que é cada vez
mais difícil cumprir esse objetivo.
“Como destaca o
relatório, o atraso de medidas implica em um maior índice de mudanças
climáticas a curto prazo e a possibilidade de mais impactos climáticos, bem
como o uso contínuo de tecnologias de alta emissão de carbono e consumo de
energia intensivo. Esta ‘dependência’ abrandaria a introdução de tecnologias
amigas do clima e estreitaria as opções de desenvolvimento que posicionariam a
comunidade global no caminho para um futuro sustentável”, afirmou Achim
Steiner, Subsecretário Geral da ONU e Diretor Executivo do PNUMA.
“Contudo, o passo
decisivo constituído pela meta para 2020 ainda pode ser alcançado com o reforço
dos atuais compromissos e da criação de novas medidas, incluindo a ampliação de
iniciativas de cooperação internacional em áreas como a eficiência energética,
a reforma dos subsídios aos combustíveis fósseis e as energias renováveis. A
agricultura pode contribuir, já que as emissões diretas desse setor são
responsáveis por 11% do total global de gases com efeito de estufa”,
acrescentou.
As emissões globais
totais de gases com efeito de estufa em 2010, o último ano para o qual estão
disponíveis dados, já ascendiam a 50,1 GtC02e, o que destaca a
tarefa que temos por diante. Caso o mundo prossiga no atual ritmo, o que não
inclui os compromissos assumidos depois de 2010, prevê-se que as emissões em
2020 atinjam 59 GtC02e, o que é 1 GtC02e acima da
estimativa apresentada no relatório do ano passado.
Os cientistas
concordam que os riscos de danos irreversíveis ao meio ambiente crescerão
significativamente caso a temperatura média global se eleve mais do que 2°C em
relação aos níveis pré-industriais até ao final do século. O mais recente
relatório do Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC)
confirmou que a atividade humana tem uma “probabilidade extrema” (95 a 100%) de
ser a causa deste aquecimento.
“À medida que nos
aproximamos da última rodada das negociações sobre o clima em Varsóvia, existe
a necessidade real de um aumento de ambição por parte de todos os países:
ambições que possam levar os países mais longe e mais depressa no que diz
respeito a anular a lacuna de emissões e alcançar um futuro sustentável para todos”,
disse Christiana Figueres, Secretária Executiva da Convenção-Quadro das Nações
Unidas sobre Mudanças Climáticas. “Contudo, as ambições nacionais não serão
suficientes para enfrentar as realidades científicas das mudanças climáticas,
uma das razões pelas quais é necessário estabelecer até 2015 um novo acordo
universal capaz de catalisar a cooperação internacional.”
Sem intensificar uma
atitude focada e resoluta desde já, novas reduções serão necessárias mais tarde
e de forma mais rápida e dispendiosa, o que resultará em custos de mitigação
mais elevados e desafios econômicos maiores durante a transição para um regime
abrangente de políticas climáticas.
Outro relatório do
PNUMA conclui que os custos de adaptação na África poderão atingir os 350
bilhões de dólares por ano em 2070 caso a meta de dois graus não for atingida,
ao passo que seriam necessários 150 bilhões de dólares para fazer a adaptação
dentro da meta.
Cumprir a meta de
2020 é possível
Embora a janela de
oportunidade esteja se fechando, ainda é possível atingir a meta de 2020 de 44
GtC02e/ano com medidas rápidas e firmes. Os estudos revelam que, por
até 100 dólares por tonelada de equivalente de CO2, as emissões
podem ser reduzidas em 14 a 20 GtC02e em comparação com o atual
estado.
Por exemplo,
restrições das normas que regem os compromissos das negociações climáticas
poderia reduzir a lacuna em cerca de 1 a 2 GtC02e, ao passo que, se
os países implementassem as reduções máximas assumidas em compromissos
incondicionais, essa redução poderia ser de 2 a 3 GtC02e. A expansão
do âmbito dos compromissos poderia diminuir a lacuna em mais 2 GtC02e.
Isto incluiria cobrir todas as emissões dos compromissos nacionais, fazer com
que todos os países se comprometessem a reduzir as emissões e reduzir as emissões
dos transportes internacionais.
Mais reduções com
base na restrição das regras, a implementação de compromissos ambiciosos e
incondicionais e a expansão do escopo dos compromissos atuais poderiam levar a
comunidade global até meio caminho da anulação da lacuna. O relatório diz que a
lacuna remanescente pode ser anulado através de novas medidas internacionais e
nacionais, incluindo iniciativas de cooperação internacional.
A cooperação
internacional pode resultar em enormes ganhos
Há um número crescente
de iniciativas de cooperação internacional através das quais países e outras
entidades cooperam para promover tecnologias ou políticas que geram benefícios
climáticos, ainda que a atenuação das mudanças climáticas não seja seu objetivo
principal.
O relatório
identificou diversas áreas para tais iniciativas, com muitas parcerias já
ativas e que podem ser expandidas ou reproduzidas para obter os ganhos
necessários:
Eficiência
energética, que pode gerar uma redução na lacuna de até 2 GtC02e em
2020. Por exemplo, a eletricidade para iluminação representa cerca de 15% do
consumo global de energia e 5% das emissões mundiais de gases com efeito de
estufa. Mais de 50 países aderiram ao Programa Global de Parcerias para a
Iluminação Eficiente en.lighten e acordaram a eliminação gradual das lâmpadas
incandescentes ineficientes até ao final de 2016;
Iniciativas de
energias renováveis podem diminuir as emissões em 1 a 3 GtC02e
até 2020. Foi investido em 2012 um total de 244 milhões de dólares em energias
renováveis e foi instalada a nível mundial uma capacidade de geração de 115 GW
através de novas energias renováveis – um ano recorde, segundo o Relatório da
Situação Global das Energias Renováveis 2013 da REN21. Ao longo dos oito
últimos anos, o número de países com metas de energia limpa triplicou de 48
para 140, indicando que a mudança para as energias renováveis está a ganhar
ímpeto;
Reforma dos subsídios
aos combustíveis fósseis, que pode originar benefícios de 0,4 a 2 GtC02e
até 2020;
Contudo, para que as
iniciativas de cooperação internacional sejam eficazes, o relatório conclui que
estas devem incluir:
Uma visão e um
mandato claramente definidos;
A combinação certa de
participantes apropriados para tal mandato, indo para além dos negociadores
climáticos habituais;
Participação dos
países em desenvolvimento;
Financiamento
suficiente e uma estrutura institucional que suporte a implementação e o
acompanhamento, mas mantenha a flexibilidade;
Incentivos para os
participantes;
Mecanismos de
transparência e responsabilização.
A agricultura
proporciona oportunidades
O relatório dedica
uma atenção especial à agricultura, já que, embora poucos países tenham
especificado medidas nessa área como parte da implementação dos seus
compromissos, as estimativas da redução potencial de emissões do setor variam
entre as 1,1 GtC02e e as 4,3 GtC02e.
O relatório descreve
um leque de medidas que não só contribuem para a mitigação das mudanças
climáticas, como também reforçam a sustentabilidade ambiental do setor e podem
proporcionar outros benefícios, como produções maiores, custos de fertilizantes
mais baixos ou lucros adicionais decorrentes do fornecimento de madeira.
São destacadas três
práticas que podem ser ampliadas a uma escala maior:
Práticas de plantio
direto. O plantio direto consiste na deposição direta das sementes sob a camada
dos restos vegetais resultantes da colheita anterior. A prática reduz as
emissões resultantes da preparação da terra e da utilização de maquinaria
agrícola.
Gestão melhorada de
nutrientes e água na produção de arroz. Práticas de cultivo inovadoras que
reduzem as emissões de metano e óxido nitroso.
Agrossilvicultura.
Consiste em práticas de gestão diferentes que incluem deliberadamente espécies
lenhosas perenes nas quintas e na paisagem e que aumentam a recolha e o
armazenamento de dióxido de carbono da atmosfera na biomassa e nos solos. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário