Biocapacidade
“O impacto da
humanidade sobre o sistema que sustenta a vida sobre a Terra não depende
simplesmente do número de pessoas que vivem no planeta, mas também do modo em que
se comportam. Se considerarmos esse aspecto, o quadro muda totalmente: o
problema demográfico existe principalmente nos países opulentos. Na realidade,
existem muito ricos.”
“Eles são sempre muitos. ‘Eles’ são aqueles que deveriam ser menos ou, ainda melhor, não ser, justamente. Ao contrário, nós nunca somos o suficiente. De ‘nós’, deveria haver sempre mais”. Eu escrevi isso em 2005, em Vidas Desperdiçadas (Ed. Zahar, 2005). A meu ver, tanto agora quanto então, a “superpopulação” é uma ficção estatística, um nome codificado que indica a presença de um grande número de pessoas que, ao invés de favorecerem o funcionamento fluido da economia, tornam mais difícil alcançar e superar os parâmetros utilizados para medir e avaliar o seu correto funcionamento. Esse número parece aumentar de modo incontrolável, acrescentando continuamente os gastos, mas não os ganhos.
“Eles são sempre muitos. ‘Eles’ são aqueles que deveriam ser menos ou, ainda melhor, não ser, justamente. Ao contrário, nós nunca somos o suficiente. De ‘nós’, deveria haver sempre mais”. Eu escrevi isso em 2005, em Vidas Desperdiçadas (Ed. Zahar, 2005). A meu ver, tanto agora quanto então, a “superpopulação” é uma ficção estatística, um nome codificado que indica a presença de um grande número de pessoas que, ao invés de favorecerem o funcionamento fluido da economia, tornam mais difícil alcançar e superar os parâmetros utilizados para medir e avaliar o seu correto funcionamento. Esse número parece aumentar de modo incontrolável, acrescentando continuamente os gastos, mas não os ganhos.
Em uma sociedade de
produtores, trata-se de pessoas cujo trabalho não pode ser utilmente
(“proficuamente”) empregado, já que é possível produzir sem eles, de modo mais
rápido, rentável e “econômico”, todos os bens que a demanda atual e potencial é
capaz de absorver. Em uma sociedade de consumidores, essas pessoas são
“consumidores defeituosos”: aqueles que não têm recursos para aumentar a
capacidade do mercado dos bens de consumo e, ao contrário, criam um outro tipo
de demanda, que a indústria orientada aos consumos não é capaz de interceptar e
“colonizar” de modo rentável.
O principal ativo de
uma sociedade dos consumos são os consumidores, enquanto o seu passivo mais
fastidioso e custoso é constituído pelos consumidores defeituosos. Não tenho
motivo para mudar de ideia com relação ao que escrevi anos atrás, nem para
retirar a minha adesão ao que foi defendido por Paul e Ann Ehrlich. Observamos
que se prevê que a “bomba demográfica” da qual os Ehrlich falam explodirá
geralmente em territórios de mais baixa densidade de população. Na África,
vivem 21 habitantes por quilômetros quadrado, contra 101 na Europa (incluindo
as estepes e os “permafrosts” da Rússia), 330 no Japão, 424 na Holanda, 619 em
Taiwan e 5.489 em Hong Kong.
Como observou há
pouco tempo o vice-diretor da revista Forbes, se toda a população da China e a
Índia se transferisse para os EUA continentais, resultaria disso uma densidade
demográfica não superior à da Inglaterra, da Holanda ou da Bélgica. Porém,
poucos consideram a Holanda um país “superpovoado”, enquanto os sinais de
alarme soam continuamente para a superpopulação da África ou da Ásia, com
exceção dos poucos “Tigres do Pacífico”.
Para explicar o
paradoxo dos “Tigres”, afirma-se que, entre densidade demográfica e
superpopulação, não há uma correlação estrita: a segunda deveria ser medida
fazendo-se referência ao número de pessoas que devem ser sustentadas com os
recursos possuídos por um dado país e à capacidade do ambiente local de
sustentar a vida humana. Porém, como indicam Paul e Ann Ehrlich, a Holanda pode
sustentar a sua altíssima densidade demográfica só porque muitos outros países
não conseguem: nos anos 1984-1986, por exemplo, importaram 4 milhões de
toneladas de cereais, 130 mil toneladas de óleos diversos e 480 mil toneladas
de ervilhas, feijões e lentilhas – todos produtos que nos mercados globais têm
uma avaliação e, portanto, um preço relativamente baixos, permitindo que a própria
Holanda produza, por sua vez, outras mercadorias, como leite ou carne
comestível, que notoriamente têm preços elevados.
Os países ricos podem
se permitir uma alta densidade demográfica porque são centrais de “alta
entropia”, que atraem recursos (e principalmente fontes energéticas) do resto
do mundo, restituindo, em troca, as escórias poluentes e frequentemente
tóxicas, produzidas por meio da transformação (o exaurimento, a aniquilação, a
destruição) das reservas mundiais de energia. A população dos países ricos,
mesmo sendo bastante exígua (com relação aos padrões mundiais), utiliza cerca
de dois terços da energia total.
Em uma conferência de
título eloquente (Too many rich people, “Muitos ricos”), proferida na
Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, no Cairo (5 a 13
de setembro de 1994), Paul Ehrlich sintetizou as conclusões do livro escrito
por ele juntamente com Ann Ehrlich, The Population Explosion, afirmando, sem
meios termos, que o impacto da humanidade sobre o sistema que sustenta a vida
sobre a Terra não depende simplesmente do número de pessoas que vivem no
planeta, mas também do modo em que se comportam. Se considerarmos esse aspecto,
o quadro muda totalmente: o problema demográfico existe principalmente nos
países opulentos. Na realidade, existem muito ricos. (EcoDebate)
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