Não pairam dúvidas
sobre a capacidade inigualável da economia capitalista globalizada em atingir
especificamente quatro pontos: criar riqueza, expandir o crédito, estimular os
avanços tecnológicos e assegurar o crescimento físico das economias de mercado.
Com isso, fica enaltecido o dogma do progresso, consubstanciando de forma
equivocada o padrão de vida humana numa perspectiva de acumulação material.
É correto afirmar
que, ao menos nesses quatro pontos, a economia capitalista conseguiu nos
últimos 60 anos dar provas incontestes de sua supremacia, principalmente no que
toca a produzir riqueza e propagar o crescimento econômico.
Contudo, o que essa
mesma economia capitalista não soube fazer com a mesma proeminência foi
conciliar o crescimento econômico com a preservação ambiental, muito menos
soube priorizar o combate à pobreza e à miséria, em lugar de promover, em
caráter majoritário, a criação de riqueza, a produção de suntuosidades.
Razão pela qual há
atualmente 14% (quase 1 bilhão entre 7 bilhões de pessoas) da população mundial
passando fome diuturnamente, ocupando os bolsões de pobreza, margeando os mais
indecentes níveis de exclusão social.
Se, por um lado, a
economia mundial cresceu exponencialmente (saindo de um PIB global de US$ 5
trilhões, em 1950, para US$ 50 trilhões, em 2000, chegando a mais de US$ 73
trilhões em 2012) em termos de produção material, entulhando assim o mundo com
diversas mercadorias; por outro, a destruição ecossistêmica, fruto desse
exorbitante crescimento, não encontra precedentes na história do mundo, muito
menos os índices de desigualdades socioeconômicas que se avolumam, criando,
conforme aludimos, muito mais pobres e miseráveis do que “novos” ricos, ainda
que a criação de riqueza seja incontestavelmente um ponto preponderante da
economia capitalista globalizada. No entanto, frente às gravidades social,
econômica e ambiental, a prioridade não é essa.
Especificamente em
relação à destruição ecológica, a economia tradicional, sob a vestimenta do
paradigma neoclássico, desde seu surgimento, principiado pela Revolução
Marginalista (a partir de 1870), tem sido potencialmente nefasta no modo como
faz a economia crescer, pouco se importando para com os custos e a dilapidação
do patrimônio ecológico decorrente desse processo, até mesmo porque, se tem
algo mais que a economia convencional fez (e ainda faz) com eficiência ímpar, é
subordinar toda a biodiversidade ao instinto produtor-dilapidador da atividade
econômica. Razão pela qual faz a economia crescer (materialmente), porém, ao
custo de destruir (ambientalmente).
São diversos os
estudos e análises que corroboram esse argumento. Apenas nas últimas décadas,
de acordo com o Millennium Ecosystem Assessment (Avaliação Ecossistêmica do
Milênio), 20% dos recifes de corais do planeta foram destruídos, e outros 20%
completamente degradados. Apenas em 30 anos (de 1950 a 1980) mais terras foram
convertidas em lavouras do que em150 anos (de 1700 a 1850).
Além disso, 35% das
áreas de manguezais foram perdidas nas últimas décadas. Atualmente, 25% dos
estoques de peixes marinhos comercialmente explorados estão sobreexplorados.
Por conta da pressão
econômica em sempre produzir cada vez mais, há, como resultado, um considerável
esgotamento dos serviços ecossistêmicos de provisão (lavoura, criação, pesca de
captura, madeira, lenha, recursos energéticos, água, produtos bioquímicos e
outros), bem como dos serviços reguladores (qualidade do ar, controle de
erosão, purificação da água e tratamento de resíduos, entre outros).
Somente a partir de
1959, houve 60% de aumento na concentração de CO2 na atmosfera. Não obstante a
esse estrago ambiental, nos últimos anos a desigualdade social deu saltos quantitativos
insuportáveis. Atualmente, 1,1 bilhão de pessoas sobrevivem com uma renda menor
que US$ 1 por dia; quase 1 bilhão de habitantes do planeta sofrem de
subnutrição (consumo abaixo de 1900 kcal/pessoa/dia), e 2,6 bilhões não têm
qualquer acesso a saneamento básico, não deixando de mencionar ainda a
existência de 1 bilhão de pessoas que não contam com acesso à água potável.
Do outro lado dessa
“moeda” chamada desigualdade, a riqueza grassa sorrateiramente a passos largos.
Em 2012, o Credit Suisse Group (banco de investimentos sediado em Zurique)
emitiu relatório intitulado Global Wealth Report 2012, apontando que a riqueza
global foi estimada US$ 223 trilhões (dados de 2012). Possuindo entre cem mil e
1 milhão de dólares encontravam-se exatamente 344 milhões de adultos
(equivalente a 7,5% do total de pessoas na maioridade no mundo).
A pergunta que emerge
dessas observações parece ser uma só: até quando suportaremos a distorção de um
modelo econômico capaz de criar riqueza destruindo a natureza? (ecodebate)
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