Desconhecimento popular sobre água é problema a ser
enfrentado, diz WWF-Brasil
Em 22/03/14 dia em
que se comemorou o Dia Mundial da Água, é importante lembrar que um dos
principais problemas que o Brasil precisa enfrentar é a falta de conhecimento
da população sobre a realidade dos recursos hídricos no país, afirma o
coordenador do Programa Água para a Vida da organização não governamental (ONG)
WWF-Brasil, Glauco Kimura de Freitas.
Para ele, a população
está muito distante do tema água, que só chama a atenção quando há uma crise
instalada. “As pessoas não procuram se informar de onde vem a água que consomem
e o que podem fazer para garantir o abastecimento, há um desconhecimento geral.
Os governantes têm sua culpa, as empresas e a mídia, também, e essa falta de
esclarecimento reflete no cidadão.”
Kimura cita a
pesquisa que o WWF faz a cada cinco anos sobre a percepção dos brasileiros
sobre a água. Na última, em 2012, mais de 80% dos entrevistados nunca tinham
ouvido falar da ANA [Agência Nacional de Águas], que é o órgão regulador dos
recursos hídricos. “Há consciência sobre como economizar e de que pode faltar
água. Mais de 70% das pessoas sabem dos problemas, mas o desconhecimento ainda
é grande”, disse o especialista.
Outro problema é a má
governança dos recursos hídricos, acrescenta Kimura. “É muito difícil dizer se
vamos conseguir, ou não, suprir nossas demandas e é grande a chance de termos
problemas no futuro com a gestão que tem sido feita”, disse ele, destacando que
o Brasil está muito bem em termos de leis, como, por exemplo, a Política
Nacional de Recursos Hídricos, o Conselho Nacional de Recursos Hídricos e os
comitês de bacias hidrográficas, mas que não estão sendo implementados e
fiscalizados como deveria.
“Fizemos a lição de
casa até um certo ponto e precisamos mudar essa trajetória, fugir das
consequências desse cenário que as Nações Unidas [ONU] projetam. Temos um
arcabouço legal, bons modelos, mas a vontade política para fazer algo
consistente está muito baixa, não só no âmbito federal, mas nos estados e
municípios também”, destaca o coordenador do Programa Água para a Vida.
O Relatório de
Desenvolvimento Mundial da Água 2014, de autoria da ONU-Água, prevê que, em
2030, a população global necessitará de 35% a mais de alimento, 40% a mais de
água e 50% a mais de energia.
“O tema água esta
abaixo das prioridades. A ANA é um órgão técnico de excelência, mas os governos
locais não dão conta de implementar os instrumentos que já existem, a sociedade
não cobra, e as empresas só se mexem quando têm que cumprir a lei”, argumenta
Kimura.
De acordo com ele, o
terceiro gargalo na gestão dos recursos hídricos é o mau uso da terra. “As
cidades vão crescendo, ficam dependendo de reservatórios, a maioria poluídos, e
ocupando áreas de nascentes, que são os ovos de ouro da galinha. O planejamento
urbano tem que ser levado muito a sério, e o setor de recursos hídricos precisa
estar inserido.”
Para Kimura, na área
rural, também há uma tendência de agravamento do problema com a flexibilização
do Código Florestal, aprovado em 2012. Para ele, a diminuição das Áreas de
Preservação Permanente (APPs), que agora levam em conta o tamanho da
propriedade, coloca em risco os mananciais de água.
A Política Nacional
de Irrigação, instituída no ano passado, também pode constituir um problema
para o especialista do WWF, já que o crédito financeiro e as outorgas para
captação de água vão aumentar. “É como uma poupança: estamos dando cada
vez mais senhas para acessar a nossa caderneta, mas ninguém põe dinheiro lá.
Então, temos que ter um trabalho sério de proteção das nascentes e área de
recarga de aquífero”, destaca Kimura, explicando que existem áreas de terra
mais permeáveis que outras que precisam ter uma cobertura florestal em cima e
que, por desconhecimento das pessoas, são pavimentadas ou assoreadas.
(ecodebate)
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