Reciclagem de Resíduos de Construção e Demolição (RCDs) é um empreendimento viável
Areia e brita podem
ser obtidas a partir de Resíduos de Construção e Demolição (RCDs)
As cidades
brasileiras podem fornecer brita e areia recicladas para a indústria da
construção civil de forma complementar aos agregados naturais a partir de
Resíduos de Construção e Demolição (RCDs), aponta pesquisa da Escola
Politécnica (Poli) da USP. A viabilidade da reciclagem por meio da mineração
urbana foi verificada a partir de uma modelagem teórica baseada na análise do
conteúdo e da destinação dos resíduos nas cidades de Macaé (Rio de Janeiro),
Maceió (Alagoas) e São Paulo. O trabalho do engenheiro Francisco Mariano Souza
Lima teve orientação do professor Arthur Pinto Chaves, do Departamento de Engenharia
de Minas da Poli.
Lei incentiva a
criação de mecanismos de mercado para gerenciar resíduos
De acordo com o
engenheiro, o gerenciamento dos resíduos é afetado por dois aspectos da
Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela lei federal
12.305, de 2 de agosto de 2010. “São os princípios do poluidor pagador e do
protetor-recebedor, além da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida
do produto”, aponta. “As empresas da cadeia da indústria da construção civil
tornam-se responsáveis pelos custos do gerenciamento dos RCDs desde a geração
até o descarte final ou a reciclagem. A lei incentiva a criação de mecanismo de
mercado para o gerenciamento destes resíduos.” A supervisão do serviço é feita
pelos municípios e a reciclagem pode ser realizada por empresas privadas.
O manejo dos resíduos
é muito diferenciado nos municípios brasileiros, destaca Souza Lima.
“Considerando o total de 5564 municípios, 3639 realizam pelo menos a coleta
destes resíduos. No entanto, entre as cidades que fazem o manejo de RCDs,
somente 79 possuem alguma forma de reaproveitamento”, ressalta. Os dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) são de 2008 e são
expostos no Plano Nacional de Saneamento Básico. “Estima-se que a geração de
entulho no Brasil é da ordem de 100 milhões de toneladas por ano (tons/ano). A
estimativa baseia-se na geração por habitante de 0,5tons/ano, comprovada pela
pesquisa na cidade de Macaé.”
Sentido econômico
O engenheiro afirma
que o sentido econômico de minerar é conferir valor a um minério que está
misturado em geral a outros. “Fisicamente ocorre a separação deste mineral ou
conjunto destes minerais dos demais que não tem valor econômico”, conta. “Da
mesma forma, os RCDs ganham valor quando são tratados por técnicas de separação
mineral e a fração mineral que nos interessa nos entulhos volta como mercadoria
no mercado de agregados. A industrialização e a própria urbanização alocou este
processo de valorização nas cidades.”
A pesquisa fez a
modelagem dinâmica no período de 20 anos para as três cidades abarcando todo o
processo, desde a geração até o descarte ou a reciclagem dos resíduos tendo em
vista os diferentes conteúdos destes resíduos amostrados . “Os resultados
mostram a heterogeneidade das cidades amostradas no tocante a qualidade do RCD
originários de distintos processos de urbanização”, relata Souza Lima. “O
modelo de custo-benefício mostra que os benefícios superam os custos na
seguinte ordem: São Paulo, Macaé e Maceió.”
Segundo o
pesquisador, as plantas móveis de reciclagem são mais viáveis do que as fixas
na cidade de Macaé. A região de São Paulo, devido ao maior volume de resíduos e
maiores estímulos à reciclagem, é a única entre as três que não precisa de
subsídios para implantar o sistema. “O modelo de viabilidade mostra que a
qualidade do resíduo tem considerável influência na viabilidade das empresas de
reciclagem”, afirma. “Os fatores mais sensíveis ao modelo de viabilidade são,
pela ordem, o valor cobrado pelo terreno, a taxa cobrada na entrada dos RCDs na
planta de reciclagem, os custos de operação da planta e os impostos em vigor.”
Souza Lima afirma que
o modelo testado pode ser replicado para qualquer cidade brasileira e propõe o
conceito de “industria recicladora emergente”. “Seu processo de implantação
está em marcha e em alguns lugares consolidados como na região metropolitana de
São Paulo, com um grande número de empresas recicladoras privadas que
constituíram a Associação Brasileira para Reciclagem dos Resíduos de Construção
e Demolição (Abrecon), fundada em 2011″, conclui. (ecodebate)
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