terça-feira, 25 de março de 2014

Nada temos para comemorar no Dia Mundial da Água

O Dia Mundial da Água é pauta de toda a grande mídia, com grande destaque para o crescente estresse hídrico e a severa ameaça de escassez em escala global. Em todo o planeta, aqui inclusive, incontáveis discursos, solenidades, eventos e ‘festividades’ comemoraram o Dia Mundial da Água e ‘destacaram’ a sua importância cotidiana na vida de todos.
Mas, no geral, foi mais um grande tema de fundamental importância que caiu no vazio da alienação e do consumismo. Mais uma vez, como em outros temas absolutamente fundamentais, como as mudanças climáticas e a crise alimentar, prevalece a atitude do tipo ‘Tô nem aí’. Mesmo sendo, aparentemente, inútil reavaliar a grave situação atual, ainda assim acho que precisamos manter o tema em discussão, se pretendemos a construção de um futuro minimamente suportável.
O Brasil, nos fóruns internacionais, sempre reafirmou sua posição contrária ao reconhecimento do acesso à água potável como direito humano. Essa é a posição histórica dos governos brasileiros. Não é estranho que isso aconteça em um país no qual a água sempre foi um instrumento de poder, controlado pelas oligarquias (políticas e econômicas) e pela sempre pujante indústria da seca.
É essa visão econômica que orienta o conceito da não cobrança da captação da água bruta, que tanto favorece o agronegócio. A irrigação é responsável por quase 70% do consumo de água, com um desperdício de até 50% da água captada. O problema é conhecido há décadas, mas, até agora, não existe um único programa público de redução de perdas e de adoção de sistemas eficientes de irrigação. O perdulário pivô central ainda reina absoluto no país.
Os sistemas de distribuição de água tratada, públicos e privados, em média, desperdiçam 40% da água distribuída por falhas operacionais (vazamentos, rompimentos de adutoras, etc.). As campanhas que incentivam o cidadão/ consumidor a reduzir o consumo pessoal e familiar são necessárias, mas não são justas. O consumidor urbano não é responsável pelo consumo maior da água bruta (é a agricultura irrigada), nem pelo maior desperdício de água tratada (é a operação ineficiente do sistema).
É claro que, na qualidade de consumidores, precisamos mudar nossa atitude em relação à demanda de água. Precisamos, de fato, ser mais responsáveis pela água que consumimos. Mas, acima de tudo, é como cidadãos que precisamos mudar nossa atitude.
Como cidadãos e eleitores, temos o poder de dizer que a água é um direito humano fundamental, essencial para garantir o direito à vida. Se a alienação e o consumismo prevalecerem, como agora, nada mudará em nosso futuro. Ou melhor, mudará para pior, porque a escassez será crescente.
Cedo ou tarde, arcaremos com as consequências do que decidirmos. Ou do que deixarmos que os outros decidam por nós. (ecodebate)

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