Agência Nacional de Águas defende medidas restritivas para
Cantareira
Para presidente da entidade, problema atual é pequeno se comparado com o
que está por vir, se não chover.
O presidente da
Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, nesta quinta-feira, 3, medidas
restritivas para o uso da água do Sistema Cantareira, durante audiência na
Câmara dos Deputados. A reunião com parlamentares e representantes da agência
reguladora federal e também da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São
Paulo (Sabesp) foi realizada para tratar da crise do abastecimento em São
Paulo.
Uma solução de
curto prazo, segundo Andreu, seria usar, e bem, a água disponível para tentar
atravessar o período de estiagem. Em seguida, seriam tomadas as medidas
restritivas. "Se não forem tomadas, o volume útil poderá secar, com risco
de isso acontecer antes de as chuvas virem, em novembro. Mas, e se não
vierem?", perguntou. "É preciso tomar medidas preventivas. E, depois,
rezar para que chova. Não haverá nenhuma solução técnica de engenharia de curto
prazo."
Andreu afirmou que
o problema atual, no qual o Cantareira bate recordes seguidos de baixa de sua
reserva de água, ainda é muito pequeno diante do que se avizinha, caso não
chova. "A crise está dando seus indicativos, mas a crise que vai surgir,
se não houver chuva, nem resvalamos nela ainda", afirmou. O presidente da
ANA disse que a população entende quando as medidas são tomadas a seu favor,
mesmo aquelas restritivas. Nesta quinta-feira, 3, o nível do sistema que
abastece 14,3 milhões de paulistas ficou estável em 13,3%.
De acordo com o
presidente da ANA, a situação é ainda mais complexa porque, além dos problemas
originados pela própria natureza, há um componente político e eleitoral. Andreu
referiu-se à disputa entre São Paulo e Rio pela água da Bacia do Rio Paraíba do
Sul. "A discussão entre São Paulo e Rio me pareceu, no começo, que tinha
mais a ver com voto do que com água. O cidadão de São Paulo não vota no Rio e o
do Rio não vota em São Paulo. Isso é fato. Mas a água está interligada."
Andreu disse que há
um esforço na ANA para pôr à mesa os dois Estados e Minas para que se busque
uma solução e não o confronto na disputa pelas reservas hídricas. "A
questão central é integração. Se não conseguirmos solução integrada, vamos
tomar decisão errada."
Defesa
O coordenador do
Programa Mananciais da Sabesp, Ricardo Araújo, representou a empresa paulista
na audiência na Câmara dos Deputados. Ele defendeu a captação de água do Rio
Paraíba do Sul, que abastece 11 milhões na Região Metropolitana do Rio.
"Acreditamos
que, do ponto de vista técnico, essa solução é plenamente justificável e não
prejudica ninguém. Estamos em uma fase em que precisamos avançar mais nas
conversas. Não acredito que haja regiões que sejam proprietárias de água. São
Paulo tem necessidade enorme dessa água, sob risco de situações muito mais
graves", afirmou Araújo.
Além disso, o
coordenador já destacou as medidas adotadas para reduzir a captação de água no
Cantareira. "Estamos captando pouco menos de 25 mil litros de água por
segundo. Há um déficit de 6 mil litros por segundo, que compensamos por meio de
bônus à população, quando ela economiza água, e da transferência de outros
sistemas de abastecimento de água de São Paulo para a área de atendimento do
Cantareira, particularmente do Sistema Guarapiranga e do Alto Tietê",
afirmou.
Questionada sobre a
proposta restritiva de Andreu, a Sabesp disse que não comentaria as
declarações. O presidente da ANA, porém, elogiou o projeto paulista de
abastecimento em Brasília. Andreu disse que é admirador do Sistema
Macrometrópole, que o governo de São Paulo pretende fazer para garantir o
abastecimento de água no Estado, mas ressaltou que o Rio precisa ser
contemplado. "Essa não pode ser uma solução bairrista", disse Andreu.
(OESP)
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