ONS avisa Pirapora (MG) que precisa reduzir a quantidade de água do
Rio São Francisco para que a barragem de Três Marias não seque até setembro.
O município de Pirapora, em Minas Gerais, passa por uma
situação singular - pode ter o abastecimento de água prejudicado para que o
lago da hidrelétrica de Três Marias não seque antes das chuvas do próximo
verão. A usina é da Cemig, mas quem coordena o volume de água na barragem é o
Operador Nacional do Sistema (ONS), órgão responsável pela gestão do sistema
elétrico nacional.
"Nossa situação não faz o menor sentido", diz
Esmeraldo Ferreira Santos", diretor-presidente do Sistema de Abastecimento
de Água e Esgoto de Pirapora. "A prioridade do uso da água é o
abastecimento humano." O município precisa construir a toque de caixa um
novo sistema de captação de água. O atual, que se abastece no Rio São
Francisco, há cerca de 50 anos, só funciona quando o volume de água do Velho
Chico corre acima de 250 metros cúbicos por segundo (m³/s).
Esse volume pode ser regulado pelas comportas da
hidrelétrica de Três Marias, a 120 km rio acima da cidade. Por determinação do
ONS, esse volume deve cair para 150 m³/s a partir de 1.º de junho, mas o
município diz não ter como cumprir o prazo. O ONS, por sua vez, declarou à
prefeitura que precisa tomar a providência para preservar o lago da
hidrelétrica.
Sem água
Barragens de hidrelétricas são como caixas de água. Numa
ponta entra a água de um rio. Na outra, a água desce pelas turbinas, gerando
energia, retornando ao rio. O nível do lago varia de acordo com volume que
entra e o volume que sai.
Segundo simulações apresentadas pelo ONS à prefeitura de
Pirapora, sem a redução, no fim do mês de setembro (mais precisamente dia 25),
o lago de Três Marias estará completamente seco. Se o volume for reduzido, o
lago terá de 5,5% a 6 % de água em novembro, quando começam as chuvas de verão.
Segundo especialistas ouvidos pelo Estado, que não querem
ser citados, a barragem de Três Marias vive uma situação complicada. A
quantidade de água do São Francisco que entra é hoje menor do que a quantidade
que sai na outra ponta.
‘Em cima da hora’
A forma como o processo foi conduzido – é isso que mais
incomoda a prefeitura de Pirapora, em Minas Gerais, na discussão sobre a
redução no volume de água que será liberado da barragem de Três Marias para o
rio São Francisco. "Nos avisaram em cima da hora, numa reunião há 30
dias", diz Esmerado Ferreira Santos, diretor-presidente do Sistema de
Abastecimento de Água e Esgoto de Pirapora. "Eles tinham que nos manter informados,
mas do jeito que fizeram foi como dizer: se vira, vai lá e faz."
Segundo Santos, o município precisa de R$ 2,4 milhões em
investimentos e de 60 a 90 dias para instalar um novo sistema de captação, com
bombas, para puxar a água quando ocorrer a redução no volume de água dos atuais
250 m3 por segundo (m3/s) para 150 m3/s, como
determinou o Operador Nacional do Sistema (ONS).
O tamanho da redução proposta pelo ONS causou estranhamento
por uma razão simples: "Em 2001, por causa do racionamento, um momento
difícil, ficou estabelecido que o volume mínimo seria 300 m3/s e
nunca pensamos que pudesse cair abaixo disso, mas o ONS avisou que baixaria
para 250 m3/s", diz Santos. "Fizemos a nossa parte e interrompemos o
abastecimento da cidade duas vezes para reformar e limpar os canais e
conseguimos aproveitar um volume menor de água, mas abaixo disso não temos
condição de captar a água."
Racionamento
Segundo especialistas em água e energia ouvidos pelo Estado,
que não querem ser identificados, a situação poderia ser menos grave se a água
de Três Marias tivesse sido poupada. "O ONS se recusa a falar em
racionamento de energia e o resultado disso é o racionamento de água", diz
um especialista do setor.
O lago de Três Marias é vital para o setor elétrico. Pode
suprir uma cidade com 850 mil habitantes. Mas está com 18% da capacidade. Se
baixar mais, não apenas pode deixar de gerar a energia esperada, como afetar o
abastecimento em dezenas de municípios junto ao São Francisco, diz outro
especialista.
Procurada, a Cemig comunicou, por meio de sua assessoria de
imprensa, que o porta-voz para tratar do tema é o ONS. Em nota, o ONS declarou
que: "Na atual situação, de baixas condições hidrológicas do período úmido
em curso, o ONS está adotando, dentro de sua filosofia de operação, medidas
adicionais objetivando preservar ao máximo os estoques de água desses
reservatórios." A nota diz que "como alguns reservatórios envolvem
questões ambientais ou de uso múltiplo da água, a redução de vazão tem sido
realizada em conjunto pelo MME, Aneel, ANA, ONS e agentes envolvidos."
(OESP)
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