Agência reguladora diz, porém, que Sabesp não consegue resolver nem
problemas visíveis; reclamações cresceram 89%.
Quatro em cada dez
vazamentos de água na rede de distribuição da Grande São Paulo são invisíveis e
indetectáveis, segundo a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
(Sabesp). São rachaduras provocadas pelo desgaste da tubulação aterrada na qual
a água não sobe à superfície nem faz barulho.
Segundo a empresa,
apenas 13% dos vazamentos na rede são visíveis e 50% não são vistos
externamente, mas podem ser detectados por métodos acústicos. "Esses dados
são indícios de que as perdas da Sabesp são formadas prioritariamente por
vazamentos não visíveis, os quais dificultam sua identificação ou requerem
técnicas especiais de detecção, tornando-as mais caras", afirma a empresa.
Os índices constam
do relatório enviado pela Sabesp em março à Agência Reguladora de Saneamento e
Energia do Estado de São Paulo (Arsesp), durante a negociação da revisão
tarifária. O órgão autorizou o reajuste de 5,4% na conta de água a partir do
mês que vem, mas a concessionária informou que vai aplicá-lo em "data
oportuna" até dezembro.
Segundo Arsesp,
porém, a Sabesp não tem conseguido solucionar nem mesmo alguns dos vazamentos
visíveis. O número de reclamações por esse motivo feitas à agência cresceu 89%
no primeiro bimestre deste ano, na comparação com igual período em 2013. Foram
140 queixas entre janeiro e fevereiro, quando a crise de escassez do Sistema
Cantareira já estava instalada, ante 74 nos mesmos meses do ano passado.
Para Marcelo
Libânio, professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos
da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), não é apenas a idade da
tubulação a responsável pelos vazamentos na rede. "Basicamente, o que
interfere nas perdas físicas ou reais na rede, além da idade da tubulação, é a
magnitude das pressões vigentes, o material da qual ela é constituída, como ela
foi implantada e a sua extensão. Então, dizer que o envelhecimento da rede é o
responsável por tudo é meia-verdade", disse.
Aparentes
Ao todo, as perdas
físicas correspondem a 66% do desperdício total de água da Sabesp. Os outros
34% são considerados perdas não físicas, ou aparentes. "É água que a
empresa produziu, mas contabiliza como faturada", explica Libânio. Entre
as principais causas do prejuízo, estão a submedição (54%), ou seja, falhas
ocorridas no hidrômetro, e as fraudes (39%), causadas pelas ligações
clandestinas de água.
"Boa parte das
perdas não físicas está, em geral, associada às condições socioeconômicas da
região atendida, fora do controle da prestadora dos serviços, impedindo
transformar de perdas não físicas em aumento do mercado faturado", afirma
a Sabesp no relatório. A empresa alega que está entre as cinco companhias de
saneamento que menos desperdiçam água no processo de distribuição em todo o
País.
Segundo a Arsesp,
porém, se excluir o volume de água que a Sabesp vende no atacado, como para a
cidade de Guarulhos, que tem sistema próprio de distribuição, a perda de água
em 2012, por exemplo, foi de 35,6% - e não de 32,1%. "Nesse caso, a Sabesp
estaria numa posição muito inferior no ranking nacional", diz a agência. A
média nacional de desperdício efetivo é de 38,8%, segundo dados de 2011 do
Ministério das Cidades.
O Estado questionou
a Sabesp, no início da tarde desta terça-feira, 22, sobre o envelhecimento
da rede na região central da capital e o número de reclamações de vazamentos,
mas não obteve resposta. (OESP)
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