Prefeitura e Estado trocam acusações em meio à crise do
Sistema Cantareira
Secretário de Haddad diz que falta ‘transparência’ à Sabesp e confirma a
ocorrência de racionamento noturno de água na capital; auxiliares de Alckmin
lamentam declaração de petista, que seria mentirosa e ‘irresponsável’
A Prefeitura de São
Paulo e o governo do Estado trocaram acusações em 16/04/14, em meio à
crise hídrica do Sistema Cantareira. Após o Estado revelar ofício da gestão
Fernando Haddad (PT) sobre racionamento de água entre meia-noite e 5 horas, o
secretário municipal de Governo, Chico Macena (PT), disse que falta
"transparência" à estatal. O secretário estadual de Saneamento e
Recursos Hídricos, Mauro Arce, rebateu dizendo ser "mentira" do
petista a ocorrência de rodízio.
O diretor
metropolitano da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
(Sabesp), Paulo Massato, também reagiu e classificou de
"irresponsável" a declaração de Macena. Em nota, ele afirmou que é
"no mínimo lamentável que gestores públicos usem uma reunião de natureza
técnica para deturpar declarações com objetivos político-eleitorais". O
encontro entre os gestores foi realizado em 14/04.
Macena
afirmou nesta quarta que a Sabesp tem feito racionamento noturno. A
empresa nega, mas, segundo ele, a medida foi anunciada na reunião do Comitê
Gestor dos Serviços de Água e Esgoto da capital. Macena é o presidente do
comitê que acompanha o contrato de concessão de 30 anos dos serviços de
saneamento à Sabesp.
"O que Massato
disse, e está registrado em ata, é que houve uma diminuição da pressão da água
em período noturno e admitiu em reunião, com testemunhas, que, em locais mais
altos, bairros localizados em morros distantes, a água não chega. Se não quer
chamar de rodízio, de racionamento, pode dar o nome que for, o fato é que falta
água", disse Macena.
O secretário de
Haddad negou caráter eleitoral no ofício encaminhado às repartições municipais,
conforme noticiado pelo Estado ontem. "Apenas comuniquei a rede pública
para ficar atenta ao que eles chamam de manobra operacional", afirmou o
petista.
Macena disse que
encaminhou a informação sobre o racionamento de água a hospitais, postos de
saúde e escolas. "Na reunião do conselho gestor, que assumi a presidência
na segunda-feira, foi pautado isso (falta
d’água), e a Sabesp apresentou um relatório. Tem de fato uma
redução da pressão. O pior de tudo é não ter essa transparência", disse
Macena.
O secretário Mauro
Arce afirmou que rodízio não foi tema da reunião. "É lamentável. Esse
assunto não foi tratado lá. Quando ele disse que a Sabesp fala que está fazendo
rodízio, ele criou uma coisa que não foi discutida", disse Arce. "É
mentira dele (que haja racionamento).
O representante da Sabesp que estava lá sabe que esse assunto não foi
levantado. O assunto foi a avaliação da situação."
Massato também
negou a implementação de rodízio. "Nunca foi dito por mim nem por nenhum
funcionário da Sabesp que a companhia pratica qualquer tipo de rodízio ou
racionamento. Por uma única razão: não há rodízio nem racionamento nos
municípios em que a Sabesp atua. Se houvesse, principalmente a hospitais e
escolas, como teria declarado de forma irresponsável o secretário Chico Macena,
a Sabesp seria a primeira a informar", afirmou.
De acordo com
Macena, a Sabesp teria reduzido na madrugada a pressão da água em 75%, de 40
metros de coluna d’água (m.c.a) para 10 m.c.a. A medida diminui desperdícios
com vazamentos, mas afeta o fornecimento de bairros em regiões mais altas.
Políticos
Em 16/04, Haddad
disse apenas que repassou as informações que recebeu da empresa à rede da
Prefeitura. "Não vou entrar em uma discussão semântica. O que nós fizemos
foi informar a rede de serviços públicos da medida para que todos possam se
programar. Um hospital, uma escola e um posto de saúde precisam estar
informados. Nós fizemos um mero repasse da informação que foi oficialmente
recebida", afirmou o prefeito.
Por duas vezes,
Alckmin não comentou as informações reveladas pelo Estado. Pela manhã, ele
deixou uma coletiva de imprensa no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo,
sem responder a perguntas sobre racionamento. À tarde também evitou comentar sobre
o rodízio noturno. (OESP)
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