Documento da Prefeitura afirma que Sabesp já faz rodízio
noturno de água
Ofício distribuído a gestores municipais, ao qual o ‘Estado’ teve
acesso, relata que a companhia está reduzindo em 75% a pressão do abastecimento
na cidade entre meia-noite e 5 horas; para especialistas, medida pode indicar
racionamento.
Um documento
interno da Prefeitura de São Paulo, distribuído nesta terça-feira, 15, a
gestores municipais, relata que a Companhia de Saneamento Básico do Estado de
São Paulo (Sabesp) informou ao Comitê Gestor dos Serviços de Água e Esgoto da
capital que já está reduzindo em 75% a pressão da água fornecida na cidade
entre meia-noite e 5 horas. A medida, segundo especialistas, indica que o
racionamento de água já está em curso na madrugada. A Sabesp nega a prática.
O ofício, ao qual o
Estado teve acesso, é assinado pelo secretário municipal de Governo, Francisco
Macena, com a data desta terça. Segundo o documento, o comitê gestor que
acompanha o contrato de concessão do serviço de saneamento da capital foi
informado pela Sabesp de que a pressão da água na rede de distribuição da
cidade está sendo reduzida de madrugada de aproximadamente 40 metros de coluna
d’água (m.c.a.) para 10 metros de coluna d’água.
"Na prática,
essa redução deixa a água sem força suficiente para atingir alturas maiores do
que 10 metros. Ou seja, acima dessa altura os reservatórios e as regiões mais
altas podem apresentar dificuldades no abastecimento. Esse racionamento exige
que a gestão pública municipal fique atenta ao impacto gerado na rede para não
haver prejuízo dos serviços", diz o ofício. Procurada, a Prefeitura informou
que não comentaria o teor do documento.
Impacto
O m.c.a. é a
unidade que mede a pressão da água na rede a partir dos reservatórios de
distribuição. Quanto menor o índice, menor o alcance da água. "A redução
da pressão ajuda a diminuir a quantidade de perda de água por vazamento. A
consequência disso é que, em lugares mais altos, a água pode ter dificuldade de
subir pela tubulação, prejudicando o abastecimento. Não deixa de ser uma forma
racionamento", explica o coordenador de Engenharia Civil do Centro Universitário
da Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), Kurt Amann.
Segundo Rubem
Porto, especialista em recursos hídricos da Escola Politécnica da USP, além da
redução dos vazamentos, a medida faz com que reservatórios, seja de casas ou de
distribuição pública, "não recebam água se estiverem a mais de dez metros
de altura". Ele diz que, nesses casos, "uma pessoa que não tem caixa
d’água e mora em uma zona alta da cidade não vai conseguir tomar um banho
durante a madrugada".
Porto acredita que
a prática é a forma menos prejudicial de se economizar água em tempos de crise.
"Racionamento é uma palavra que perdeu o sentido. Está se tomando uma
providência que automaticamente se reduza o consumo. Isso é feito à noite,
porque é um horário em que a população é menos prejudicada. A Sabesp tem de
alguma forma reduzir o consumo de água com o menor prejuízo possível para a
população", afirma.
Queixas
Os casos de falta
d’água na capital começaram a se intensificar em fevereiro, logo após a Sabesp
tornar público que o Sistema Cantareira, que abastece 47,3% da Grande São Paulo
e parte da capital, estava em crise. A maioria das queixas feitas à reportagem
relatava justamente a falta d’água no período noturno.
Os primeiros
bairros a sofrer com o corte foram os da zona norte, que são abastecidos pelo
Cantareira. Nas últimas semanas, porém, as reclamações se estenderam para
regiões abastecidas pelos Sistemas Alto Tietê e Guarapiranga.
É o caso da
assistente administrativa Selma Ferreira, de 46 anos, que mora na Vila Inglesa,
em Cidade Ademar, zona sul. Ela ficou mais de 36 horas sem água. "Não
pensei que pudesse faltar água tão rápido. Seria melhor se avisassem
antes", disse. (OESP)
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