terça-feira, 1 de abril de 2014

IPCC: impacto será ‘grave e irreversível’

IPCC: impacto do aquecimento global será ‘grave e irreversível’, diz ONU
Enchentes como esta no Paquistão, ocorrida em 2010, ameaçarão cada vez mais a humanidade, diz ONU.
O impacto do aquecimento global será “grave, abrangente e irreversível”, segundo um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês) divulgado em 31/03/14.
Autoridades e cientistas reunidos no Japão afirmam que o documento é a avaliação mais completa já feita sobre o impacto das mudanças climáticas no planeta.
Integrantes do IPCC dizem que até agora os efeitos do aquecimento são sentidos de forma mais acentuada pela natureza, mas que haverá um impacto cada vez maior sobre a humanidade.
Mudanças climáticas vão afetar a saúde, a habitação, a alimentação e a segurança da população no planeta, segundo o relatório.
O teor do documento foi alvo de intensas negociações em reuniões realizadas em Yokohama. Este é o segundo de uma série de relatórios do IPCC previstos para este ano.
O texto afirma que a quantidade de provas científicas do impacto do aquecimento global dobrou desde o último relatório, lançado em 2007.
"Ninguém neste planeta ficará imune aos impactos das mudanças climáticas", disse o diretor do IPCC, Rajendra Pachauri, a jornalistas nesta segunda-feira.
O secretário-geral da Associação Mundial de Meteorologia, Michel Jarraud, disse que se no passado as pessoas estavam destruindo o planeta por ignorância, agora já não existe mais esta "desculpa".
Enchentes e calor
O relatório foi baseado em mais de 12 mil estudos publicados em revistas científicas. Jarraud disse que o texto é "a mais sólida evidência que se pode ter em qualquer disciplina científica".
Nos próximos 20 a 30 anos, sistemas como o mar do Ártico estão ameaçados pelo aumento da temperatura em 2 graus Celsius. O ecossistema dos corais também pode ser prejudicado pela acidificação dos oceanos.
"Ninguém neste planeta ficará imune aos impactos das mudanças climáticas"
Rajendra Pachauri, diretor do IPCC
Na terra, animais, plantas e outras espécies vão começar a "se deslocar" para pontos mais altos, ou em direção aos polos.
Um ponto específico levantado pelo relatório é a insegurança alimentar. Algumas previsões indicam perdas de mais de 25% nas colheitas de milho, arroz e trigo até 2050.
Enquanto isso, a demanda por alimentos vai continuar aumentando com o crescimento da população, que pode atingir nove bilhões de pessoas até 2050.
"Na medida em que avançamos [as previsões] no futuro, os riscos só aumentam, e isso acontecerá com as pessoas, com as colheitas e com a disponibilidade de água", disse Neil Adger, da universidade britânica de Exeter – outro cientista que assina o relatório.
Enchentes e ondas de calor estarão entre os principais fatores causadores de mortes de pessoas. Trabalhadores que atuam ao ar livre – como operários da construção civil e fazendeiros – estarão entre os que mais sofrerão. Há também riscos de grandes movimentos migratórios relacionados ao clima, além de conflitos armados.
Quem paga?
Em lugares como a África, as pessoas estarão particularmente vulneráveis. Muitos que deixaram a pobreza nos últimos anos podem voltar a ter condições de vida miseráveis.
O que é o IPCC?
A função do Painel Intergovernamental da ONU para Mudanças Climáticas (IPCC), nas suas palavras é "suprir o mundo com visões científicas claras sobre o estado atual do conhecimento em mudanças climáticas e seus potenciais impactos ambientais e socioeconômicos".
Com o aval da ONU, a entidade já produziu quatro grandes relatórios até hoje.
O IPCC é uma organização pequena, sediada em Genebra e com uma equipe de 12 funcionários que trabalham em turno integral. Todos os cientistas que colaboram com o painel o fazem de forma voluntária.
Mas o professor Saleemul Huq, outro coautor do relatório, disse que os países ricos não estarão imunes.
"Os ricos terão que se preparar para as mudanças climáticas. Estamos vendo isso agora na Grã-Bretanha, com as enchentes de poucos meses atrás, as tempestades nos Estados Unidos e a seca no Estado da Califórnia", disse Huq.
"Estes eventos são multibilionários, que precisam ser pagos pelos ricos, e existe um limite no que eles podem pagar."
Outro coautor, Chris Field, apontou que existem alguns lados positivos do relatório. Segundo ele, o mundo tem condições de administrar os riscos previstos no documento.
"Aquecimento global é algo muito importante, mas nós temos muitas ferramentas para lidar de forma eficiente com isso. Só é preciso lidar de forma inteligente com isso", diz Field.
Mas um dos problemas que ainda não tem resposta é: quem pagará a conta?
"Não cabe ao IPCC definir isso", disse José Marengo, cientista brasileiro do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que participou das negociações em Yokohama.
"O relatório fornece a base científica para dizer que aqui está a conta, alguém precisa pagar, e com essas bases científicas é relativamente mais fácil ir às negociações da UNFCCC [Convenção Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas] e começar a costurar acordos sobre quem pagará pela adaptação [do planeta]." (bbc.co.uk)

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