IPCC: impacto do aquecimento global será ‘grave e
irreversível’, diz ONU
Enchentes como esta
no Paquistão, ocorrida em 2010, ameaçarão cada vez mais a humanidade, diz ONU.
O impacto do aquecimento global será “grave, abrangente e
irreversível”, segundo um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês) divulgado em 31/03/14.
Autoridades e cientistas reunidos no Japão afirmam que o documento é a
avaliação mais completa já feita sobre o impacto das mudanças climáticas no
planeta.
Integrantes do IPCC dizem que até agora os efeitos do aquecimento são
sentidos de forma mais acentuada pela natureza, mas que haverá um impacto cada
vez maior sobre a humanidade.
Mudanças climáticas vão afetar a saúde, a habitação, a alimentação e a
segurança da população no planeta, segundo o relatório.
O teor do documento foi alvo de intensas negociações em reuniões
realizadas em Yokohama. Este é o segundo de uma série de relatórios do IPCC
previstos para este ano.
O texto afirma que a quantidade de provas científicas do impacto do
aquecimento global dobrou desde o último relatório, lançado em 2007.
"Ninguém neste planeta ficará imune aos impactos das mudanças
climáticas", disse o diretor do IPCC, Rajendra Pachauri, a jornalistas
nesta segunda-feira.
O secretário-geral da Associação Mundial de Meteorologia, Michel
Jarraud, disse que se no passado as pessoas estavam destruindo o planeta por
ignorância, agora já não existe mais esta "desculpa".
Enchentes e calor
O relatório foi baseado em mais de 12 mil estudos publicados em revistas
científicas. Jarraud disse que o texto é "a mais sólida evidência que se
pode ter em qualquer disciplina científica".
Nos próximos 20 a 30 anos, sistemas como o mar do Ártico estão ameaçados
pelo aumento da temperatura em 2 graus Celsius. O ecossistema dos corais também
pode ser prejudicado pela acidificação dos oceanos.
"Ninguém neste planeta ficará imune aos
impactos das mudanças climáticas"
Rajendra Pachauri, diretor do IPCC
Na terra, animais, plantas e outras espécies vão começar a "se
deslocar" para pontos mais altos, ou em direção aos polos.
Um ponto específico levantado pelo relatório é a insegurança alimentar.
Algumas previsões indicam perdas de mais de 25% nas colheitas de milho, arroz e
trigo até 2050.
Enquanto isso, a demanda por alimentos vai continuar aumentando com o
crescimento da população, que pode atingir nove bilhões de pessoas até 2050.
"Na medida em que avançamos [as previsões] no futuro, os riscos só
aumentam, e isso acontecerá com as pessoas, com as colheitas e com a
disponibilidade de água", disse Neil Adger, da universidade britânica de
Exeter – outro cientista que assina o relatório.
Enchentes e ondas de calor estarão entre os principais fatores
causadores de mortes de pessoas. Trabalhadores que atuam ao ar livre – como
operários da construção civil e fazendeiros – estarão entre os que mais
sofrerão. Há também riscos de grandes movimentos migratórios relacionados ao
clima, além de conflitos armados.
Quem paga?
Em lugares como a África, as pessoas estarão particularmente
vulneráveis. Muitos que deixaram a pobreza nos últimos anos podem voltar a ter
condições de vida miseráveis.
O que é o IPCC?
A função do Painel Intergovernamental da ONU para Mudanças Climáticas
(IPCC), nas suas palavras é "suprir o mundo com visões científicas claras
sobre o estado atual do conhecimento em mudanças climáticas e seus potenciais
impactos ambientais e socioeconômicos".
Com o aval da ONU, a entidade já produziu quatro grandes relatórios até
hoje.
O IPCC é uma organização pequena, sediada em Genebra e com uma equipe de
12 funcionários que trabalham em turno integral. Todos os cientistas que
colaboram com o painel o fazem de forma voluntária.
Mas o professor Saleemul Huq, outro coautor do relatório, disse que os
países ricos não estarão imunes.
"Os ricos terão que se preparar para as mudanças climáticas.
Estamos vendo isso agora na Grã-Bretanha, com as enchentes de poucos meses
atrás, as tempestades nos Estados Unidos e a seca no Estado da
Califórnia", disse Huq.
"Estes eventos são multibilionários, que precisam ser pagos pelos
ricos, e existe um limite no que eles podem pagar."
Outro coautor, Chris Field, apontou que existem alguns lados positivos
do relatório. Segundo ele, o mundo tem condições de administrar os riscos
previstos no documento.
"Aquecimento global é algo muito importante, mas nós temos muitas
ferramentas para lidar de forma eficiente com isso. Só é preciso lidar de forma
inteligente com isso", diz Field.
Mas um dos problemas que ainda não tem resposta é: quem pagará a conta?
"Não cabe ao IPCC definir isso", disse José Marengo, cientista
brasileiro do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que participou
das negociações em Yokohama.
"O relatório fornece a base científica para dizer que aqui está a
conta, alguém precisa pagar, e com essas bases científicas é relativamente mais
fácil ir às negociações da UNFCCC [Convenção Quadro da ONU sobre Mudanças
Climáticas] e começar a costurar acordos sobre quem pagará pela adaptação [do
planeta]." (bbc.co.uk)
Nenhum comentário:
Postar um comentário