Mais da metade dos equipamentos eletrônicos é substituído
devido à obsolescência programada
Pesquisa do Idec
com a Market Analysis demonstra que 81% dos brasileiros troca de celular sem
antes recorrer à assistência técnica e em menos de 3 anos de uso
Pesquisa inédita do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do
Consumidor) e da Market Analysis – instituto especializado em pesquisas de opinião
– sobre as percepções e os hábitos dos consumidores brasileiros com relação ao
uso e descarte de aparelhos eletrônicos,: eletrodomésticos (forno de
micro-ondas, fogão, geladeira ou freezer e lavadora de roupas), eletrônicos
(televisão, DVD e blu-ray), aparelhos digitais (câmera fotográfica, computador
e impressora) e celulares.
O estudo apontou que de todos eles, o celular é o aparelho
que tem menor duração e possui um ciclo de vida de, em média, menos de 3 anos e
dificilmente ultrapassa cinco anos.
Tempo de uso de cada equipamento, de acordo com os
entrevistados:
Menos de 3
anos
Celulares e Smartphones - 54%
Câmara - 32%
Impressora - 27%
Computador - 29%
Micro-ondas - 20%
DVD ou Blue Ray -
30%
Mais de 10 anos
Lavadora de roupa - 33%
Fogão - 41%
Geladeira - 49%
Televisão - 34%
O
que motiva a troca dos aparelhos, em grande parte, é a obsolescência
programada. 1 em cada 3 celulares e eletroeletrônicos são substituídos por
falta de funcionamento e 3 em cada 10 eletrodomésticos são substituídos por
apresentarem defeitos, mesmo estando em funcionamento.
As mulheres tendem a trocar mais os equipamentos por motivo
de funcionamento (60% versus 53% na população geral) enquanto os homens tendem
a trocá-los com o objetivo de ter um equipamento mais atual (55% versus 47% na
população geral).
Essa polaridade também é observada em diferentes níveis
sociais: enquanto a população de classe mais baixa tende a substituir mais
facilmente o equipamento por problemas de funcionamento (66% versus 53%), a
população de classe alta o substitui por questões de atualização tecnológica
(59% versus 46%).
“Podemos
observar também a obsolescência psicológica, quando os consumidores trocam de
produtos mesmo que ainda não apresentem defeitos, estimulados pela rápida substituição
dos modelos do mercado”, analisa João Paulo Amaral, pesquisador do Idec
responsável pela pesquisa.
Assistência técnica
Outro dado que chama atenção é que 81% dos entrevistados
trocam de celular sem antes levá-lo à assistência técnica para saber se é
possível consertá-lo.
Quando os aparelhos com problemas são eletrodomésticos
(forno de micro-ondas, fogão, geladeira ou freezer e lavadora de roupas),
digitais (câmera fotográfica, computador e impressora) e eletrônicos
(televisão, DVD e blu-ray), os consumidores tendem a procurar mais a
assistência: 77%, 73% e 56%, respectivamente.
Para Michele Afonso, gerente de análise da MarketAnalysis, a
ausência de assistências técnicas de determinadas marcas em algumas cidades e a
ineficiência das existentes podem justificar a baixa procura pelo serviço. Em
2012, o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), órgão do
Ministério da Justiça, fez um levantamento para verificar a quantidade de
assistências técnicas dos cinco maiores fabricantes de celular em todo o país.
O resultado, divulgado na edição nº 162 da Revista do IDEC, comprova a hipótese
levantada por Michele: na maioria dos estados brasileiros, o número de
assistências técnicas é ínfimo; em 13, pelo menos uma das principais marcas não
possuía nenhum posto. Os piores casos são os das regiões Norte e
Nordeste.
Dentre os consumidores que buscam a assistência técnica, a
maioria acaba comprando outro aparelho, mesmo que opte por fazer o conserto. Já
os que desistem de reparar o produto, dão como principal motivo o preço. “É
comum, porém absurdo, considerar que o preço do conserto não vale a pena se
comparado ao valor de um aparelho novo e mais moderno”, diz Amaral. A demora
para devolver o produto, a falta de peças e de garantia após o conserto também
justificam a não contratação do serviço.
Descarte do lixo e a logística reserva
A maioria dos entrevistados doam, vendem ou guardam os
aparelhos eletrônicos em casa.
Segundo Amaral, isso demonstra que o consumidor brasileiro
tem consciência de que estes produtos podem ser reaproveitados por terceiros ou
mesmo do risco de jogar no lixo comum, mas ao mesmo tempo mostra que estamos
longe de ter uma informação e estrutura adequada pelos fabricantes e pelo
governo para conseguirmos descartar corretamente estes produtos.
Ainda de acordo com o levantamento, apenas um em cada seis
consumidores descarta os aparelhos. Destes, a maioria os coloca no lixo
reciclável, no lixo comum ou o devolvem à loja em que efetuaram a compra.
Somente a minoria os descarta em pontos de coletas específicos para produtos
eletrônicos.
Apenas 1% dos descartes dos celulares são feitos em pontos
de coleta específicos, assim como os aparelhos digitais, 2% dos
eletroeletrônicos e 5% dos eletrodomésticos.
De acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos –
PNRS, os fabricantes de algumas categorias de produtos, entre eles os de
aparelhos eletroeletrônicos, devem ser responsáveis pelo recolhimento, pela
reciclagem e pela destinação adequada de seus produtos, o que caracteriza o
processo de logística reversa.
Apesar de a PNRS já ter sido aprovada há mais de três anos,
a tal logística reversa ainda não existe hoje e nada indica que será
implementada num futuro muito próximo, já queo acordo do setor de
eletroeletrônicos para colocar a medida em prática ainda não foi finalizado.
Como foi feita a pesquisa
Foram entrevistados, por telefone, 806 homens e mulheres, de
18 a 69 anos, de diferentes classes sociais das seguintes cidades: Belo
Horizonte (MG), Brasília (DF), Curitiba (PR), Goiânia (GO), Porto Alegre (RS),
Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA) e São Paulo (SP). Os
depoimentos foram colhidos entre agosto e outubro de 2013, e o número de
entrevistas foi proporcional à população de cada capital. A margem de erro é de
3,5% para mais ou para menos. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário