Extremos climáticos antecipam previsões iniciais do IPCC,
diz Carlos Nobre, secretário do MCTI
Em audiência pública
do Senado Federal em 13/05/14, o secretário de Políticas e Programas de
Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
(MCTI), Carlos Nobre, reforçou a importância das ações na área de adaptação,
diante do cenário de eventos climáticos extremos cada vez mais intensos e
frequentes. A reunião teve como pauta a adaptação brasileira às mudanças
climáticas e as medidas para financiar e diminuir a vulnerabilidade às secas e
às enchentes.
Ao comparar
relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), desde a
primeira edição, em 1990 – quando, pontuou ele, o conhecimento sobre o tema era
consideravelmente pequeno – o climatologista lembrou que, mesmo naquela época,
o documento chamava a atenção para a ocorrência de “surpresas”, diante da
perturbação ocasionada ao sistema global planetário aos níveis de 20 a 50 milhões
de anos atrás.
“Não há precedentes
na história da Terra de se alterar o balanço de radiação na atmosfera – que é o
que os gases de efeito estufa fazem – numa taxa tão rápida”, disse, na sessão
da Comissão Mista Permanente sobre Mudanças Climáticas.
Para o especialista,
apesar dos avanços da ciência, a consequência dessa perturbação é um
experimento desconhecido e é impossível obter previsões absolutas. O certo, na
sua avaliação, é que o regime de estabilidade que permitiu o surgimento da
agricultura e o agrupamento de populações humanas nos últimos 12 mil anos está
ameaçado. “Toda a civilização que nós conhecemos nos últimos 10 mil anos
dependeu da agricultura que dependeu dessa estabilidade climática”, sublinhou.
Celeridade
Apesar das incertezas
quanto às projeções, Nobre ressaltou que as observações dos últimos anos
mostraram que os impactos estão acontecendo com mais celeridade do que se
imaginava. Há 20 anos, explicou o pesquisador, as previsões eram de que os
extremos climáticos começariam a ficar muito intensos e mais frequentes a
partir de 2040 ou no século 22.
Nesse sentido, Carlos
Nobre citou o lançamento de dois estudos na agência espacial norte-americana
(Nasa), que trazem novas previsões para a Antártica
Ocidental, considerada há dez anos como um dos lugares mais estáveis do mundo.
Os estudos desafiam esse postulado dos grandes mantos de gelo estáveis ao
mostrar a instabilidade e a possibilidade de esses blocos caírem no oceano numa
escala de tempo de 200 a 300 anos.
“Isso pode
representar o aumento do nível do mar de alguns metros. Essas são as surpresas
das quais não se falava há 20 anos”, comentou. “De fato, a manifestação dos
extremos climáticos, principalmente aqueles decorrentes da mudança climática e
do aquecimento global, estão se manifestando. Esse é um aspecto muito
importante que deve nortear o debate sobre adaptação”, defendeu.
O climatologista
destacou, ainda, eventos extremos históricos registrados recentemente no Brasil
num intervalo de cerca de 120 anos. No caso do Nordeste, duas secas
consecutivas – em 2012 e em 2013. “Então esse é um extremo e todos os cenários
climáticos disponíveis hoje indicam que no futuro, talvez o futuro já tenha
chegado, as secas no Semiárido se tornarão mais intensas e mais frequentes.”
Na Amazônia, entre
2005 e 2014, foram registradas duas secas históricas e as três maiores
enchentes em 2009, 2012 e 2004. “O IPCC no seu relatório, lançado em março, diz
que o regime da Amazônia está alterado e isso é devido às mudanças climáticas.
Então a região tem que se preparar para conviver com essa situação”, frisou.
Estratégia
Para Nobre, se as
mudanças climáticas estão acontecendo mais rapidamente, é preciso também mudar
a estratégia de adaptação tendo como foco políticas públicas – especialmente no
Brasil, onde a discussão ficou muito centrada em mitigação, inclusive com
protagonismo e avanços a partir da redução do desmatamento. Por outro lado, a
ciência brasileira, comentou, tem dado a sua contribuição. Como exemplo, ele
lembrou a criação da Rede Clima, em 2008, pelo MCTI. “A rede, que agrega todos
os aspectos de mudanças climáticas, foi muito na direção de adaptação”.
Participaram do
debate o presidente da comissão mista do Senado, Alfredo Sirkis (PSD-RJ), e os
representantes do Ministério do Meio Ambiente, Thiago Mendes, da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Gustavo Mozzer, e da Secretaria
de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Sergio Margulis.
(ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário