‘Ex- represa’ deixa órfãos pelas margens
Vizinho da Represa Jaguari, morador estoca água da chuva para não deixar
a família na seca.
Às margens do que
até pouco tempo atrás era a principal fonte de abastecimento de água no Estado,
o aposentado José Maurício de Oliveira, de 65 anos, simboliza a contradição da
crise do Sistema Cantareira. Enquanto a vizinha Represa Jaguari se prepara para
a captação do “volume morto” para encher caixas d’água em cidades a 100
quilômetros de sua casa, ele estoca água da chuva para não deixar a família na
seca.
Ao lado da represa, José capta água da chuva
“É triste deixar
chegar a esse ponto. Montei essas duas caixas de mil litros para usar água da
chuva para lavar a casa e a roupa e vou de caminhão buscar 4 mil litros toda
semana no poço de um amigo a 6 quilômetros daqui”, contou Oliveira, que mora em
Joanópolis, a 112 quilômetros da capital, com a mulher, a filha e dois netos.
A estiagem sem
precedentes também secou a principal fonte de renda do pescador Ernane da
Silva, de 59 anos. “Essa seca acabou comigo. Eu tirava até R$ 1 mil pescando e
agora dependo só da aposentadoria. Meu barco está encostado desde fevereiro.
Não tem mais onde pescar”, disse.
Suspiro. Entre os
órfãos da Jaguari, há, porém, ainda quem consiga aproveitar as últimas gotas da
represa para garantir o sustento. Com uma queda na demanda por turistas tão
crítica quanto a do nível dos reservatórios, a pousada onde trabalha Jonatas de
Aguiar Cunha, de 30 anos, sobrevive com a hospedagem dos operários da obra
contratada pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp)
para captar a água do “volume morto”.
“Já faz seis meses
que o movimento vem caindo, assim como a represa. A nossa sorte é que a obra da
Sabesp é aqui em frente e eles fecharam um pacote de hospedagem com a gente. O
problema é que ela já está acabando e não sei como vai ficar depois. A represa
era o nosso maior atrativo. As pessoas vinham aqui para andar de barco e de
caiaque. Até o fim do ano, dava para ir remando até lá”, disse Cunha, apontando
para o canteiro de obras a 500 metros da pousada. (OESP)
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