“It has
taken between 50-300 million years to form, and yet we have managed to burn
roughly half of all global oil reserves in merely 125 years or so”. http://www.oildecline.com/
“It took us
125 years to use the first trillion barrels of oil. We’ll use the next trillion
in 30”. Cambridge Energy Research Associates
A Arábia Saudita está planejando construir o edifício mais alto do
mundo, com um quilômetro de altura. Se for realmente construído e concluído, o
Kingdom Tower será 173 metros mais alto do que o atual prédio mais alto do
mundo, o Burj Khalifa, que fica em Dubai.
A torre de 200 andares deverá custar pelo menos US$ 1,23 bilhão, devendo
exigir 80.000 toneladas de aço e a capacidade de bombear 500 mil m3 de
concreto a 1 km de altura. Os desafios da engenharia são enormes. Mas a Arábia
Saudita tem planos de ampliar e construir novas cidades que terão uma população
de quatro a cinco milhões de habitantes, requerendo um investimento de US$ 60
bilhões. Cada cidade ficará localizada em uma área do país para desenvolver
suas regiões – Rabigh, Hail, Medina e Jazan. Por exemplo, a Cidade Econômica
King Abdullah (nome inspirado no rei saudita) pretende abarcar 2 milhões de
pessoas e tem conclusão prevista para 2020. Vale dizer que a Arábia Saudita já
tem o segundo prédio mais alto do mundo, o Makkah Royal Clock Tower Hotel, com
601 metros de altura (o prédio mais alto do Brasil, com 51 andares, tem 170
metros).
Aproveitando a riqueza gerada pela exportação da energia fóssil
acumulada durante milhões de anos, a Arábia Saudita teve um dos maiores
crescimentos demográficos e econômicos do mundo. A população era de 3,1 milhões
de habitantes em 1950 e passou para 27,5 milhões de habitantes em 2010. A
divisão de população da ONU estima, na projeção média, um volume populacional
de 45 milhões em 2050 (crescimento de 15 vezes em 100 anos). Contrastando com o
estilo de vida beduína, a sociedade saudita adotou um alto padrão de vida e
consumo, construído em cima da aridez do deserto, o que só foi garantido pela
existência dos combustíveis fósseis. As divergências internas na elite política
e econômica do país foram amenizadas.
Assim, a pegada ecológica per capita do país chegou a 3,39 hectares
globais (gha) em 2008, para uma biocapacidade per capita de apenas 0,65 gha, de
acordo com o relatório Planeta Vivo, da WWF. Portanto, o país possui um dos
maiores déficits ambiental do mundo. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)
passou de 0,65 em 1980 para 0,77 em 2010.
Portanto, os dados mostram que a Arábia Saudita teve um grande
crescimento demoeconômico e tudo isto ocorreu às custas do petróleo e do gás.
Esta riqueza, contudo, é finita e já tem prazo para acabar. O mais provável é
que a Arábia Saudita passe por enormes dificuldades quando a riqueza fóssil se
esgotar, especialmente se não fizer os investimentos necessários para mudar sua
base produtiva e educacional para uma situação pós-petróleo. Noventa por cento
das exportações sauditas são de petróleo e produtos derivados e o país é
totalmente dependente destas exportações para importar a maior parte dos
alimentos e bens de consumo.
Desta forma, fica claro que a Arábia Saudita montou um modelo de
sociedade de alto consumo e baixa capacidade autônoma de produção. O problema é
que 90% da extração de hidrocarbonetos vem de apenas 5 mega-campos, que estão
todos em risco de colapso de produção, segundo o site Oil Decline. Durante
anos, a Aramco, a companhia petrolífera saudita, usou técnicas de recuperação
secundária por injeção de enormes quantidades de água do mar (7 milhões de
barris por dia) em seu maior campo para aumentar a produção. Estes métodos têm
efeitos meramente temporários, e levar a taxas aceleradas de esgotamento no
futuro. Isto vai provocar uma divisão política e econômica no país e tenderá a
incentivar manifestações populares.
Matt Simmons, no livro “Twilight in the Desert”, considera que a Arábia
Saudita em breve atingirá o pico do petróleo e depois que sua produção vai
diminuir e o mundo vai ser confrontado com uma escassez catastrófica de óleo. A
base factual do livro tem mais de 200 trabalhos técnicos publicados nos últimos
20 anos, que mostram problemas com poços particulares ou campos específicos, e
que demonstram coletivamente que todo o sistema do petróleo saudita é “velho e
desgastado” com reservas deliberadamente superestimadas.
No final de 2009, a universidade da empresa Kuwait Oil Kuwait elaborou
um estudo para prever a tendência de produção de petróleo e com base em modelos
estatísticos sofisticados estimou o pico para 2014. Outras estimativas variam
entre 2015 e 2020. O que é certo é que a produção mundial de combustíveis
fósseis vai entrar em um declínio permanente ainda na atual geração.
Reportagem da Bloomberg mostra que a Arábia Saudita, maior exportador de
petróleo do mundo, corre o risco de se tornar um importador de petróleo nos
próximos 20 anos. Isto porque, o petróleo e seus derivados são usados ??para
atender uma demanda interna crescente, que aumenta em cerca de 8% ao ano (nesta
taxa o consumo dobra em menos de 10 anos e quadruplica em menos de 20 anos),
para sustentar o maior consumo populacional per capita do mundo, inclusive
superando as nações mais industrializadas. Para a Bloomberg, a solução parcial
deveria ser a retirada dos subsídios que mantêm a energia muito barata e o
desperdício muito alto. Se o consumo de combustíveis fósseis se multiplicar por
4 nos próximos 20 anos e a produção cair, a Arábia Saudita vai enfrentar
grandes dificuldades. O mundo industrializado também sofrerá com a escassez de
petróleo disponível.
O fim das receitas de exportação geraria um caos social na Arábia
Saudita e tenderia a espalhar as manifestações populares e as divisões
políticas na elite no poder. Segundo Immanuel Wallerstein: “O fato é que o regime
saudita esconde poeira debaixo do tapete. A elite interna está mudando da
chamada segunda geração, dos filhos de Ibn Saud (os poucos filhos sobreviventes
estão bem idosos), para os netos. Eles são um grupo grande e inexperiente, que
pode ajudar a derrubar a casa real devido à competição pelos espólios, que
ainda são consideráveis”.
As ambições imperiais da Arábia Saudita são muito altas e infinitas, mas
dependem de um combustível que não é renovável, finito e tende a chegar a um
pico em breve, para depois iniciar o declínio. Não será fácil para a Arábia
Saudita manter as suas cidades, seus enormes edifícios e o alto padrão de
consumo importado, depois que houver a depleção dos seus campos de petróleo.
(ecodebate)
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