quinta-feira, 5 de junho de 2014

Dia Mundial do Meio Ambiente no Brasil: e aí, vai comemorar o que?

A jornalista e gestora ambiental Marcia Pimenta pensou em fazer uma lista com o que não temos a comemorar no Brasil no Dia Mundial do Meio Ambiente. E fez, só não achou que seria tão difícil. Para quem escreve sobre sustentabilidade, basta sentar um bocadinho, puxar da memória, consultar os arquivos. A dificuldade é ter muitas questões a listar, opções demais. A lista da Pimenta é também o cardápio do dia no que se refere a governança ambiental em nosso país.
# A imobilidade urbana, que mobilizou os brasileiros em protestos contra aumento de passagens e péssimos serviços ano passado, o incentivo para venda de carros.
# A crise do sistema Cantareira, em São Paulo, o aumento das disputas por recursos hídricos no país, a poluição das águas, a falta de saneamento básico.
# O risco de apagão, a demagogia da redução da conta de luz e o aumento que virá em 2015, o recorde no uso de termelétricas, mais caras e mais poluentes, a energia eólica instalada e sem distribuição.
# A liderança absoluta no uso de agrotóxicos nas lavouras de alimentos, as substâncias proibidas em outros países e ainda usadas aqui, a não identificação dos produtos cultivados no encharque de agrotóxicos.
# A falta de diálogo com os índios, que esperam acordos [firmados e não cumpridos], que querem o cumprimento da Constituição Federal por aqueles que deveriam respeitá-la por conduta.
# As grandes obras, os enormes impactos ambientais, os licenciamentos contestados, as ações da Justiça para suspensão ou cumprimento das leis, as compensações não cumpridas, as populações ignoradas.
# Mais de mil espécies da fauna brasileira correndo risco de extinção, botos sendo mortos na Baía de Guanabara e nos rios da Amazônia.
# Desmatamento.
# Mata Atlântica, uns dos biomas mais ameaçados de extinção no mundo, continua sendo devastada [perda de 23.948 hectares de vegetação nativa em 2013].
# Seca violenta no sertão, transposição do São Francisco atrasada, água contaminada em caminhões de combustível “convertidos” em carros pipa, pessoas morrendo com a “indústria” da seca.
# Lixões disfarçados de aterros sanitários proliferando na obrigação da lei.
As questões incomemoráveis não acabam. Ainda que tenhamos várias iniciativas de sucesso, empreendidas por governos, empresas, ONGs, cidadãos, essa lista aponta para a governança ambiental em nosso país, que está frouxa, carecida de comandos técnicos e de um choque de visão estratégica no sentido da sustentabilidade. Estamos nos atrasando para o presente que podemos construir, de cidadania e civilidade, liderados por quem tem o poder de decidir em nosso nome pelo crescimento econômico custe o que custar.
Então, celebramos o José Dias, um camarada de valor que promove a construção de cisternas e ações para o desenvolvimento comunitário no sertão brasileiro. Celebramos a Liliana Peixinho, que estopora o carro para ir ao sertão e nos contar as histórias de bravura dos sertanejos. Celebramos quem toca ações locais. Celebramos os pioneiros ambientalistas, jornalistas, ecologistas, os cultivadores de orgânicos, amantes da natureza. Celebramos a ousadia que os líderes mundiais ainda terão, de mudar paradigmas, de desfazer a lógica da sociedade de consumo [compulsiva]. E celebramos, especialmente, que sustentabilidade está em nós, no nosso livre arbítrio, em nossa capacidade ímpar de pensar e escolher, e nos ajuda a entender que fazemos o Dia do Meio Ambiente valer todos os dias. Só que não podemos deixar de refletir sobre o que não temos a comemorar no Brasil e o porquê de ser assim. (ecodebate)

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