A jornalista e
gestora ambiental Marcia Pimenta pensou em fazer uma lista com o que não temos
a comemorar no Brasil no Dia Mundial do Meio Ambiente. E fez, só não achou que
seria tão difícil. Para quem escreve sobre sustentabilidade, basta sentar um
bocadinho, puxar da memória, consultar os arquivos. A dificuldade é ter muitas
questões a listar, opções demais. A lista da Pimenta é também o cardápio do dia
no que se refere a governança ambiental em nosso país.
# A imobilidade
urbana, que mobilizou os brasileiros em protestos contra aumento de passagens e
péssimos serviços ano passado, o incentivo para venda de carros.
# A crise do sistema
Cantareira, em São Paulo, o aumento das disputas por recursos hídricos no país,
a poluição das águas, a falta de saneamento básico.
# O risco de apagão,
a demagogia da redução da conta de luz e o aumento que virá em 2015, o recorde
no uso de termelétricas, mais caras e mais poluentes, a energia eólica
instalada e sem distribuição.
# A liderança
absoluta no uso de agrotóxicos nas lavouras de alimentos, as substâncias
proibidas em outros países e ainda usadas aqui, a não identificação dos
produtos cultivados no encharque de agrotóxicos.
# A falta de diálogo
com os índios, que esperam acordos [firmados e não cumpridos], que querem o
cumprimento da Constituição Federal por aqueles que deveriam respeitá-la por
conduta.
# As grandes obras,
os enormes impactos ambientais, os licenciamentos contestados, as ações da
Justiça para suspensão ou cumprimento das leis, as compensações não cumpridas,
as populações ignoradas.
# Mais de mil
espécies da fauna brasileira correndo risco de extinção, botos sendo mortos na
Baía de Guanabara e nos rios da Amazônia.
# Desmatamento.
# Mata Atlântica, uns
dos biomas mais ameaçados de extinção no mundo, continua sendo devastada [perda
de 23.948 hectares de vegetação nativa em 2013].
# Seca violenta no sertão,
transposição do São Francisco atrasada, água contaminada em caminhões de
combustível “convertidos” em carros pipa, pessoas morrendo com a “indústria” da
seca.
# Lixões disfarçados
de aterros sanitários proliferando na obrigação da lei.
As questões incomemoráveis
não acabam. Ainda que tenhamos várias iniciativas de sucesso, empreendidas por
governos, empresas, ONGs, cidadãos, essa lista aponta para a governança
ambiental em nosso país, que está frouxa, carecida de comandos técnicos e de um
choque de visão estratégica no sentido da sustentabilidade. Estamos nos
atrasando para o presente que podemos construir, de cidadania e civilidade,
liderados por quem tem o poder de decidir em nosso nome pelo crescimento
econômico custe o que custar.
Então, celebramos o
José Dias, um camarada de valor que promove a construção de cisternas e ações
para o desenvolvimento comunitário no sertão brasileiro. Celebramos a Liliana
Peixinho, que estopora
o carro para ir ao sertão e nos contar as histórias de bravura dos sertanejos.
Celebramos quem toca ações locais. Celebramos os pioneiros ambientalistas,
jornalistas, ecologistas, os cultivadores de orgânicos, amantes da natureza.
Celebramos a ousadia que os líderes mundiais ainda terão, de mudar paradigmas,
de desfazer a lógica da sociedade de consumo [compulsiva]. E celebramos,
especialmente, que sustentabilidade está em nós, no nosso livre arbítrio, em
nossa capacidade ímpar de pensar e escolher, e nos ajuda a entender que fazemos
o Dia do Meio Ambiente valer todos os dias. Só que não podemos deixar de
refletir sobre o que não temos a comemorar no Brasil e o porquê de ser assim.
(ecodebate)
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