Datas comemorativas,
como o próprio nome diz, existem para celebrar e estimular novas conquistas.
Confesso que tive dificuldades em enumerar conquistas no que se refere ao meio
ambiente no Brasil, pois os retrocessos são enormes. Quem luta pelas questões
socioambientais, luta para não cair no pessimismo e busca transformar
indignação em ação.
No ano passado, a
sociedade foi às ruas por melhores condições de transporte. A perda de
qualidade de vida com os engarrafamentos, que paralisam as grandes cidades, traduz-se
em perda de tempo e produtividade, problemas respiratórios devido à poluição,
impermeabilização do solo e menos espaço para o lazer dos cidadãos. O esforço
da sociedade culminou com a proposta do governo federal de aplicar R$ 50
bilhões do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC em mobilidade urbana. A
imobilidade dos tomadores de decisão fez com que a proposta não saísse do
papel. Totalmente na contramão da ambição da sociedade, o governo planeja
diminuir impostos para estimular a venda de carros, enquanto a tributação sobre
as bicicletas faz com que as “magrelas” brasileiras sejam umas das mais caras
do mundo.
Enquanto isso, o
mundo aquece. O 5º relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas lançado em março adverte: o impacto do aquecimento global será
“grave, abrangente e irreversível”. Impacto nas colheitas, aumento de desastres
devidos aos fenômenos climáticos extremos, como enchentes e as secas que afetam
a disponibilidade de água para milhões de pessoas. Essas previsões não
acontecerão num futuro remoto. Elas já estão presentes.
O noticiário nacional
se transformou num boletim ambiental e você nem reparou. As regiões CO e SE
foram duramente impactadas pelo desequilíbrio do regime de chuvas. A floresta
amazônica, responsável pela formação dos rios voadores que trazem a umidade
para estas regiões, impactada pelo desmatamento para dar lugar a soja e à pata
do boi, não consegue mais dar conta dessa função. O impacto constelou para a
sociedade em forma de falta d’água na região mais rica do país, São Paulo. O
Sistema Cantareira alcançou o nível mais baixo da sua história, deixando os
paulistas sem água para consumo e prejudicando atividades produtivas.
O sistema de
abastecimento de energia do país foi afetado, pois 65% da energia gerada no
país são de fonte hidrelétrica. A falta de planejamento e investimento em
energias renováveis fez com que o governo federal lançasse mão das
termelétricas, muito mais poluentes e caras. Adivinha quem vai pagar essa
conta?
Nossos tomadores de decisão
não fizeram o nexo causal. Pelo contrário: aumenta a pressão desenvolvimentista
sobre as Unidades de Conservação – UCs. Nos últimos anos perdemos 5,2 milhões
de hectares das UCs e apenas duas novas foram criadas. Os índios, guardiões de
nossas florestas biodiversas, têm sido alvo de ataques sistemáticos de setores
produtivos, como mineração e agropecuária, de olho em mais terras para expansão
de suas atividades. E não é só isso, mais de mil espécies da fauna brasileira
correm risco de extinção.
Embora haja um
consenso mundial de que a degradação ambiental é um sério impedimento para
qualquer projeto de desenvolvimento econômico ou social, para alguns políticos,
empresários e ruralistas, a preocupação ambiental é uma conspiração para
impedir o país de crescer. Afinal, todo mundo sabe que para crescer é preciso
destruir a natureza!
No Brasil este embate
de forças têm gerado inúmeros conflitos e um preocupante ranking mundial: o
país é campeão em mortes de ambientalistas em defesa de suas causas, em comparação
com os demais países. O que vamos comemorar? (ecodebate)

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