A Europa tinha uma
densidade demográfica maior do que a África. Mas isto mudou no século XXI,
pois, em 2010, a África (34 hab/km2) ultrapassou a densidade
demográfica da Europa (32 hab/km2). Em 2100, na projeção média de
fecundidade, a densidade demográfica da África deve passar para (138 hab/km2)
contra (28 hab/km2) da Europa, quase 5 vezes maior.
A Holanda e Ruanda
são dois países representativos destas novas tendências demográficas. A Holanda
se desenvolveu em uma época que havia superávit ambiental no mundo. O avanço no
desenvolvimento humano holandês pode contar com a disponibilidade de recursos
naturais de outros países do globo e a alta densidade demográfica não foi
obstáculo para a melhoria da qualidade de vida.
Já Ruanda tinha uma
densidade demográfica relativamente baixa em 1950, mas o alto crescimento
populacional mudou rapidamente esta situação, mesmo depois do grave genocídio
ocorrido em meados dos anos 1990. Alguns autores, como Jared Diamond,
argumentam que a alta densidade acirrou a competição pela posse da terra e foi
um dos fatores que provocou a guerra civil que desaguou no genocídio de 1994 e
que agora completa 20 anos.
Porém, passado o
efeito da queda populacional provocado pela mortalidade, o ritmo de crescimento
demográfico voltou a crescer e Ruanda deve atingir uma densidade de cerca de
1.400 habitantes por km2 em 2100, no caso da hipótese média de
fecundidade, ou de 800 habitantes por km2 em 2100, no caso das taxas
de fecundidade caírem em ritmo mais acelerado. Mesmo nesta segunda hipótese, a
densidade demográfica será o dobro da densidade holandesa.
Mas Ruanda vai
enfrentar uma alta densidade demográfica em uma conjuntura de menor crescimento
econômico internacional e mais alto déficit ambiental. O déficit holandês é
grande, pois o país tinha, em 2008, uma pegada ecológica per capita de 6,34
hectares globais (gha) para uma biocapacidade per capita de somente 1,03 gha.
Todavia, Ruanda também possuía déficit, pois mesmo tempo uma pegada ecológica
baixa (de 0,71 gha) tinha uma biocapacidade per capita de somente 0,52 gha. Com
o crescimento populacional a biocapacidade per capita de Ruanda pode chegar a
meros 0,16 gha em 2100.
Para enfrentar os
desafios atuais e futuros de Ruanda, o presidente Paul Kagame tem tomado uma
série de medidas. Por exemplo, Ruanda é o único país do mundo em que a
participação das mulheres na política supera a dos pares masculinos. A
fecundidade caiu de 6 filhos por mulher para 4,6 filhos entre 2005 e 2010.
Kagame participou da Cúpula do Planejamento Familiar, em Londres, em 2012 e tem
buscado ajuda externa para reduzir a pobreza e defender o meio ambiente,
inclusive protegendo a população de Gorilas, que vivem no pouco que resta das
montanhas verdes do país.
Enquanto a Holanda
tem o desafio de promover o decrescimento demoeconômico, Ruanda vai ter que
enfrentar a dupla tarefa de reduzir a pobreza e defender o meio ambiente, ao
mesmo tempo, na perspectiva de elevação do índice de desenvolvimento humano
(IDH) com respeito à biodiversidade. Ao contrário do que supunha Ester Boserup,
a alta densidade demográfica de Ruanda, no atual contexto de uma economia
globalizada, pode se tornar um fator de freio ao desenvolvimento sustentável e
um elemento de instabilidade social e política. Mas com sabedoria e coesão
social Ruanda poderá trilhar, mesmo com dificuldades, o caminho do progresso
social e ambiental. Para tanto, vai precisar da ajuda internacional e da
solidariedade entre os povos. (ecodebate)
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