A densidade
demográfica de um país não é um bom indicador de desenvolvimento humano e
econômico. Podemos encontrar países altamente desenvolvidos com baixa e alta
densidade e países muito pobres com baixa e alta densidade demográfica.
Alguns países com
alta densidade demográfica (como Japão, Coreia do Sul, Singapura, Holanda, etc)
possuem alto índice de desenvolvimento humano (IDH). Mas também há aqueles com
alto nível de IDH e baixíssima densidade demográfica (como Canadá, Austrália,
etc.). De outro lado, existem países com baixa densidade demográfica e baixo
IDH (como Angola, Gabão, Mauritânia, etc), assim como países com alta densidade
demográfica e baixo IDH (Bangladesh, Índia, Ruanda, etc.).
Tratando desse assunto,
o famoso sociólogo polonês Zygmunt Bauman deu uma entrevista à jornalista
mexicana Citlali Rovirosa-Madrazo, publicado no jornal La Republica
(15/03/2011). Bauman parte da seguinte frase: “Eles são sempre muitos. ‘Eles’
são aqueles que deveriam ser menos ou, ainda melhor, não ser, justamente. Ao
contrário, nós nunca somos o suficiente. De ‘nós’, deveria haver sempre mais”.
Criticando Paul e Ann
Ehrlich – alarmistas da superpopulação – o sociólogo polonês busca inverter a
dicotomia dizendo que existem poucos pobres (porque a densidade populacional da
África é baixa) e existem “muitos ricos”, porque a densidade da Europa é alta e
os ricos possuem alto consumo. Para Bauman deveria haver decrescimento dos
países ricos e crescimento da população dos países pobres.
Porém, esta forma de
abordar a questão pode ser considerada simplista, pois apenas inverte a lógica
das premissas da “bomba populacional” de Paul Ehrlich. Mas para combater a
escatologia dos controlistas não é necessário ser inconsequentemente pró-natalista.
De fato, o maior
impacto ambiental do passado foi provocado pelos países ricos que concentravam
a maior parte da produção e do consumo de bens e serviços do mundo. Porém, o
PIB dos países em desenvolvimento ultrapassou o PIB dos países desenvolvidos
(em poder de paridade de compra – ppp) em 2013. As chamadas economias
emergentes devem ultrapassar os países desenvolvidos em 2017, segundo o FMI,
sendo que neste mesmo ano o PIB do E7 (China, Índia, Brasil, Rússia, México,
Indonésia e Turquia) será maior do que o PIB do G7 (EUA, Japão, Alemanha,
França, Reino Unido, Itália e Canadá). A tendência é que a maior parte da
produção mundial esteja nos países que possuem a maior parte da população
mundial. Desta forma, o impacto ambiental dos países de renda média e baixa vai
ser cada vez maior ao longo do século XXI.
Em 1950, a densidade
demográfica da África (8 hab/km2) era 3 vezes menor do que a da
Europa (24 hab/km2). Em 2010, a África (34 hab/km2)
ultrapassou a densidade demográfica da Europa (32 hab/km2). Em 2100,
na projeção média de fecundidade, a densidade demográfica da África deve passar
para (138 hab/km2) contra (28 hab/km2) da Europa, quase 5
vezes maior. No século XXII a densidade demográfica da África deve ultrapassar
a da Ásia.
Em termos ambientais,
a alta densidade da população humana tem impactos muito negativos para os
ecossistemas e a biodiversidade. Enquanto as atividades antrópicas se espalham,
a vida selvagem está diminuindo e inúmeras espécies estão desaparecendo.
Evidentemente, não se pode culpar simplesmente as populações pobres pelo
desastre ecológico. A concentração de renda e o consumo conspícuo tem papel
central na degradação do meio ambiente. Mas não se deve ignorar que o
crescimento populacional mundial serve de estímulo para a crescente produção de
bens e serviços e tem ocorrido em detrimento da biodiversidade.
As fronteiras
planetárias estão sendo ultrapassadas. A Pegada Ecológica global é 50% maior do
que a biocapacidade. A questão de densidade não é só econômica, mas também ecológica.
Segundo o Relatório Planeta Vivo, da WWF, com dados de 2008, as atividades
antrópicas já haviam ultrapassado a biocapacidade da Terra, que é de 12 bilhões
de hectares globais (gha). A Pegada Ecológica da humanidade atingiu 2,7 gha por
pessoa para uma população de 6,75 bilhões de habitantes em 2008. Isto significa
que a humanidade já estava utilizando 18 bilhões de gha, com uma taxa de
exploração maior do que a taxa de regeneração do Planeta.
A pegada ecológica
per capita dos países de alta renda (desenvolvidos) foi de 5,6 gha, em 2008,
para uma população de 1,037 bilhão de habitantes, o que representava uma pegada
total de 5,768 gha. Eliminando-se a pegada total dos países ricos o déficit
ecológico global diminuiria muito, mas, mesmo assim, haveria um déficit, ainda
que menor, para o restante dos habitantes do mundo, com uma pegada ecológica
total de 12,2 bilhões de gha. Portanto, mesmo eliminando-se os impactos
negativos dos países ricos, o restante do mundo viveria acima da capacidade de
suporte (biocapacidade) da Terra.
Ou seja, os 5,6
bilhões de habitantes dos países de renda baixa e de renda média (países em
desenvolvimento), em 2008, tinham uma pegada ecológica total de 12,2 bilhões de
hectares globais (gha), superior à capacidade de carga (biocapacidade) do
Planeta. Desta forma, mesmo em uma situação hipotética em que os países ricos
chegassem a zero em sua pegada ecológica, ainda assim o mundo estaria com
problema ambiental e com uma Pegada Ecológica acima da Biocapacidade. E o pior
é que os países do chamado “sul global” continuam com população em crescimento
e com um modelo econômico que mimetiza o que tem de pior nos países
desenvolvidos.
Desta forma, mesmo
eliminando os países ricos do cálculo da Pegada Ecológica mundial as atividades
antrópicas do resto da população do globo continuam superiores à capacidade de
regeneração da biosfera. Estes cálculos não tiram as responsabilidades dos
países desenvolvidos como os maiores poluidores do Planeta. Apenas mostram a
real dimensão dos problemas causados pelos tamanhos do consumo e da população.
Mesmo países com baixa pegada ecológica, como Paquistão e Bangladesh, possuem
grande déficit ambiental, pois a biocapacidade per capita é muito baixa, uma
vez que são países com alta densidade demográfica e baixa disponibilidade de
recursos naturais.
O desafio para as
próximas décadas será recuperar e ampliar as áreas selvagens do mundo,
diminuindo a densidade humana e a pegada ecológica e aumentando a densidade das
outras espécies animais e vegetais. É preciso diminuir a densidade das áreas
ecúmenas e das espécies que degradam a natureza e aumentar a densidade das
espécies que possuem uma relação simbiótica com o meio ambiente. (ecodebate)
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