Relatório da ONU alerta para vulnerabilidade climática e
novas ameaças às pequenas nações insulares
Documento do PNUMA é apresentado junto a estudo sobre
Economia Verde em Barbados para o Dia Mundial do Meio Ambiente.
O aumento do nível
dos mares nos 52 pequenos estados insulares – quatro vezes maior que a média
mundial – causado pelas mudanças do clima é a maior ameaça a essas nações, seu
meio ambiente e seu desenvolvimento.
Políticas e
investimentos em energias renováveis e na transição para uma Economia Verde, no
entanto, podem mudar esse cenário, conclui relatório do Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) lançado no Dia Mundial do Meio
Ambiente – 5 de junho.
As comemorações do
PNUMA acontecem este ano em Barbados, no Caribe, e têm como tema os pequenos
estados insulares em desenvolvimento (SIDS, na sigla em inglês) e as mudanças
climáticas.
Em todos os SIDS, as
barreiras de coral são gravemente impactadas pelo aumento da temperatura das
águas. A perda global dos recifes de coral – cerca de 34 milhões de hectares
nas últimas duas décadas – significam uma perda financeira de 11,9 trilhões de
dólares, segundo o estudo do PNUMA.
No Caribe, muitas
áreas estão com seus recifes totalmente afetados pelo branqueamento. Uma
projeção aponta que 90% dos corais da região serão impactados pelo
branqueamento até 2030, chegando a 100% em 2050.
O “Relatório de
Previsão para SIDS” identifica os impactos das mudanças do clima e o aumento do
nível do mar como a grande preocupação entre 20 questões emergenciais de meio
ambiente para os estados insulares, incluindo o estreitamento das regiões
costeiras, a invasão de espécies alienígenas e a contaminação por resíduos
químicos.
“A Rio+20 mostrou que
os SIDS têm vulnerabilidades únicas e requerem uma atenção especial. São 52
países que abrigam 62 milhões de pessoas e emitem menos de 1% dos gases de
efeito estufa, mas sofrem diretamente os efeitos das emissões globais. Os dois
relatórios mostram que temos ferramentas e a capacidade de superar os
contratempos do desenvolvimento. É dever da comunidade internacional apoiar
essas nações e aprovar um acordo climático robusto, que corte emissões e reduza
o risco aos SIDS”, afirma o subsecretário-geral da ONU e diretor executivo do
PNUMA, Achim Steiner.
O estudo alerta para
a magnitude e a ocorrência de desastres naturais relacionados ao clima, que se
tornarão mais frequentes. Isto levará a impactos desproporcionais que afetarão
múltiplos setores das ilhas – do turismo, agricultura e pesca a energia, acesso
à água potável e infraestrutura – a não ser que políticas que favoreçam a
Economia Verde sejam postas em prática.
O cenário também
demonstra que os SIDS podem fazer a transição para uma Economia Verde inclusiva
e garantir um futuro sustentável apostando em energias renováveis, na
exploração sustentável de recursos inexplorados, no desenvolvimento de uma
Economia Verde com base nos oceanos e na criação de novos indicadores econômico
que levem em conta os recursos naturais.
Um segundo documento
lançado no Dia Mundial do Meio Ambiente, “Estudo da Economia Verde em
Barbados”, pode ser sintetizado como um guia prático para gestores públicos e
privados em como tornar mais sustentáveis turismo, agricultura, pesca,
construção e transporte em Barbados – lições que podem ser aplicadas pelos
demais SIDS.
“A Economia Verde é
particularmente importante em Barbados devido ao nosso compromisso nacional com
um desenvolvimento sustentável inclusivo, criando um país socialmente
equilibrado, viável economicamente e ambientalmente relevante. As propostas
desse documento não ficarão na prateleira: a transição pode ser observada com a
integração de premissas da Economia Verde na nova Estratégia de Desenvolvimento
e Crescimento de Barbados”, afirma o primeiro-ministro de Barbados, Freundel
Stuart.
Impactos das mudanças
climáticas
A vulnerabilidade dos
SIDS é potencializada por sua reduzida extensão territorial, população
concentrada e a grande dependência dos ecossistemas costeiros para alimentação,
subsistência e proteção contra eventos extremos. Entre as ameaças estão
inundações, erosões da costa, acidificação e aquecimento dos oceanos e eventos
extremos de clima.
Por exemplo, enquanto
o mar aumenta globalmente em media 3,2 mm por ano, na ilha de Kosrae, na
Micronésia, o aumento é de 10 mm anuais. O Pacífico Ocidental, onde dezenas de
pequenas ilhas estão localizadas, testemunhou o oceano aumentar em 12 mm por
ano entre 1993 e 2009, quatro vezes mais que a média mundial.
A pesca desempenha um
papel relevante para os SIDS, representando até 12% do PIB de alguns países. No
Pacífico, frutos do mar representam 90% da dieta de proteínas de algumas
populações. As mudanças climáticas podem se tornar um obstáculo para a nutrição
destas pessoas e no combate à pobreza.
O turismo, que
representa mais de 30% dos negócios com o exterior nos SIDS, também será
impactado. Por exemplo, um aumento de 50 cm no nível do mar fará com que
Granada perca 60% das suas praias. Há também os custos de adaptação: no modelo
atual, os gastos para se adaptar às mudanças climáticas é estimado pela Comunidade
Caribenha (Caricom) em 187 bilhões de dólares até 2080.
O relatório convoca a
comunidade internacional a tomar atitudes pela redução dos impactos negativos
das mudanças do clima, especialmente nos SIDS, e a adotar um acordo legalmente
vinculante que inclua metas ambiciosas para redução das emissões de gases de
efeito estufa.
Indicadores
apropriados
Uma questão
transversal identificada no estudo foi a necessidade do desenvolvimento de
novos indicadores de crescimento econômico, que incluam mudanças climáticas,
combate à pobreza, saúde e outras questões. Segundo o relatório, indicadores
baseados no PIB não consideram partes relevantes da economia de ilhas pequenas.
Há outros indicadores
disponíveis, mas seu uso ainda não é muito difundido. E, dada a particularidade
dos SIDS, é imperativo que indicadores de desenvolvimento sustentável sejam
aplicados, e que as pequenas nações insulares colaborem nessa definição.
Demais desafios e
oportunidades
O estudo atenta para
outros desafios e oportunidades, entre eles:
Energias renováveis
Mais de 90% da
energia usada nos SIDS é proveniente da importação de petróleo, custando caro e
deixando o preço da energia elétrica entre os mais altos do mundo – em alguns
casos, 500% a mais que nos Estados Unidos.
Ao mesmo tempo, uma
grande parcela da população não tem acesso à energia elétrica – 70% em algumas
ilhas do Pacífico.
Os SIDS contam com
uma grande oferta de energias renováveis, incluindo biomassa, ventos, sol,
ondas e energia hidro e geotérmica. Acelerar a exploração dessas fontes, com
base em políticas públicas e em parcerias público-privadas, representa uma
grande oportunidade de acesso a energia e para a redução dos custos.
O desafio é grande:
somente 3% da matriz energética caribenha é originária em fontes renováveis.
Recursos naturais
inexplorados
Há muitos recursos
inexplorados nas regiões dos SIDS, nas ilhas e em regiões submarinas. Entre as
opções estão minerais, produtos farmacêuticos, hidrocarbonetos, fontes de
energia renováveis e áreas de pesca.
Explorar essas novas
fronteiras é uma oportunidade econômica e social. Papua Nova Guiné explora o
manganês subaquático e outros elementos raros.
Os países insulares
têm a chance de definir novas formas sustentáveis de usar esses recursos. Para
implementá-las, no entanto, serão necessários estudos completos sobre seus
impactos e a definição de novas práticas que reduzam o impacto.
Economia Verde com
base nos mares
Para a maioria dos
SIDS, a transição para uma Economia Verde tem como base o mar, por conta de sua
relevância socioeconômica. Há muitos desafios práticos e políticos, e riscos
devem ser cientificamente analisados. Mas as soluções estão disponíveis para
que governos incentivem a transição.
O Relatório de
Previsão para SIDS é parte de um processo maior com participação do
Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU (UNDESA).
Uma sessão conjunto a
do UNDESA identificou 15 questões socioeconômicas que devem ser abordadas,
incluindo a diversificação das economias dos SIDS, novas maneiras de amortizar
dívidas e o futuro da segurança alimentar.
A exemplo de Barbados
Enquanto o Relatório
de Previsão para SIDS engloba diversas nações, o estudo sobre Economia Verde é
focado em Barbados, mas traz lições que podem ser usadas por outros países. A
análise mostra que a Economia Verde oferece oportunidades no manejo de capital
natural, diversificação da economia, criação de empregos verdes, aumento da
eficiência de recursos e combate à pobreza.
Há grande potencial
em Barbados: no setor energético, cerca de US$ 280 milhões podem ser
economizados até 2029 com um crescimento de 30% no uso de fontes renováveis já
difundidas no país.
Há oportunidades
ainda em:
Agricultura: a
indústria de derivados da cana de açúcar pode se tornar mais sustentável e
adotar a agricultura orgânica;
Pesca: o crescente
uso de tecnologias limpas, a conversão de sobras em fertilizantes, compostagem
e ração animal; e uma melhor colaboração com nações vizinhas em águas
transnacionais são oportunidades claras;
Construção: melhorar
a eficiência de recursos; a redução do desperdício e do uso de substâncias
tóxicas; aprimorar o uso eficiente da água e das técnicas sustentáveis são
bem-vindas;
Transporte: há a
possibilidade de criação de empregos verdes, em especial na manutenção de
veículos eficientes; da transferência de tecnologias; e na gestão de um sistema
público de transporte integrado;
Turismo: divulgar
Barbados como um destino sustentável e desenvolver o turismo histórico e rural,
em conjunto com parcerias em projetos de conservação marinha, podem fazer o
setor crescer ainda mais.
Sobre o Processo de
Previsão
Criado em 2012 pelo
PNUMA, o Processo de Previsão em Questões Ambientais Globais Emergentes
identifica emergências ambientais e suas possíveis soluções.
Em 2013, o PNUMA
promoveu um exercício similar para identificar prioridades dos SIDS.
O relatório,
produzido por um painel de 11 especialistas, apresenta o resultado do exercício
e é uma contribuição do PNUMA para a 3ª Conferência Internacional dos SIDS, que
acontece em Samoa em setembro.
Sobre o Dia Mundial do Meio Ambiente.
O Dia Mundial do Meio
Ambiente (DMMA) é o principal veículo das Nações Unidas dedicado a estimular
ação e conscientização global em prol do meio ambiente. A data tem crescido e
se tornado uma importante plataforma pública, celebrada amplamente por partes
interessadas em mais de 100 países.
Também serve como o
“dia das pessoas” para tomar uma atitude pelo meio ambiente, estimulando ações individuais
ou coletivas que causem um impacto positivo no planeta.
Em apoio à designação
pela ONU de 2014 como o Ano Internacional dos Pequenos Estados Insulares em
Desenvolvimento, o Dia Mundial do Meio Ambiente deste ano usará o mesmo tema,
com um foco especial na questão da mudança do clima. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário