A era da abundância de água parece estar com os dias
contados e gera novas oportunidades de negócios do reuso de recursos hídricos
ao aproveitamento da água do mar.
Já se fala em crise mundial de abastecimento de água há muitos anos. A
população do planeta segue crescendo (o número atingiu os 7 bilhões no final de
outubro). O enriquecimento dos países emergentes leva a mais consumo de
produtos e serviços - e quase nada acontece sem que uma fonte de água esteja
por perto. Peguemos o exemplo de um prosaico par de calças jeans da marca
Levis: ao longo de sua vida útil, da plantação do algodão às repetidas
lavagens, quase 3 500 litros de água serão consumidos. São dados assim que
fazem os especialistas especularem que, em poucas décadas, a água possa ser
alçada à condição de uma commodity como o petróleo, com preços regulados no
mercado internacional. Esse dia ainda pode estar distante, mas a ideia de dar
um preço à água começa a se sofisticar muito além da conta mensal que todos
conhecemos.
No Brasil, esse novo cenário começou a ganhar corpo com a cobrança pelo
uso dos recursos hídricos. A taxa foi instituída em 2001, inicialmente na bacia
do rio Paraíba do Sul, que abrange os estados de São Paulo e Rio de Janeiro.
Trata-se de uma nova modalidade de cobrança. O preço reflete o que os grandes
consumidores de água - como os produtores rurais, as indústrias e as
companhias de saneamento - pagam para captar e descartar a água nos rios.
Hoje, essa taxa é cobrada em 20 bacias hidrográficas em todo o país, atingindo
indiretamente o bolso de mais de 40 milhões de pessoas. Em 2010, a cobrança
pelo uso da água gerou uma arrecadação de 106 milhões de reais, recursos que
devem ser aplicados na despoluição e na melhoria das condições das bacias
hidrográficas.
De acordo com os princípios que orientaram a instituição da taxa, quanto
mais poluída é a água devolvida aos rios, maior é o valor cobrado, o que tem
levado os grandes consumidores a investir cada vez mais no tratamento, no reuso
e na gestão da água, um negócio globalmente em expansão. No final da década de
90, a Sabesp, companhia de água e saneamento controlada pelo governo de São
Paulo, passou a vender a água tratada de suas estações de tratamento de esgoto,
as ETEs, fornecendo 20.000 m3 mensais a uma fabricante de material
de costura. Na época, o segmento era quase irrelevante. Hoje, a Sabesp tem 53
clientes, entre empresas e prefeituras, que consomem 1,6 bilhão de litros de
água de reuso por ano em atividades como limpeza, irrigação de áreas verdes,
descargas sanitárias e processos industriais.
O negócio deve crescer de forma significativa em 2012, quando entra em
operação o projeto Aquapolo, uma associação entre a Sabesp e a Foz do Brasil,
empresa de tecnologia ambiental do grupo Odebrecht. Com investimentos de 364
milhões de reais, o projeto fornecerá água de reuso às indústrias do polo
petroquímico de Capuava, em Mauá, na região metropolitana de São Paulo. O
empreendimento prevê a construção de uma adutora de 17 quilômetros para levar a
água de reuso da estação de tratamento, localizada na divisa entre os
municípios de São Paulo e São Caetano do Sul, até o polo em Mauá. No total, o
Aquapolo deve produzir 1000 litros de água de reuso por segundo, dos quais 65%
já estão contratados por empresas petroquímicas. “Será um salto sem precedentes
nessa área, e esperamos fazer o mesmo com outras indústrias na região
metropolitana, diz Dilma Pena, presidente da Sabesp”.
A água é também uma nova fronteira de negócios para a Haztec, empresa carioca
que atua nas áreas de engenharia ambiental, resíduos sólidos, gestão de água e
efluentes. Seus primeiros projetos de reuso começaram há 20 anos, para empresas
de papel e celulose que buscavam economizar água em seus processos industriais,
e ganharam força com a cobrança da taxa de uso da água e com o maior rigor das
leis ambientais. (abril)
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