quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Líquida e incerta

A era da abundância de água parece estar com os dias contados e gera novas oportunidades de negócios do reuso de recursos hídricos ao aproveitamento da água do mar.
Já se fala em crise mundial de abastecimento de água há muitos anos. A população do planeta segue crescendo (o número atingiu os 7 bilhões no final de outubro). O enriquecimento dos países emergentes leva a mais consumo de produtos e serviços - e quase nada acontece sem que uma fonte de água esteja por perto. Peguemos o exemplo de um prosaico par de calças jeans da marca Levis: ao longo de sua vida útil, da plantação do algodão às repetidas lavagens, quase 3 500 litros de água serão consumidos. São dados assim que fazem os especialistas especularem que, em poucas décadas, a água possa ser alçada à condição de uma commodity como o petróleo, com preços regulados no mercado internacional. Esse dia ainda pode estar distante, mas a ideia de dar um preço à água começa a se sofisticar muito além da conta mensal que todos conhecemos.
No Brasil, esse novo cenário começou a ganhar corpo com a cobrança pelo uso dos recursos hídricos. A taxa foi instituída em 2001, inicialmente na bacia do rio Paraíba do Sul, que abrange os estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Trata-se de uma nova modalidade de cobrança. O preço reflete o que os grandes consumidores de água - como os produtores rurais, as indústrias e as companhias de saneamento - pagam para captar e descartar a água nos rios. Hoje, essa taxa é cobrada em 20 bacias hidrográficas em todo o país, atingindo indiretamente o bolso de mais de 40 milhões de pessoas. Em 2010, a cobrança pelo uso da água gerou uma arrecadação de 106 milhões de reais, recursos que devem ser aplicados na despoluição e na melhoria das condições das bacias hidrográficas.
De acordo com os princípios que orientaram a instituição da taxa, quanto mais poluída é a água devolvida aos rios, maior é o valor cobrado, o que tem levado os grandes consumidores a investir cada vez mais no tratamento, no reuso e na gestão da água, um negócio globalmente em expansão. No final da década de 90, a Sabesp, companhia de água e saneamento controlada pelo governo de São Paulo, passou a vender a água tratada de suas estações de tratamento de esgoto, as ETEs, fornecendo 20.000 m3 mensais a uma fabricante de material de costura. Na época, o segmento era quase irrelevante. Hoje, a Sabesp tem 53 clientes, entre empresas e prefeituras, que consomem 1,6 bilhão de litros de água de reuso por ano em atividades como limpeza, irrigação de áreas verdes, descargas sanitárias e processos industriais.
O negócio deve crescer de forma significativa em 2012, quando entra em operação o projeto Aquapolo, uma associação entre a Sabesp e a Foz do Brasil, empresa de tecnologia ambiental do grupo Odebrecht. Com investimentos de 364 milhões de reais, o projeto fornecerá água de reuso às indústrias do polo petroquímico de Capuava, em Mauá, na região metropolitana de São Paulo. O empreendimento prevê a construção de uma adutora de 17 quilômetros para levar a água de reuso da estação de tratamento, localizada na divisa entre os municípios de São Paulo e São Caetano do Sul, até o polo em Mauá. No total, o Aquapolo deve produzir 1000 litros de água de reuso por segundo, dos quais 65% já estão contratados por empresas petroquímicas. “Será um salto sem precedentes nessa área, e esperamos fazer o mesmo com outras indústrias na região metropolitana, diz Dilma Pena, presidente da Sabesp”.
A água é também uma nova fronteira de negócios para a Haztec, empresa carioca que atua nas áreas de engenharia ambiental, resíduos sólidos, gestão de água e efluentes. Seus primeiros projetos de reuso começaram há 20 anos, para empresas de papel e celulose que buscavam economizar água em seus processos industriais, e ganharam força com a cobrança da taxa de uso da água e com o maior rigor das leis ambientais. (abril)

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