quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Seca no Rio São Francisco gera queda no turismo

Seca no Rio São Francisco, em MG, gera queda de até 80% no turismo
Número de turistas reduziu nos últimos três meses em Três Marias.
Em Pirapora, barco a vapor foi ancorado devido ao nível do Rio.
Barco a vapor Benjamim Guimarães teve de ser ancorado por causa do nível do Velho Chico.
O baixo nível da água no Rio São Francisco tem gerado prejuízos a vários setores da economia nos municípios ribeirinhos em Minas Gerais. Em Três Marias, região central do estado, o turismo é a principal fonte de renda, mas nos últimos três meses o número de visitantes caiu 80%, segundo a Secretaria de Turismo do município.
“Realizamos um Carnaval fora de época, que é muito tradicional, e nem a metade do público compareceu. E essa queda influencia na vida de todas as pessoas, desde os que alugam barcos até os proprietários de pousadas. É uma reação em cadeia, que afetou o comércio de forma geral”, fala Maria Amélia Martins, secretária de Turismo.
Reservatório está com apenas 6% do seu volume útil.
No município está instalada a Usina de Três Marias, que tem um dos quatro maiores reservatórios do país. Porém, o nível de água neste reservatório está em 6% de se volume útil. Com isso, “os royalties provenientes da geração de energia diminuíram, já que apenas uma das seis turbinas está funcionando”, afirma o prefeito Vicente Rezende.
Em Pirapora, no norte do estado, o turismo também tem sofrido perdas com a seca no Velho Chico. Uma das principais atrações turísticas da cidade e do Norte de Minas, o vapor Benjamim Guimarães, teve passeios suspensos em agosto, devido à falta de navegabilidade do rio.
“A queda no volume de água do rio significa risco para a navegação, uma vez que as pedras podem comprometer o casco do vapor, que ainda corre o risco de ficar encalhado, tamanha a quantidade de bancos de areia”, justificou o presidente da Empresa Municipal de Turismo (Emutur), Anselmo Rocha de Matos.
Além disso, o município teve de investir em um sistema de captação de água por bombeamento que foi instalado em junho deste ano, para garantir o abastecimento de 18 mil imóveis, entre residências e comércios. Os equipamentos custaram R$ 540 mil.
“O rio está com nível nunca antes registrado, e a tendência é que a situação piore, já que as chuvas estão previstas para outubro e novembro”, fala o prefeito.
Para instalá-los, na época a Administração Municipal teve que entrar com uma ação na Justiça, para garantir a manutenção da vazão do reservatório da Usina Hidrelétrica de Três Marias por 30 dias. Caso houvesse redução, como estava previsto, o abastecimento no município ficaria comprometido, já que a captação, feita por gravidade, não seria mais possível.
Projeto Jaíba está localizado em 3 municípios
Produção agrícola
Os efeitos da estiagem também estão sendo sentidos por produtores agrícolas do Projeto de Irrigação Jaíba, que conta com 2.149 propriedades em 25 mil hectares de área irrigada com as águas do Velho Chico. Por causa do nível do rio, a captação teve que ser reduzida de 20 m³/s para 15m³/s. A produção, com destaque para as frutas, que é de 200 mil toneladas e tem um crescimento anual de 10%, deve ser pelo menos 3% menor.
O gerente executivo do Projeto, Marcos Medrado, conta que a primeira medida tomada pela administração foi comunicar aos produtores sobre o baixo nível do São Francisco, para que evitassem expandir as áreas de plantio e fazer novas ligações de irrigação.
"Uma ação de desassoreamento emergencial está sendo realizada para manter o fluxo da água no canal de irrigação. Com a baixa do Rio, houve o aparecimento dos bancos de areia e sedimentos", destaca. O investimento é de R$ 1,8 milhão. Em condições normais as intervenções são feitas a cada quatro anos.
Piscicultura
A piscicultura, com destaque para a criação de tilápias, é uma das principais atividades econômicas desenvolvidas no lago de Três Marias, que abrange oito municípios. Segundo dados da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf), em 2013 a produção atingiu mais de 6,5 toneladas, gerando cerca de R$ 30 milhões, mas neste ano está prevista uma queda de 10% nos números.
Edmilson Campos, presidente da (Cooperativa dos Piscicultores do Alto e Médio São Francisco Ltda.), conta que apenas em Morada Nova de Minas (MG) a produção de peixes, que era de 260 toneladas por mês, caiu pela metade. A atividade gerava 1.200 postos de trabalho diretos e indiretos no município de pouco mais de 8.700 habitantes e atualmente emprega 400 pessoas.
“Os piscicultores de menor porte estão abandonando a atividade. Há casos de piscicultores que tiveram que avançar 15 quilômetros para continuar produzindo. Hoje dei uma carona para a esposa de um pescador que disse estar vivendo a pão e água, contando com a ajuda de vizinhos.
Volume Morto
O nível no reservatório em Três Marias está bem próximo de chegar a seu chamado volume morto, com aproximadamente 4,5 milhões de m3.
Volume morto chega a 4,5 milhões de m3 água.
A representante do Consórcio dos Municípios do Lago de três Marias (Comlago), Sílvia Freedman, destaca que uma falha na execução da obra fez com que Três Marias não tivesse descarga de fundo. O que, segundo ela, impediria a utilização do volume morto, que é uma reserva de água que fica no fundo da represa e que nunca precisou ser utilizada para abastecer a população.
Sílvia Freedman destaca que a descarga de fundo serviria para liberar água da usina, além de permitir que o volume morto pudesse ser renovado, já que uma quantidade grande de sedimentos se acumula nesta reserva. Ela afirma que existe a possibilidade do Rio São Francisco parar de correr, fazendo com que o abastecimento humano tenha que ser feito com caminhões pipa e poços artesianos. 
Por outro lado, Marcelo de Deus, gerente de Planejamento Enérgetico da Cemig, que administra a hidrelétrica, explica que as usinas mais recentes e de grande porte, como Três Marias, não têm descarga de fundo. Ele afirma que esse mecanismo é geralmente utilizado durante a execução do projeto, para perenizar o rio, ou em obras menores.
“Três Marias tem reservatório com grande capacidade de acumulação de água, por isso não havia a necessidade de um descarregador de fundo e isso foi avaliado quando a obra foi projetada”, destaca.
Marcelo diz que é preciso esclarecer que se o nível do reservatório chegar a 0%, isso não significa que o Rio São Francisco deixará de correr. Esse percentual impediria a geração de energia, mas a Cemig garante que a vazão natural do Rio será mantida, portanto o Velho Chico não irá secar.
“ A Cemig junto com o grupo formado por todos os atores envolvidos, e coordenado pela Agência Nacional de Águas, trabalha intensamente para que está situação não venha ocorrer”
O gerente de Planejamento diz que antes da obra ser executada é feito um modelo reduzido da Usina, que permite avaliar o funcionamento da obra por meio de uma miniatura. Esses testes foram feitos na Alemanha e garantem que Três Marias poderá gerar energia sem problemas até o nível de 0%.
“Mesmo com 0%, o reservatório ainda terá 4 bilhões de m³ de água, uma lâmina de água correspondente a Baía de Guanabara”, afirma.
Quando questionado sobre a possibilidade do reservatório voltar a encher, Marcelo de Deus afirma que para que a situação atual seja revertida, é preciso que as chuvas sejam abundantes e bem distribuídas. Ele cita que em 2011, quando o nível chegou a 8%, o lago voltou à normalidade com uma estação chuvosa.
“Estamos vivendo uma crise hídrica sem precedentes. Não há registros de nada parecido. A última chuva considerável que tivemos foi em dezembro de 2013, ou seja, há quase um ano.”
Análise das outorgas de água
Silvia Freedman, da Comlago, diz que está sendo estudada a necessidade de que as outorgas de água de maior volume sejam suspensas. A indústria e a produção de frutas são alguns setores que podem ser afetados. O comitê irá solicitar que aos órgãos federal, Agência Nacional de Águas, e estadual, Instituto Mineiro de Gestão das Águas, façam a revisão das concessões e a suspensão, caso necessário.  
“A legislação estabelece que as prioridades são garantir o abastecimento humano e a dessedentação de animais.” (g1)

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