Subsolo tem água ‘ociosa’ suficiente para abastecer 1,8
milhão de pessoas em SP
Estudo feito pelo Instituto de Geociências da USP estima que
aquíferos da região metropolitana podem reduzir até 16 mil litros por segundo,
mas 40% dos recursos não são reaproveitados.
Enquanto observa seus principais reservatórios secarem
diante da pior crise de estiagem da história, a Grande São Paulo contabiliza
debaixo da terra um volume de água inutilizado que seria suficiente para
abastecer cerca de 1,8 milhão de pessoas. Segundo estudo do Centro de Pesquisa
de Águas Subterrâneas (Cepas) do Instituto de Geociências da Universidade de São
Paulo (USP), os aquíferos da região metropolitana têm capacidade para produzir
até 16 mil litros de água por segundo, mas 40% dos recursos não são
aproveitados.
Os cálculos apontam hoje para a existência de
aproximadamente 12 mil poços privados em operação na região, cerca de 60%
clandestinos, que retiram dos aquíferos cerca de 10 mil litros por segundo para
abastecer, predominantemente, indústrias, condomínios, hotéis, hospitais e
clubes, entre outros. Com a diferença de 6 mil litros por segundo que estão “ociosos”
no subsolo, seria possível abastecer, juntas, as populações de Guarulhos e
Mauá, cidades que decretaram racionamento por causa da seca nos Sistemas
Cantareira e Alto Tietê. Cada mil litros por segundo abastecem 300 mil
habitantes.
Nível do Cantareira voltou a baixar e chegou a 5,3% em
09/10/14; se fosse aproveitada, reserva subterrânea seria o segundo maior
manancial de SP.
Se fosse aproveitada integralmente, a reserva subterrânea
seria o segundo maior manancial da Grande São Paulo, ficando à frente dos
Sistemas Alto Tietê (15 mil l/s) e Guarapiranga (14 mil l/s) e atrás apenas do
Cantareira, que tem capacidade de produzir 33 mil litros por segundo, mas opera
atualmente com 21 mil litros por segundo. Os cálculos consideram a
disponibilidade de água subterrânea nos aquíferos sedimentar e cristalino da
região densamente urbanizada, que corresponde a 40% da Grande São Paulo.
“Estamos falando de um volume de água expressivo que nem
entra na contabilidade dos órgãos oficiais na hora de se planejar o consumo de
água. As águas subterrâneas são completamente desprezadas, embora garantam
segurança hídrica à região. Se os usuários privados resolvessem abandonar os
poços e migrar para o sistema público, a gente veria o colapso do sistema de
abastecimento”, afirmou o diretor do Cepas, Reginaldo Bertolo.
Segundo ele, as águas subterrâneas apresentam em geral boa
qualidade química e são aptas para o consumo humano. Um dos motivos é o fato de
que parte da recarga dos aquíferos resulta de vazamentos de água já tratada na
rede de distribuição da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
(Sabesp), que desperdiça cerca de 30% da produção no trajeto até os imóveis.
Recarga
Uma análise feita em 2007 em um ponto de monitoramento na
Vila Eulália, na zona leste da capital, constatou que dos 427 milímetros da
recarga registrada no poço durante um ano, 244 milímetros, ou 57%, tinham
características de água infiltrada da rede da Sabesp e os 183 milímetros
restantes eram de água da chuva.
“Tenho a impressão de que áreas da zona leste, que é
altamente adensada, mas tem baixa quantidade de condomínios e indústrias, são
propícias para ter a recarga com os vazamentos e um risco menor de
contaminação”, diz Bertolo.
Segundo o pesquisador, a crise da água, que se arrasta desde
o início do ano, tem provocado uma enorme corrida por poços na região, com
cerca de 400 poços perfurados no período de um ano. Bertolo alerta, contudo,
que a Grande São Paulo tem áreas com alto risco de contaminação, seja pela
poluição industrial do solo, como na região do Jurubatuba, na zona sul da
capital, ou pela infiltração da rede de esgoto. “Temos mais 100 áreas
potencialmente com contaminação. Isso tem feito com que os poços sejam cada vez
mais profundos”, afirma.
Segundo o secretário estadual de Saneamento e Recursos
Hídricos, Mauro Arce, o Estado está estimulando a abertura de poços durante a
crise com isenção da taxa de esgoto que era cobrada dos usuários que não pagam
conta de água. (OESP)
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