Águas subterrâneas podem se tornar segundo maior manancial
para abastecimento de São Paulo
"Observatório do Futuro da Água" deve propor soluções na gestão de recursos hídricos.
Apontado como uma
solução para aumentar a segurança do abastecimento de água na Região
Metropolitana de São Paulo, os aquíferos são reservatórios de água subterrânea
ainda pouco explorados no Brasil. “De toda água doce líquida do planeta, 97,5%
são águas subterrâneas”, explicou o professor Ricardo Hirata, diretor do Cepas
(Centro de Pesquisa de Água Subterrânea) e professor do Instituto de
Geociências da USP.
O Projeto chamado de
“Observatório do Futuro da Água” tem como objetivo repensar o uso da água nas
cidades e propor soluções de planejamento e investimento na gestão de recursos
hídricos. “Já era previsto que o Cantareira um dia não conseguiria
garantir a segurança hídrica da cidade, resultado de um evento climático
excepcional e do próprio aumento sem controle da demanda”, disse referindo-se
ao recente esgotamento do Reservatório do Sistema Cantareira em São Paulo.
Segundo o professor,
a solução da crise de água tem que ser pensada a curto, médio e longo prazo.
Com os reservatórios secando, existe uma questão emergencial. Uma solução,
nesse caso, é utilizar o volume morto e os programas de incentivo à redução da
demanda de água. Já em longo prazo outras ações podem ser pensadas, como por
exemplo, a redução do uso de água pela população, pela agricultura e pela
indústria.
Existem ainda águas
que poderiam ser melhores utilizadas, como a água de reuso, que é a água obtida
após o tratamento do esgoto doméstico. Muitas vezes essa água não é própria
para consumo humano, mas pode ser empregada para lavar calçadas, carros e
amplamente na indústria. E existem também as águas rasas dos aquíferos, que
geralmente são consideradas impróprias para a ingestão, mas que são acessíveis
e de baixo custo, e muito bem servem para usos não nobres. “É apenas uma
questão de regulamentação. O Estado tem certa restrição a isso, pois não vê
essa água como boa, e toma uma relação paternalista não permitindo que as
pessoas a utilizem”, explicou.
A regulamentação de
poços particulares também é uma questão a ser enfrentada, já que hoje 70% dos
poços do Estado de São Paulo não são outorgados. “Não é barato fazer esse
registro e o Estado não oferece nada em troca. Ele não garante as vazões
outorgadas, não controla os usuários ilegais, que criam interferências
hidráulicas importantes e aumentam os custos da extração de água por poços. O
problema é que há 8 mil poços ilegais, e quando o Estado não sabe onde eles
estão, ele também não pode restringir o uso de água subterrânea em áreas
intensamente explotadas”, afirmou. O projeto do Futuro da Água também visa
suprir essa lacuna, e tem a proposta de criar um site oferecendo apoio técnico
gratuito em troca de informações do usuário, “Queremos o setor melhor
controlado. Todos têm a ganhar com isso. O Estado tem que cobrar pela outorga
ou mais bem pelo uso da água, mas ele precisa oferecer alguma coisa em troca”,
concluiu. (usp)
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