A região
metropolitana de São Paulo precisa começar a reusar a água para que o sistema
hídrico tenha sustentabilidade, avalia a o professor da Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo (Poli-USP), Ivanildo Hespanhol. “Hoje nós estamos
usando o mesmo paradigma de 2 mil anos. Nós estamos trazendo água de cada vez
mais longe. Sistemas que já estão com um problema sério de estresse hídrico,
como é o caso da Bacia do Piracicaba”, ressaltou o especialista ao comparar o
sistema de captação atual com os aquedutos romanos da antiguidade.
O tema foi discutido em
16/11 no 1º Fórum Técnico Internacional Reuso Direto e Indireto de Efluentes
para Potabilização, na Faculdade de Saúde Pública da USP.
Hespanhol, que é
diretor do Centro Internacional de Referência em Reuso de Água, explicou que
80% do volume que é captado voltam aos rios como esgoto. Na Grande São Paulo,
são geradas, segundo o professor 64 metros cúbicos de esgoto por segundo
(m³/s). Por outro lado, só são tratados 16m³/s. “O sistema é absolutamente
insustentável. Nós continuamos trazendo água de fora, produzindo esgoto e não
tem nem planejamento para tratá-lo”, disse ao citar os planos de ampliação o
fornecimento de água para a região com novas adutoras.
Aproveitando as
estações existentes, o sistema de tratamento poderia, de acordo com Hespanhol,
ser aprimorado para que essa água fosse destinada para aproveitamento não
potável, como o uso industrial. Isso, seria, na opinião do especialista, uma
primeira fase de um plano para incorporar a água de reúso ao sistema de
abastecimento.
Na prática, segundo o
professor, a água de reúso já está presente no abastecimento de várias cidades.
Hespanhol cita, por exemplo, o caso do Rio Paraíba do Sul que recebe efluentes
e faz parte do sistema de captação de diversos municípios simultaneamente. “Uma
cidade capta água, trata, vira esgoto, joga no rio. A cidade de baixo faz a
mesma coisa e assim sucessivamente”, ressalta.
Não há, no entanto,
um planejamento para que a água seja usada dessa forma. “Esse é o reuso potável
direto não planejado e também inconsciente. Esse é um grande problema de saúde
pública e um grande problema ambiental que as companhias de saneamento não
veem”, avaliou o professor.
Existe, inclusive, de
acordo com Hespanhol, uma resistência cultural ao uso de esgoto tratado para o
abastecimento. “A nossa percepção cultural inibe a utilização de esgoto como
água potável ou não potável,” destacou.
O professor garante,
entretanto, que os processos de reuso podem transformar o esgoto em água e ser
usada para qualquer finalidade. Para o abastecimento das cidades, Hespanhol diz
que a água de reuso pode ser misturada a água usada normalmente para o abastecimento.
“Onde ele seria diluído, teria a qualidade melhorada, voltaria para estação de
tratamento, produzindo água”, detalhou. (ecodebate)
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