Emissões de gases vão ser reduzidas mesmo sem acordo global.
Especialistas acreditam que pressão dos consumidores e ações
da iniciativa privada podem reverter aquecimento do planeta.
O mundo caminha para a redução das
emissões de gases do efeito estufa, puxada pelo setor privado e pelos
consumidores, independentemente de haver ou não um acordo global entre os 190
países convocados para a Conferência das Partes sobre Mudança Climática
(COP21), em 2015. É esse o consenso entre os especialistas que participaram na
última semana do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), em
Copenhague.
Com o acordo, haverá chance de a
temperatura da terra não subir mais do que 2°C até 2100, diante do dado da era
pré-industrial. Mas, mesmo sem ele, não baterá na previsão pessimista de
aumento de 7,8°C. A elevação deverá rondar os 4°C.
Energia
Geração de eletricidade em usinas
térmicas a carvão e a gás tende a aumentar
O cenário não chega a tranquilizar.
Tuvalu, país da Oceania, terá boa parte de seu território coberto pelo mar.
Áreas agrícolas ficarão salinizadas e impróprias para o cultivo, e a pobreza e
a desigualdade tenderão a se acentuar, explica Suzana Kahn, professora da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro do IPCC.
Mas esse quadro é menos ruim do que
o propagado em caso de não haver acordo. Inovações tecnológicas no setor de
energias renováveis, reorientação de investimentos e políticas de governos
nacionais e subnacionais estão em curso e vão se acentuar nas próximas décadas.
Relatório do IPCC divulgado em março deste ano mostra que o atual fluxo
financeiro para a redução de emissões varia de US$ 343 bilhões a US$ 385
bilhões por ano. A nova economia verde, de baixo carbono, começa a ser
construída, mesmo sem estímulos oficiais.
Suzana estima o aumento de 4°C, sem
acordo na COP21, em Paris. A organização ambiental WWF também calcula algo
entre 3°C e 4°C a mais, segundo Samantha Smith, líder da Iniciativa Global
sobre Clima e Energia. Mas o WWF pondera que a Terra, hoje com mais 1°C do que
em 1750, já enfrenta tragédias provocadas por eventos climáticos extremos, como
as inundações e a seca. “A agenda de redução vai avançar, empurrada pelo setor
privado e pela sociedade. Os governos virão a reboque”, afirma Suzana. “Hoje,
não há empresa petroleira no mundo que não esteja trabalhando com a energia
renovável. Abu Dabi, nos Emirados Árabes, já atua nessa área.”
Mas, para levar energia limpa a 1,3
bilhão de pessoas no mundo sem acesso à eletricidade e aos 3 bilhões
dependentes de carvão para cozinhar e se aquecer, serão necessários
investimentos de US$ 72 bilhões a US$ 95 bilhões ao ano até 2030.
Relatório
Ao longo da última semana, o IPCC
se reuniu para resumir seus últimos três relatórios sobre a mudança climática.
O texto síntese será divulgado neste domingo. Não trará novidades, mas uma
linguagem cuidadosamente burilada pelas intervenções de representantes dos
governos.
O resumo, em princípio, deverá
guiar as negociações globais, que começam em dezembro, em Lima, e devem ser
concluídas em Paris, em novembro. Suzana sublinha a importância desse acordo
não apenas pelos seus efeitos de mitigação da mudança climática, mas também
para a redução da pobreza e da desigualdade e a adoção de políticas de
adaptação em países menos desenvolvidos. (OESP)
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