Brasil precisa de plano de gestão de águas, alertam
especialistas
Não só em São Paulo a situação das águas é
crítica, mas também em outras bacias do País. Dados da Agência de Águas indicam
que 55% dos municípios brasileiros podem sofrer déficit de abastecimento até
2015. Representantes de organizações e do governo apontaram para a necessidade de um
plano de segurança hídrica.
Sarney Filho pretende trabalhar
pela criação de um comitê de crise hídrica na Câmara dos Deputados.
Apesar de o problema da crise hídrica ser mais
evidente em São Paulo, dados da Agência Nacional de Águas (ANA) indicam que 55%
dos municípios brasileiros podem sofrer déficit de abastecimento até 2015. O
alerta foi feito em 04/12, em audiência sobre a crise da água no Brasil,
na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos
Deputados. Os participantes chamaram atenção para outras bacias do País, como a
do São Francisco.
De acordo com a ANA, o Brasil já está
trabalhando em um plano nacional de segurança hídrica. O documento está sendo
elaborado pela Agência de Águas e pelo Ministério da Integração Nacional a
partir de conversas com os estados e deverá ficar pronto entre 2015 e 2016.
A expectativa do superintendente da ANA
Joaquim Guedes Corrêa Gondim Filho é que as ações comecem ser implementadas
ainda no decorrer do processo, à medida que os problemas forem sendo
identificados.
O deputado Sarney Filho (PV-SP), que solicitou
o debate, anunciou que vai trabalhar pela criação, na Câmara dos Deputados, de
um comitê de crise hídrica. Ele pretende retomar o assunto no início da próxima
legislatura, em fevereiro. “É preciso que se tomem medidas urgentes, porque sem
água não tem como viver”, afirmou o deputado.
São Paulo
No caso dos problemas de abastecimento de água
em São Paulo, situação mais comentada no debate, a percepção dos
especialistas é que a crise pode ficar ainda pior se não chover nos próximos
meses. E o problema será agravado se o estado não contar com um plano de contingência
dos recursos hídricos.
“Se o período chuvoso deste ano se configurar
como o do ano passado, essa água não será suficiente para o ano que vem.
Independentemente de chover mais ou menos, nós estamos em uma situação bastante
crítica”, observou a especialista em gestão de Recursos Hídricos e Meio
Ambiente do Instituto Socioambiental (ISA), Marussia Whately.
Segundo ela, os sistemas que produzem água
para a região metropolitana de São Paulo, como o Cantareira, encontram-se com
níveis de armazenamento muito baixos. “O Cantareira está hoje em torno de 8%,
isso já considerando duas cotas do volume morto. Ou seja, ele está em um volume
negativo, algo em torno de 20% negativo”, complementou a especialista.
A coordenadora do Programa Rede das Águas da
SOS Mata Atlântica, Maria Luísa Ribeiro, relatou que, em Itu, as pessoas
ficaram de fevereiro até agora com racionamento de 100%, “sem nenhuma água na
torneira, vivendo uma realidade de caminhões-pipa com água sabe-se lá de onde”.
Sarney Filho lamentou a ausência de representantes
do governo de São Paulo na reunião.
Oferta e demanda
Especialistas apontaram a política de gestão
dos recursos hídricos como um dos principais problemas no processo. Como
observou Marussia Whately, a gestão hoje se baseia na oferta de água, sem o
devido cuidado com mananciais. Além disso, é preciso lidar com a falta de
chuvas e de transparência no sistema. “Enquanto isso, o Brasil vem aumentando o
consumo e isso é uma tendência que deve ser levada em consideração”, observou
Marussia.
À demanda crescente os governos respondem de
uma forma: com a tentativa de aumentar a oferta. “Tenta-se resolver o problema
com o aumento da oferta, sempre procurando novas fontes, mas isso tem
limitações. Hoje a questão que se coloca é que, antes de procurar novas fontes,
você atue na gestão da demanda, no controle de perdas, nessas ações mais fáceis
e mais baratas”, defendeu Joaquim Gondim Filho.
Maria Luísa Ribeiro pediu aos parlamentares
que coloquem a água em uma agenda estratégica. Ela defendeu ações integradas entre
os estados e mais voz para os comitês de bacias hidrográficas e chamou a
atenção para a necessidade de combater o desmatamento, que tem forte influência
nas secas. (ecodebate)
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