Mídia
Independente
Nesse final de ano a
população paulistana sofre os graves efeitos de um verdadeiro paradoxo hídrico,
uma crise de fornecimento de água tratada por decorrência do esgotamento de
seus sistemas de captação e o retorno do flagelo das enchentes urbanas por
decorrência do fracasso dos programas que vêm sendo adotados para seu combate.
Quanto à crise de
fornecimento, a atual escassez sazonal de chuvas trouxe à tona a insuficiência
e a vulnerabilidade de todo um modelo de gestão de recursos hídricos destinado
ao abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo, desde a boa
quantificação e operação dos sistemas de captação, passando por um eficiente
sistema de redução de perdas em adução e distribuição, a coibição da poluição
de recursos hídricos, até à assimilação cultural da necessidade dos cuidados na
parcimônia do uso e na prática do reuso. Mostrou-se nesse episódio
assustadoramente preocupante a incapacidade das principais entidades
responsáveis, SABESP e DAEE, em trabalhar coerentemente em programas de longo,
médio e curto prazos. Decisões que já deveriam ser tratadas desde há muito como
definitivas e em implementação, aparecem em uma crise desses ainda como pontos
de discordância ou mera especulação, a ponto de sugerir como mais aconselhável
conduta de governo a total falta de transparência, e, portanto de respeito, com
a população.
Pelo contrário,
entidades e instâncias que foram filosoficamente criadas para possibilitar o
constante debate e a participação opinativa da sociedade sofreram, ao longo dos
anos, ações orientadas de desarticulação e desmerecimento.
Que ao menos se
extraia a melhor lição para esse caso: o macro planejamento do uso de nossos
recursos hídricos não pode ficar sob a responsabilidade das diretorias de
empresas e instituições que atuam no setor, mas sim ser objeto de Conselho
Gestor especificamente constituído para esse fim, em cuja composição estejam os
melhores e mais reconhecidos técnicos que o Estado conte nesse campo
disciplinar.
No caso das
enchentes, é imperativo que o governo estadual corajosamente reconheça o
flagrante fracasso técnico dos programas de combate às enchentes que vêm sendo
insistentemente adotados. As enchentes estão se mostrando a cada dia mais frequentes,
mais abrangentes e mais trágicas. É preciso deslocar seu combate para o real
enfrentamento de sua principal causa, qual seja a incapacidade da cidade reter
uma considerável parte de suas águas de chuva, ao invés de lança-las a cada vez
em maiores volumes e em tempos sucessivamente menores sobre um sistema de
drenagem (córregos, rios, bueiros, galerias, canais…) progressivamente incapaz
de lhe dar a devida vazão. Drenagens agravantemente submetidas a um intenso
assoreamento por sedimentos, lixo e entulhos de construção civil. As medidas
que têm a propriedade de atacar diretamente essas causas vêm sendo seguidamente
relegadas em benefício de ações exclusivas na ampliação das calhas de nossos
grandes rios e na instalação dos odiosos e deletérios piscinões.
Enfim, a expressão
dramática desse temerário paradoxo, crise hídrica e enchentes, estão mais do
que nunca a exigir de nosso governador atos de coragem, que signifiquem sua
radical decisão de atender a sociedade e romper com práticas provadamente
perdedoras. (ecodebate)
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