O que está ocorrendo na região nordeste no Brasil pode
tender para uma ‘seca perfeita’
Períodos secos possuem uma frequência de ocorrência que pode ser de
anos isolados ou sequências de anos. Normalmente as situações mais severas são
sequências de anos secos ou um ou mais anos muito abaixo da média. Normalmente
as condições de sequências de anos faz com que a população perca a
sustentabilidade e na história existem relatos de populações que mudam de
locais devido ao permanente período seco. Em hidrologia foi cunhado um termo
para sequências hidrológicas com períodos acima ou abaixo da média, como de Noé
e José, (como relatos da bíblia).
Alguns programas de TV têm
tratado de desastres naturais como inundações e utilizado a palavra
"perfeita" como por exemplo, a tempestade perfeita, onde combinações
de fatores muito desfavoráveis produzem um cenário nunca visto ou muito
crítico.
O que está ocorrendo na
região Sudeste do Brasil e, especial da Região Metropolitana de São Paulo, pode
tender para uma chamada "seca perfeita". As causas não são isoladas,
mas combinadas e as principais que se inter-relacionam são:
• O período hidrológico é
severo, nunca registrado e, mesmo comparando com outras regiões é muito raro
ter um ano com 30% da vazão média de longo período, depois de um ano anterior
ainda seco;
• Poderá ainda ser pior se
esta for uma sequência de anos secos, como já aconteceu no Pantanal (13 anos de
vazões muito abaixo da média de 1960 a 1973); no rio Uruguai no RS de 1942 a
1951 (que pode ter motivado a migração dos gaúchos para o Paraná e outros
Estados);
• Grande concentração de
demanda numa área, 20 - 22 milhões de pessoas que ocupam da ordem de 2.000 a
3.000 km2. Na parte superior da bacia, onde a oferta de água é pequena;
• Baixa eficiência do
sistema oferta de água por tratamento e distribuição e baixa conservação por
parte da população e falta de tratamento dos esgotos gerados produzem aumento
da demanda e redução da disponibilidade por contaminação. A proporção de
tratamento de esgoto em São Paulo é de 52%, o que é lamentável para um Estado
rico.
• Para abastecer a cidade
com a população de 22 milhões nesta região seriam necessários pelo menos 5.000
km2 de bacia hidrográfica com regularização de vazão. Como a cidade pelo seu
desenvolvimento contaminou os mananciais de água de água, a área total
necessária seriam 8.000 km2 (3.000 km2 para ocupação e contaminação e 5.000 km2
para abastecimento). Isto não existe, pois a bacia hidrográfica do Tiete a
jusante de São Paulo tem da ordem de 3.000 km2. Isto levou a importação de água
do Cantareira e provavelmente será necessário de outras bacias a custos altos.
Este é o resultado da má gestão dos recursos naturais dentro de uma visão mais
integrada.
• A natureza vem dando
sinais de condições críticas desde 2000 (ou antes) com condições críticas de
oferta e demanda, mas a gestão do sistema tem mantido a "emoção" do
risco de falta de água. Aqueles que foram mais precavidos perfuraram poços e
estão mais tranquilos, mas a maioria está dentro de um risco importante.
Este desastre hídrico
ambiental é um processo cumulativo de gestão do espaço e de infraestrutura de
água que aparece em São Paulo pela sua magnitude, mas que ocorre em todo o
país. É mais grave nas cidades que estão nas cabeceiras dos rios. Exemplo:
Brasília, Goiânia, Curitiba, etc.
Planejar obras assumindo um
determinado risco é normal na engenharia, o problema é não estar preparado para
o risco, quando ele vier. É evidente que um cenário de seca como o atual leva
ao racionamento e gestão da escassez, o problema é o seu agravamento pela falta
de medidas preventivas de resiliência que permita reduzir os impactos. (yahoo)
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