sábado, 17 de janeiro de 2015

Crise de água aproxima SP de cenário de ficção científica

Plínio Fraga critica falta de articulação e ações consistentes na governabilidade dos recursos hídricos.
Crise de água aproxima São Paulo de cenário de ficção científica.
Desenho de Stanislaw Lem
A profecia apocalíptica chegou com a urgência que a madrugada acrescenta às mensagens, mas suave como pode ser o trinado do What’sApp. Dois amigos estavam juntos e quiseram dividir a revelação. O primeiro gravou a mensagem e a enviou dizendo: “Veja isso!” O segundo, enredado em seus pensamentos até então, rompia o silêncio e prognosticava:
Milhões de pessoas serão evacuadas de São Paulo até agosto. Vai faltar água para todo mundo!
Não havia mais discussão a respeito nem mesmo detalhes. Levei a sério a advertência a ponto de esquecer a frase final do profeta da Vila Madalena:
Só vão ficar em São Paulo os bêbados, porque preferem cerveja a água encerrava em gargalhadas a versão paulistana de Tirésias, o adivinho cego da mitologia grega.
Um dos efeitos colaterais de uma crise gravíssima de falta de água é a consequente falta de cerveja. A água corresponde a 90% dos ingredientes da cerveja. Imaginei o bando de bêbados chegando atrasado à evacuação de São Paulo ao descobrir que nem cerveja restaria.
O cenário previsto pelo Tirésias da Vila Madalena parecia cena de ficção científica.
São Paulo caminha para se transformar em Costarricana? É o país imaginário do escritor polonês Stanislaw Lem (1921-2006), no seu extraordinário livro “O Incrível Congresso de Futurologia”, publicado em 1971. Foi adaptado para o cinema pelo diretor israelense Ari Folman, o mesmo de “Valsa para Bashir”. 
O protagonista do livro é ferido durante a realização de um congresso, em um país em que a desordem se passa por revolução e o caos por norma social. Sem alternativa de cura para seus ferimentos no presente,  Ijon Tichy é posto em hibernação até o ano de 2039. Quando desperta, descobre à sua volta uma sociedade perfeita, eficiente e bela. Ao menos à primeira vista. Ijon Tichy aos poucos descobre que o governo ministra drogas à população para poder controlá-la. Viver passa a ser uma viagem lisérgica contínua e obrigatória. Quanto mais drogas tomam, mais felizes vivem os moradores. O governo as utiliza para controlar o fluxo de trabalho, de alegria e de conformidade. As drogas são ministradas por meio da distribuição de água e por meio da dissolução no ar que os cidadãos respiram. Cabe a Tichy mostrar a merda que todos vivem.
Já imaginou o que seria evacuar São Paulo? Delírio, delírio. Mas a escassez e o racionamento de água não são fictícios.
Estudos demonstram que a crise da água no século XXI é muito mais de gerenciamento do que uma crise real de escassez. Um conjunto de problemas ambientais agravados por outros problemas relacionados à economia e ao desenvolvimento social amplia o problema. Pois é, problema atrás de problema.
São apontadas causas diversas para a crise da água. Em algumas regiões, existe escassez por questões climáticas. Às vezes temporária e às vezes perene. A urbanização intensa aumenta a demanda pela água e amplia a descarga de recursos hídricos contaminados. A infraestrutura é pobre e em estado crítico em muitas áreas urbanas com perda de até um terço das águas após o tratamento. Aumento da poluição e a consequente mudança do clima da terra são variáveis significativas. Por fim, mas não por último, faltam articulação e ações consistentes na governabilidade de recursos hídricos e na sustentabilidade ambiental.
Ou seja, estão dadas as condições para o caos social previsto pelo Tirésias da Vila Madalena.
Nesta semana, uma juíza impediu que o governo de São Paulo cobre sobretaxa no uso da água, sem que tenha declarado oficialmente a existência de racionamento no Estado.
O governo Geraldo Alckmin (PSDB) quer o recurso extra da sobretaxa sem o desgaste extra de declarar racionamento. A solução mais simples para isso talvez seja drogar a população. Ou você não acredita que a crise de água é séria? É bom ter cuidado com a água que está tomando. (yahoo)

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