Crise da água estimulará onda de privatização no setor
Para Plínio Fraga, captação, armazenagem, tratamento e
distribuição da água não deveriam virar objeto de exploração comercial.
Crise hídrica deve estimular onda de privatização no setor
Nascente do rio São Francisco em Minas.
Do jeito que a maré segue, em breve a onda do processo de privatização
dos serviços de água e abastecimento no Brasil ganhará força irresistível. O
cenário está dado. Com a crise hídrica se alastrando e os governos sem recursos
para investimentos, o próximo passo é recorrer às chamadas parcerias
público-privadas para cuidar da água. É uma forma suave de explicar a
transferência da operação do sistema do Estado para empresas privadas. Com a
conta pesando mais no bolso do consumidor brasileiro.
Dono do maior potencial hídrico do planeta, o Brasil corre o risco ter
problemas de abastecimento de água em mais da metade dos municípios, de acordo
com o Atlas Brasil – Abastecimento Urbano de Água, elaborado pela Agência
Nacional de Águas (ANA). O levantamento mapeou as tendências de demanda e
oferta de água nos 5.565 municípios brasileiros.
Estimou em R$ 22 bilhões o total de investimentos necessários para
evitar a escassez.
Os dados revelam que, neste ano, 55% dos municípios brasileiros poderão
ter déficit no abastecimento de água. Além de São Paulo, o problema deve se
agravar no Rio de Janeiro, em Salvador, em Belo Horizonte, em Porto Alegre e no
Distrito Federal. Devem conviver com a falta de água 71% da população urbana do
país, ou 125 milhões de pessoas.
De acordo com o levantamento, as regiões Norte e Nordeste são as que
têm, relativamente, os maiores problemas nos sistemas produtores de água.
Apesar de a Amazônia concentrar 81% do potencial hídrico do país, na região
norte só 14% da população urbana é atendida por sistemas de abastecimento
satisfatórios. No Nordeste, esse percentual é de 18%. A região concentra os
maiores problemas com disponibilidade de mananciais, por conta da escassez de
chuvas.
O documento da ANA calcula em R$ 22,2 bilhões o investimento necessário
para evitar que o desabastecimento se amplie cada vez mais. O dinheiro deverá
financiar um conjunto de obras para o aproveitamento de novos mananciais e para
adequações no sistema de produção de água. Existe ainda a necessidade de
investimentos significativos em coleta e tratamento de esgotos. É preciso
também investir na redução da poluição de águas que são utilizadas como fonte
de captação para abastecimento urbano.
Crise gera oportunidade, diz o chavão do ideograma chinês. Os agentes do
mercado já preparam a pressão no governo e no Congresso para deslanchar um
programa que pode gerar bilhões. Está sendo assim nos Estados Unidos.
O Brasil detém de 12% a 15% das reservas de água doce no mundo e 67% dos
mananciais dos países do Mercosul. É um mercado para o qual grandes corporações
de todo o mundo estão salivando.
Dos 5.559 municípios brasileiros, cerca de 3.700 são atendidos por
empresas estaduais e os demais recebem serviços através de departamentos, os
conhecidos DAE (departamento de água e esgoto), ou por companhias municipais ou
por autarquias. Já foram privatizados 40 serviços nos Brasil, fora algumas
terceirizações. Calcula-se que os negócios com água e esgoto representem
inicialmente cerca de US$ 15 bilhões de dólares. Ou seja 15 vezes as perdas da
Petrobras com corrupção ou o suficiente para bancar 15 milhões de alunos no
ensino fundamental.
A água é um bem de todos os brasileiros. Sua captação, armazenagem,
tratamento e distribuição deveriam permanecer em mãos públicas. Não deveriam
virar objeto prioritário de exploração comercial. É um daqueles casos em que o
bem comum deve reger as ações, não a disputa pelo lucro. Muita água ainda vai
rolar nessa discussão. (yahoo)
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