Em um ano de crise, estoque de água nos reservatórios cai
74%
Após um ano de crise, estoque de água nos reservatórios de
São Paulo cai 74%.
Em janeiro/14, seis mananciais que atendem a região mais
rica do país somavam 1 trilhão de litros armazenados, quando a Sabesp emitiu o
primeiro alerta sobre a seca no Sistema Cantareira, era 27/01/14. Hoje, restam
267,8 bilhões, 12,4% da capacidade total das represas.
O deserto ao lado - Trecho da reserva do Sistema Cantareira,
que abastece São Paulo, em 22/01/15, com 5,4% de sua capacidade – em 23/01 caiu
a 5,3%.
Mananciais que atendem a região
metropolitana de SP somavam 1 trilhão de litros em 27/01/14; hoje, restam 267,8
bilhões.
Um ano após o início da pior
crise hídrica paulista, o estoque de água disponível para abastecer 20 milhões
de pessoas na Grande São Paulo caiu 74%. Quando a Companhia de Saneamento
Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) emitiu o primeiro alerta sobre a seca no
Cantareira, em 27 de janeiro de 2014, os seis mananciais que atendem a região
mais rica do País somavam 1 trilhão de litros armazenados. Hoje, restam 267,8
bilhões, 12,4% da capacidade dos reservatórios.
A crise começa
a ganhar ares trágicos na medida em que as reservas de água continuam caindo na
temporada de chuvas, fenômeno que se repete pelo segundo verão consecutivo.
Esta é a pior seca nos últimos 85 anos. Mantendo esse ritmo, essa reserva pode
acabar em 206 dias.
Há um ano, o
Cantareira estava com 23,1% de capacidade – hoje, com o uso do volume morto, o
nível está 23,7% abaixo de zero – e o estoque para toda a região metropolitana
era de 47,3%, volume que foi suficiente para atravessar o período seco de 2014,
já com economia e cortes na distribuição de água.
De lá para cá,
a Sabesp lançou um programa de bônus para quem economizar água, bombardeou
nuvens para provocar chuva artificial, retirou bairros da capital da área de
cobertura do Cantareira e reduziu a pressão na rede para diminuir as perdas por
vazamentos. O rodízio oficial chegou a ser planejado em janeiro, conforme o Estado
revelou em agosto, e o racionamento admitido e negado várias vezes pela gestão
Geraldo Alckmin (PSDB).
“As chuvas são
bem inferiores à expectativa para o verão e a situação atual das represas é
muito pior do que em 2014. O cenário é de esgotamento”, afirma Marussia
Whately, coordenadora do Instituto Socioambiental (ISA). “O fato é que as
medidas adotadas até agora não foram suficientes para reservar o máximo de
recursos para 2015. Além do impacto social, isso vai repercutir economicamente
na região que concentra um quarto do PIB do Brasil”, diz Samuel Barrêto,
especialista em recursos hídricos da ONG The Nature Conservancy (TNC).
Com todas as
ações, a Sabesp conseguiu reduzir em 23% o volume de água produzido na Grande
São Paulo, de 69 mil litros por segundo em média antes da crise para os atuais
53 mil litros. Economia ainda pequena diante do déficit diário de água nos
mananciais, em especial o Cantareira, que caminha para captar água de uma
terceira cota do volume morto. Em um ano, as perdas nos sistemas chegam a 753
bilhões de litros, volume quatro vezes superior à capacidade da Represa do
Guarapiranga, na zona sul.
No início deste
ano, o discurso oficial sobre a crise mudou com os novos gestores na Secretaria
de Saneamento e Recursos Hídricos e na direção da Sabesp. O governo lançou a
sobretaxa para quem aumentar o consumo, medida que havia sido descartada em
julho, e voltou a admitir risco de racionamento.
O novo tom teve
reflexo direto na população, que tem sofrido ainda mais com cortes no
abastecimento e passou a acreditar que a água pode mesmo acabar. “Do jeito que
está, nesse calor insuportável, a pouca chuva que vem evapora. Tenho muito
medo”, diz a professora Marilu Romano, de 60 anos, de Pinheiros, zona oeste.
Já a diarista
Mariléia Feitosa da Silva, de 21 anos, pensa em voltar para o Maranhão. “Lá tem
água. Eu vim para São Paulo há uns quatro meses, já sabia que estava sem água
aqui. Até agora está dando para sobreviver. Se não der, eu volto”, diz a
moradora de Paraisópolis, onde tem água dia sim, dia não.
Comércio e
indústria
A preocupação
dos setores da economia paulista, que já era grande no ano passado, se agravou.
A Federação das Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp) está mapeando o
subsolo da Grande São Paulo em busca de água. “Vamos incentivar as empresas a
formar consórcios para captar e distribuir a água”, afirmou Nelson Pereira dos
Reis, diretor da entidade.
Segundo ele,
tanto as pequenas quanto as grandes indústrias devem mudar seus turnos de
trabalho para conseguir aproveitar as horas em que há abastecimento público. O
mesmo deve acontecer no comércio. “As perspectivas, por qualquer lado que a
gente olhe, são muito preocupantes. O governo deveria ter alertado de maneira
bastante forte a população”, disse Antonio Carlos Pela, do Conselho de Política
Urbana da Associação Comercial.
Governo
O pedido do
Estado para entrevistar o secretário de Recursos Hídricos e o presidente da
Sabesp sobre um ano de crise não foi atendido. (OESP)
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