Nascentes do Cantareira ressurgem em Minas, mas água não
chega às represas.
Vazão do principal sistema que abastece a Grande SP e a região
de Campinas está 60% inferior à registrada antes da crise hídrica.
Nascentes ressurgem em Minas
A 1,6 mil metros de altitude, quase
no topo da Serra da Mantiqueira, parte das nascentes que formam o Rio Jaguari
em Camanducaia, no sul de Minas, renasceu com as chuvas dos últimos 30 dias.
A água que voltou a brotar na montanha anima os moradores
das regiões, mas ainda não tem volume nem força para percorrer 100 quilômetros
e encher os reservatórios do Sistema Cantareira em Bragança Paulista e
Joanópolis, em São Paulo.
As represas que representam 82% do manancial recebem 60%
menos água do que antes da crise e agonizam no volume morto.
Principal afluente do Cantareira que abastece hoje cerca de
12 milhões de pessoas na Grande São Paulo e na região de Campinas, o Rio
Jaguari virou um pequeno córrego com menos de 50 centímetros de profundidade
durante a estiagem do ano passado.
Muitas nascentes que forma o rio nos municípios de Extrema,
Camanducaia e São Bento do Sapucaí, desapareceram no início de 2014, quando o
Estadão teve na região. Aos poucos, esses cursos d’água estão renascendo, o que
já elevou para 1,5 metros o rio Jaguari no início de janeiro/15, o que não
acontecia desde dezembro/13.
Em Extrema, na divisa entre Minas e São Paulo, cachoeiras
que tinham virado pedra voltaram a ter quedas e piscinas naturais. “O rio sobe
bem quando chove aqui no alto da serra, mas logo baixa. A terra está muito
seca, ela chupa toda a água”, relata Clemilson Aparecido Fernandes, de 32 anos,
que trabalha na Fazenda Campo Verde, onde estão algumas nascentes do Jaguari,
limite do município com São Bento do Sapucaí.
Agricultores, meteorologistas, pescadores e donos de
pousadas na região do sul de Minas estão animados com a volta dos riachos e das
nascentes do Jaguari. Mas todos são unânimes na avaliação de que a chuva deste
ano ainda não seria suficiente para recuperar o rio.
A destruição da mata ciliar do Rio Jaguari ao longo de seu
trajeto sinuoso por dentro da Serra da Mantiqueira, no sul de Minas, é hoje a maior
vilã da recuperação das represas do Sistema Cantareira.
Fazendas de eucaliptos e pinus tomaram toda a região no alto
da serra, onde estão as nascentes do manancial.
O secretário de Meio Ambiente de
Extrema, Paulo Henrique Pereira, conta que esse efeito esponja do solo,
agravado pela longa seca na região, ainda impede que as chuvas se revertam em
vazões significativas de água para São Paulo. “Normalmente, as chuvas de
dezembro e janeiro encharcam o solo, e as de fevereiro e março escorrem e
enchem os reservatórios. Elas voltaram, mas ainda muito abaixo do esperado,
apenas recuperando as nascentes. Esse processo todo é lento”, afirma.
Ânimo
Agricultores, meteorologistas,
pescadores e donos de pousada na região do sul de Minas estão animados com a
volta dos riachos e das nascentes do Jaguari. Mas todos são unânimes ao dizer
que a chuva deste ano ainda não será suficiente. “Está melhor, já dá para pegar
uns bagrinhos de novo. Até o Natal, o rio era só pedra. Dava para atravessar de
bota sem se molhar”, conta o pescador Leonor Moreira Alves, 59 anos vividos às
margens do rio.
Hilton Silveira, do Centro de
Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da
Unicamp, explica que as águas das nascentes que estão ressurgindo apenas
recompõem o solo neste momento. “Ela não serve para encher o rio de novo. Se
chover dentro da média, vai demorar 5 anos para o Jaguari voltar ao normal”,
diz o meteorologista.
Neste mês, a vazão média do rio na
chegada ao Cantareira é de apenas 6 mil litros por segundo, ante 16 mil litros
nesta mesma época em 2013, antes da crise, declarada oficialmente pelo governo
em janeiro do ano passado. Enquanto isso, 17 mil litros por segundo saem do
sistema. Em janeiro de 2010, por exemplo, quando os reservatórios
transbordaram, o Jaguari chegou a registrar 140 mil litros por segundo. (OESP)
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