Sistema Cantareira pode secar por completo em 2015
À medida que o nível do
Sistema Cantareira vai diminuindo, as pessoas perguntam sobre a possibilidade
de ele efetivamente chegar a zero, sem volume morto que possa servir de
alternativa. A resposta direta é sim, ele pode secar.
Essa situação poderá acontecer
ainda em 2015, pois a quantidade de água que sai (consumo e evaporação) é maior
do que a entregue pelas chuvas. Tem sido assim nos últimos meses. Para que isso
não ocorra, precisamos de chuvas acima da média, algo que não se vislumbra para
o próximo verão.
Mas, independente de ele
secar, como será o nosso futuro? Isso se explica pelo fato de, aos poucos,
atingirmos níveis cada vez menores nesse sistema, com impactos para a sua
recuperação. Quanto mais avançamos em direção à base, mais longo será o caminho
de volta.
Há algumas possibilidades
que podem ser consideradas. A primeira delas avalia se poderíamos ter uma
rápida recomposição do sistema. Isso aconteceu em 1987, quando um longo El Niño
(setembro de 1986 a janeiro de 1988) providenciou chuvas acima da média e
durante períodos mais longos.
Mesmo que isso se
verificasse a partir de agora, ao final do evento estaríamos em um nível
similar ao de maio de 2013, o que não representa um grande alento. Mas essa é
uma ocorrência de baixa probabilidade, pois um El Niño tão longo foi verificado
apenas uma vez nos últimos 64 anos (a partir de dados do Instituto Astronômico
e Geofísico da USP e da administração nacional de oceanos e atmosfera do
governo americano).
Entramos no 'cheque especial da água' e vamos levar
um bom tempo até que consigamos sair dele Pedro Luiz Côrtes, professor, sobre situação do Sistema
Cantareira nos próximos anos.
O grande problema é que, devido ao fato de o
nível d’água estar muito baixo, chuvas normais não permitirão que o Sistema
Cantareira atinja rapidamente uma situação de segurança. Mesmo considerando uma
recarga normal, da ordem de 20% do volume total do Sistema, isso apenas nos
levaria a um nível similar ao verificado em dezembro de 2013, o que é pouco.
Em resumo: nós entramos no
"cheque especial da água" e vamos levar um bom tempo até que
consigamos sair dele, principalmente porque continuamos a utilizar a água das
represas que compõem o Sistema. Modelos matemáticos apontam para um prazo ao
redor de cinco anos para recuperação, podendo até mesmo ser maior.
Isso vai depender de como o
clima vai se comportar nos próximos anos. Um prazo menor, embora factível, é
improvável diante do nível atual e do histórico de recarga do Sistema.
Há outros fatos que merecem
a nossa atenção. O sistema de abastecimento de água da Região Metropolitana de
São Paulo (RMSP) vem trabalhando muito próximo ao seu limite operacional nos
últimos dez anos. Isso o torna mais vulnerável a eventos climáticos como
elevação da temperatura (com aumento de consumo) ou secas mais prolongadas.
Essa situação mostra que a
recomposição das represas que abastecem a RMSP vai apenas nos levar de volta a
um cenário que não afasta a possibilidade de novas crises. É fundamental
rediscutir a questão da água, dentro de uma perspectiva de governança de uma
região que busque o protagonismo de soluções inteligentes e sustentáveis.
As obras propostas pelo
governo do Estado terão o mérito de apenas mitigar parcialmente esse problema,
sem resolvê-lo de uma maneira mais permanente. E elas serão concluídas dentro
de três ou quatro anos. O que fazer então?
É necessário que o Estado
mostre os cenários com os quais está trabalhando e as medidas propostas para
cada um deles. Isso é fundamental para uma administração estratégica do
abastecimento de água da região metropolitana e para conscientizar a população.
Negar que o Sistema
Cantareira pode atingir o nível zero (sem água disponível para captação) é
incentivar as pessoas a não pouparem o suficiente. É preciso difundir o uso
adequado de fontes alternativas desse recurso, como a água de reuso, captação
de água da chuva, práticas de redução de consumo e uso de água subterrânea.
Há soluções disponíveis e a
boa notícia é que, usando racionalmente, não precisaremos abrir mão da nossa
qualidade de vida. A alternativa é a escassez, isso sim um problema que afetará
todos e repercutirá na nossa qualidade de vida e na manutenção das atividades
econômicas da região. (uol)
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