Precisando de água de forma contínua e equilibrada? Então
vamos reformar a Construção Civil
O Estado de São Paulo é o exemplo, na verdade, parece que
todo o sudeste, sem as árvores e sem as florestas, não existe água superficial
suficiente. Os motivos para tamanha devastação da Mata Atlântica são diversas,
mas agora o que importa? A sentença é sem árvores sem água. Então pode ser
dito, “vamos reflorestar intensamente”, e é uma atitude realmente a ser
executada, mas continuar consumindo madeira impedirá a intensidade. Então o que
fazer? Vamos diminuir o uso deste bem ambiental, e podemos começar pela
atividade que mais emprega madeira de forma diversificada, a Construção Civil.
E a boa notícia é que existe tecnologia inteiramente nacional para esta
empreitada, e vamos vê-la a seguir.
Mas antes de apresentar tal tecnologia, vamos ver o tamanho
do estrago que está em andamento em nossas florestas.
Para começar, parte deste desmatamento sem fim promovido
pelas construções começa nas olarias. Segundo a ANICER – Associação Nacional da
Indústria Cerâmica metade das quase sete mil olarias no país operam a base de
lenha.
Como em 2008 o IBGE estimou uma produção total de 63 bilhões de
peças produzidas pelas olarias, sendo 75% destas peças nos formatos de tijolos
e blocos, pondera-se que seja razoável admitir que ao menos em 2007 tenham sido
produzidos 47,25 milhões de milheiros de tijolos e blocos, pois o sindicato do
segmento cerâmico alega estarem em atividade 11.000 olarias, ao invés de 6.900
reconhecidas pela ANICER.
Mas supondo que estes números representem a realidade, quanto
se consome de lenha para sinterizar uma única peça? VALE em 2009 identificou em
uma olaria no Estado do Piauí a utilização de 31m³ de lenha para a queima de 55
milheiros. Ou seja, com a densidade da maioria das árvores nacionais variando
entre 600 a 800 kg o metro cúbico, e cada m³ de lenha seca pesando a metade
descontando-se a umidade, assim a estimativa média é de 197 gramas de lenha
queimada por tijolo.
Efetuando a conta obtém-se 4.654.125.000 kg de lenha seca
queimada para a produção de metade dos tijolos e blocos estimados somente para
o ano de 2007. E este volume se a lenha estiver realmente seca, senão a
quantidade de madeira necessária para a sinterização aumenta.
Como ainda não há um inventário das florestas brasileiras,
deste modo pode-se ponderar de modo razoável que cada árvore adulta apresente 7
m³ de madeira seca, cada m³ pesando 350 kg, chega-se a 1.899.642 árvores
cortadas em um único ano somente para queimar tijolos. Esta quantidade em
termos de floresta com a expectativa de 500 árvores a cada hectare seriam então
3.799 hectares/ ano. E isto considerando que as produções são enxutas, sem perdas
e estritamente levando em conta que no arrasto das árvores derrubadas somente
elas foram transformadas em cinzas, nenhuma outra mais, ou seja, quando uma
árvore que é cortada cai, não arrasa nenhuma outra ao lado.
Continuando a conta de nossas perdas florestais soma-se a
madeira utilizada uma única vez nas construções verticais.
Sobre este segmento que faz parte da Construção Civil como um
todo, e que é o que mais consome materiais primários e energias, a Fundação
IMAZON citada por DUARTE et al (2006) afirma que somente no ano de 2000 a
construção vertical no Estado de São Paulo absorveu 605 mil m³ de madeira,
sendo que 80% destas, ou seja, 484 mil m³ são madeiras denominadas
“descartáveis”. Isto é, a madeira é utilizada de diversas formas em usos temporários,
como: fôrmas para concreto, andaimes e escoramentos. O restante, ou seja, 121
mil m³, ou 20% utilizados de forma definitiva nas estruturas de cobertura, nas
esquadrias (portas e janelas), nos forros e pisos.
E como o desenvolvimento no Estado de São Paulo pode servir
como referência para os outros estados da União, compreendendo que este Estado
segundo DUARTE et al (2006) consome 20% de toda a madeira extraída no país, é
cabível compreender que o volume de madeiras descartáveis na Construção Civil
em todo o território nacional seja na ordem de 2.420 mil m³.
Relembrando que cada árvore razoavelmente apresenta 7 m³ de
madeira seca, pondera-se que como a Mata Atlântica já não oferece o volume
requerido de matéria-prima, é da Amazônia, segundo a Fundação IMAZON, conforme
citação de DUARTE et al (2006), a fonte de madeira em intenso uso pela
Construção Civil, ao menos no Estado de São Paulo, mas que outra fonte
importante temos no país?
Desta forma o estimado volume de madeira descartável
utilizado em um único ano no país é equivalente a 345.700 árvores, ou a 691,7
hectares dizimados para serem utilizadas uma única vez.
Assim nos últimos dez anos, 44.904 hectares de florestas
foram devastados para queimar tijolos ou serem empregadas uma única vez.
Uma alternativa – Tijolos e Blocos Ecológicos para ReAtivar e
Estratosfera
Então qual é a abordagem construtiva, qual a tecnologia
ambientalmente amigável que pode apoiar a geração de água de forma contínua e
equilibrada?
A resposta está na construção ecológica.
Mas não só no modelo pouco difundido e existente no Brasil há
mais de 50 anos, há uma nova abordagem, há um incremento nesta tecnologia, há a
reciclagem.
Reciclagem de resíduos sólidos que estabelece um padrão de
eficiência na gestão do principal descarte, os resíduos sólidos orgânicos, que
nada mais são do que uma apresentação diferenciada dos naturais elementos
químicos denominados micro e macro nutrientes.
O método incremental do sistema solo-cimento é o Processo
KONLIX de Reciclagens, que utiliza como matérias-primas os resíduos sólidos
orgânicos e também os inorgânicos descartados diariamente.
Para definir o desenvolvimento deste processo de reciclagens,
segue abaixo um quadro demonstrativo do teor percentual de uso de resíduos na
fabricação de tijolos/ blocos ecológicos em relação a massa total de cada peça.
Tipos resíduos
orgânicos – Teor % de resíduo reciclado por peça
RSU de aterros e/ ou
lixões - 70 % (cinquenta por cento)
Compostagem - 70 %
(cinquenta por cento)
Lodos de ETE - 45 %
(quarenta e cinco por cento)
Tipos resíduos
inorgânicos – Teor % de resíduo reciclado por peça
Entulhos da Construção
Civil (em geral) - 77 % (setenta e sete por cento)
Partes velhas de gesso
[*] - 67 % (sessenta e sete por cento)
Protótipos - Teor % de
resíduo reciclado por peça
Papel moeda – algodão
- Entre 35 e 40 %
Madeira em pó - 33 %
(trinta e três por cento)
[*] Observação:
Embora a literatura pertinente aponte para a impossibilidade
de estabilização do gesso velho, devido a ação expansiva/ desestruturante deste
resíduo, há peças estabilizadas há mais de quinze meses, inclusive sob períodos
de imersão, onde não foram observados nenhum tipo de distorção dimensional.
Esta tecnologia inteiramente brasileira tem eficiência
técnica e econômica para estabilizar na forma de tijolos vazados ou blocos
maciços todos os resíduos sólidos orgânicos que são descartados diariamente.
Deste modo, cada tijolo vazado que apresenta maior resistência mecânica e
durabilidade que tijolos da Cerâmica Vermelha, e isto por imposição da ABNT,
além de não sofrer nenhum tratamento térmico, isto é, não há nenhum tipo de
queima na produção, somente prensagem, é capaz de fixar carbono em sua massa, e
simultaneamente por utilizar resíduos originários de aterro, evita a emissão de
gases do efeito estufa (GEEs) devido a neutralização e confinamento duplo
destes materiais, uma vez pelo processo e uma segunda vez no formato
construtivo.
A exemplo, um único tijolo vazado com dimensões de 25 x 12,5
x 6,25 (comp., larg., alt.) equivale a não emissão de 8,7 Kg de CO2eq (dióxido
de carbono equivalente). Extrapolando para as dimensões de uma residência com
100 m² de área construída, cada uma destas unidades concentra mais de 95
toneladas de CO2eq não emitidos (por média dos pressupostos de AUGENSTEIN
(1990) e BINGEMER & CRUTZEN (1987) apud PEER et al (1993), citado por
CARVALHO, 2010).
Em outros termos, cada m² de alvenaria com tijolos realmente
ecológicos produzidos através do Processo KONLIX, equivale ao carbono fixado
por 5,7 árvores adultas. Com esta característica uma residência como a citada
conterá o equivalente a 969 árvores adultas em sua estrutura.
A questão de construir ecologicamente por este processo
fomenta:
· A eliminação de lixões transformando passivos
ambientais em ativos da Construção;
· Promove a manutenção de florestas devido a
redução do uso de madeiras que serão descartadas; e
· Principalmente reduz o uso de materiais
primários na Construção Civil em virtude da reinserção de materiais residuais
reciclados.
Algumas Considerações
A título de ilustrar a capacidade do Processo KONLIX de
Reciclagens, todos os resíduos sólidos orgânicos de origem doméstica coletados
diariamente na Cidade do Rio de Janeiro, aproximadamente 5.000
toneladas, podem deixar de ser destinados a aterro e serem transformados na alvenaria
ecológica que edifica 100 unidades residências com 100 m², diariamente. O que
equivale também a 7,7 mil toneladas de CO2eq não emitidos por dia, ou 2,8
milhões de toneladas de CO2eq não emitidos a cada ano.
A utilização dos resíduos sólidos orgânicos/ inorgânicos
reciclados pelo Processo e que originariamente estão em aterros e lixões reduz
inexoravelmente os custos municipais de administração destes locais de
destinação final, além da redução de custos relativos a recuperação de áreas /
solos contaminados pelos subprodutos destes locais, a exemplo o chorume emitido
e vetores.
O montante de resíduos sólidos domésticos coletados e
armazenados em aterros nas 260 maiores cidades brasileiras (municípios com mais
de 100 habitantes) entre 1999 e 2011 é suficiente para a construção de 10
milhões de residências com 100 m², o que estabelece um giro exponencial na
economia, pois todos os segmentos industriais estão envolvidos nesta reforma
habitacional, onde o conforto socioambiental é paradigma.
Estimativa da composição gravimétrica armazenada entre 1999 e
2011 (Carvalho, 2013)
PERCENTUAL - TIPO DE
MATERIAL RESIDUAL - EM TONELADAS
3 % - TECIDOS - 7.495.230.000
5 % - VIDROS E METAIS
- 12.492.049.000
25 % - PLÁSTICOS MOLES E DUROS - 62.460.250.000
65 % - ORGANO-TERROSOS - 162.396.653.000
2 % - OUTROS - 4.996.819.000
100 % - todos - 249.841.001.000
Nesta possível condição de reciclagem segundo o Processo,
considerando que a cada ano sejam erguidas um milhão de residências com a
dimensões sugeridas, e em conjunto, evitar outro desmatamento de 449 km²
provocada pela Construção Civil tradicional para quase nada, obtém-se mais de
56 milhões de toneladas de CO2eq não ativadas na estratosfera.
E há outras possibilidades de uso do Processo Konlix na
Engenharia Civil. Se não somente residências forem construídas, há tecnologia
para empregabilidade em contenção de encostas, reforço de subleito e sub-base
de vias rodoviárias rígidas, ou ainda em segmentos de menor expressão em termos
de volume, como em placas para conforto térmico e acústico, o uso é amplo.
Concluindo para Motivar
Quanto custa não ter água?
Veiculado por jornais televisivos em fevereiro de 2014,
segundo um estudo da COPPE/ UFRJ sobre a novíssima hidrelétrica de Belo Monte
(PA), afirma que este empreendimento que nem iniciou sua operação, não poderá
alcançar o potencial de geração, pois os índices pluviométricos que serviram de
base para este cálculo tiveram como base décadas passadas, e não estão
ocorrendo mais.
Havendo uma curiosidade de motivos para se evitar
desmatamentos, há um estudo excelente e bem atual produzido pelo Professor
Antonio Donato Nobre – O Futuro Climático da Amazônia, que está disponível: http://www.ccst.inpe.br/wp-content/uploads/2014/10/Futuro-Climatico-da-Amazonia.pdf
Que Deus nos abençoe com muita sabedoria. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário