Pesquisa mapeia edifícios em
risco globalmente e revela vulnerabilidade do litoral brasileiro, onde milhões
de pessoas e infraestruturas essenciais podem ser impactadas.
O aumento do nível do mar
pode colocar mais de 100 milhões de edifícios em todo o Sul Global em risco de
inundações regulares se as emissões de combustíveis fósseis não forem reduzidas
rapidamente, de acordo com um novo estudo liderado pela McGill publicado na npj
Urban Sustainability.
O estudo trouxe um alerta
global que soa com especial urgência para o Brasil. A pesquisa, uma das mais
abrangentes já realizadas sobre o tema, mapeou quantos edifícios em todo o
mundo estarão expostos a inundações anuais e crônicas no futuro devido à
elevação do nível do mar.
As conclusões apontam para um
risco iminente para cidades costeiras e o extenso litoral brasileiro, com
capitais densamente povoadas praticamente ao nível do mar, aparece como uma das
áreas mais vulneráveis das Américas.
O estudo considerou cenários
entre 0,5 e 20 metros de elevação do nível do mar. Descobriu que, com um
aumento de apenas 0,5 metros, um nível projetado para ocorrer mesmo sob cortes
ambiciosos de emissões, aproximadamente 3 milhões de edifícios poderiam ser
inundados.
Em cenários com cinco metros
ou mais de ascensão, como poderia ser esperado dentro de algumas centenas de
anos se as emissões não terminarem em breve, a exposição aumenta
acentuadamente, com mais de 100 milhões de edifícios em risco.
Muitos desses edifícios estão em áreas densamente povoadas e baixas, o que significa que bairros inteiros e infraestrutura crítica, incluindo portos, refinarias e patrimônios culturais, seriam afetados.
De acordo com a modelagem da McGill, o Brasil possui milhões de metros quadrados de área construída e inúmeros edifícios localizados em zonas costeiras de baixa altitude. A situação é particularmente crítica para cidades como:
• Rio de Janeiro: A icônica
orla da Zona Sul, bairros como a Urca e partes da região portuária, áreas de
alto valor imobiliário e simbólico, estão na linha de frente da ameaça.
• Recife: Conhecida como a
“Veneza Brasileira” por sua geografia cortada por rios e canais, a capital
pernambucana é frequentemente citada como uma das mais vulneráveis do mundo.
Bairros baixos e a própria estrutura urbana da cidade a colocam em risco
extremo.
• Florianópolis: A ilha, que
depende fortemente do turismo, vê suas praias, restingas e a região central da
capital ameaçadas, o que pode impactar diretamente a economia local e a
segurança da população.
Além das praias: Ameaça a
infraestruturas vitais
O risco, no entanto, vai
muito além da inundação de residências. O estudo ressalta que infraestruturas
críticas – como usinas de energia, redes de água e esgoto, hospitais e rodovias
costeiras – também estão na zona de perigo. A interrupção desses serviços
essenciais em eventos climáticos extremos, cada vez mais frequentes, pode
paralisar cidades inteiras e gerar custos econômicos e sociais incalculáveis.
“A elevação do nível do mar não é mais uma projeção distante. É uma realidade que já está moldando riscos reais para as economias costeiras, e o Brasil, com sua forte dependência do litoral, precisa encarar isso com a máxima seriedade”, analisa um especialista em climatologia urbana, ecoando a urgência transmitida pelo relatório canadense.
Será este o futuro que deixaremos para nossos filhos e netos?
Um futuro que depende das
emissões
A pesquisa da McGill
apresenta diferentes cenários, que dependem diretamente das ações globais para
reduzir a emissão de gases de efeito estufa. Em um cenário mais pessimista, com
altas emissões, o número de edifícios afetados globalmente pode ser o dobro
daquele em um cenário de baixas emissões. Isso significa que as políticas
climáticas adotadas hoje pelo Brasil e pelo mundo serão decisivas para
determinar a magnitude do prejuízo nas próximas décadas.
A necessidade de uma resposta
urgente
O estudo serve como um aviso
claro para que o planejamento urbano e as políticas públicas no Brasil
incorporem, de forma imediata, a variável climática.
Medidas como a criação de
zonas de amortecimento costeiro, a restrição de novas construções em áreas de
risco muito alto, o investimento em infraestrutura verde e a elaboração de
planos robustos de adaptação e resposta a desastres deixaram de ser opcionais.
A beleza e a prosperidade das
cidades litorâneas brasileiras, que atraem milhões de turistas e concentram uma
parcela significativa do PIB nacional, estão sob ameaça.
A janela para agir e evitar
os piores cenários, conforme demonstrado pela ciência da Universidade McGill,
está se fechando rapidamente.
Exposição à inundação de edifícios
O Rio de Janeiro pode fazer mais para se adaptar às mudanças climáticas
Em (a), a cor de cada célula
de grade de 50 km representa a quantidade de SLR que faz com que > 25% da
contagem total de edifícios da célula seja inundada na maré alta. Exibição de
painéis de inserção (b) ~ 3 km e (c) ~ 250 m regiões. Em (b) e (c), os
edifícios individuais são coloridos de acordo com o valor da LSLR em que o
nível do solo do edifício está em contato com a água na maré alta. Esses
painéis esclarecem que, embora o resultado geral da grade em (a) seja bastante
grosseiro, a variabilidade dentro de uma célula de grade pode ser alta e bem
capturada pelo conjunto de dados. (ecodebate)
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