Cientistas criticam paralisia de governos e recomendam
economia drástica de água
A Academia
Brasileira de Ciências recomenda redução de
15% do consumo de água e de energia
elétrica para evitar que país passe por uma situação
drástica.
A Academia Brasileira de Ciências reuniu em 12/02 seus principais
especialistas em mudanças climáticas com objetivo de cobrar ações imediatas
para a crise hídrica. A academia elaborou a Carta
São Paulo, que será entregue também aos governos de Minas Gerais e do
Rio de Janeiro, com uma lista de 12 aspectos que precisam ser enfrentados na
crise. Além de sugerir planos de contingência e políticas de saneamento, eles
destacam a necessidade de “capacitação de gestores” e colocam-se à disposição
para ajudar.
Diante do que chamou de “política de avestruz” dos governos, os
membros da academia disseram que a situação é agonizante e recomendam redução
de 15% do consumo de água e de energia elétrica para tentar evitar uma situação
caótica. Não há previsão de que as chuvas consigam encher os reservatórios até
o próximo verão.
“Alguém [prefeito, presidenta ou governador] têm que dizer: nós estamos
em crise de água e depois dar ordens: ‘minha senhora, por favor, poupe água’”,
afirmou o chefe do Laboratório de Hidrologia da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), Paulo Canedo, que é também consultor do Banco Internacional de
Reconstrução e Desenvolvimento (Bird). “Estou ansioso por ordens. Todos dias eu
acordo e espero essas orientações para ajudar a coletividade.”
Segundo o professor, no estado do Rio de Janeiro, se medidas não forem
tomadas no curto prazo, pode haver falta d’água. Ele explica que há mais
retirada do que entrada de água no sistema. Em São Paulo, o governo estadual já
trabalha com a possibilidade de racionamento.
Sem medidas de curto prazo, pode
faltar água, diz o professor Paulo Canedo.
Reunidos na sede da academia, no Rio de Janeiro, os especialistas
cobraram também transparência e planejamento de ações para gerir a crise.
Segundo José Galizia Tundisi, presidente da Associação de Instituto
Internacional de Ecologia e Gerenciamento Ambiental, várias soluções podem ser
tomadas para resolver o problema, desde que exista vontade política.
“Boa parte do desenvolvimento da ciência foi financiada pelos governos.
Os governos pagam para produzir recursos humanos e depois usam muito pouco, não
prestam atenção no que os cientistas dizem”, reclamou Tundisi, que é também
presidente do Instituto Internacional de Ecologia. “São vários estudos,
pesquisas, dados e teses com soluções sobre o quê fazer”.
De forma imediata, a recomendação é para a redução drástica dos gastos
de água e luz. Paulo Canedo disse que calibrar o ar condicionado é um começo.
“Eu puxo [a temperatura] para 24º e minha esposa vai e diminui para 21º.
Mas, ora, com essa temperatura, você tem que pegar um cobertor. E não é
razoável dormir com cobertura em pleno verão”, diz. “Quanto menor a
temperatura, maior consumo de luz. Ou seja, dá para fazer economia sem
sofrimento”.
O professor também sugeriu que bandeiras tarifárias sejam
incorporadas à conta de água, para alertar o consumidor sobre o nível de
consumo. Outra solução, acrescentou, é aumento da tarifa. “Se o governo não
quer que a população mais pobre seja onerada, dê um bônus para o consumidor de
baixa renda”, disse. “Isso é absolutamente justo. É o time da ajuda coletiva”.
Outra medida que precisa ser meta das concessionárias de água é a
redução das perdas no próprio sistema de abastecimento. Os cientistas
consideram inadmissíveis perdas de 30%, como acontece no Rio de Janeiro, e até
de 60%, em Belém, no Pará. “O ideal é [uma taxa] de 10%. Até 20%, como nos
países desenvolvidos. Acima disso, o governo do Rio tem que ficar de castigo
olhando para a parede”, brincou o professor da UFRJ.
Essas seriam as primeiras medidas a serem adotadas antes de um eventual
racionamento, explicam. A professora Sandra Azevedo, diretora do
Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da UFRJ, disse que o fornecimento
intermitente é o pior dos cenários. Segundo ela, gera desabastecimento das
regiões mais afastadas e contaminação da água, que se refletirão em doenças.
“O abastecimento é feito por linhas de transmissão. Então, quem for
abastecido primeiro vai querer economizar [vai guardar água em baldes, bacias,
encher a caixa d’água] e quem está no final da linha [geralmente os mais
pobres] não receberá água nem dia sim, nem dia não”, afirmou. (ecodebate)


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