Fazer uma reflexão
profunda sobre a importância da celebração dos rituais de vida que materializam
nossa passagem pela terra e pela civilização humana, em cada gesto cotidiano
que em geral passa desapercebido em rotinas não impressas ou avaliadas pelos
sentidos e pela “alma” que difusivamente interage. Ou não devidamente valoradas
nas sequências de etapas na realização de vida.
Poderia se falar na situação
estranha que é entrar num elevador e todo mundo estar fissurado na manipulação
de um celular ou tablet, trocando mensagens ou compartilhando redes sociais. A
mesma cena pode ser vista em uma parada de ônibus ou mesmo numa sala de aula ou
na rua. Tudo bem, estes escritos não objetivam realizar uma crítica de costumes
ou comportamentos. Mas buscar significações reais sobre as diversas atitudes. A
crítica de costumes pode ser realizada por indivíduos mais bem habilitados no
tema. O que se deseja é compartilhar uma reflexão sobre significados e a
eventual supressão de gestualidades reais com maiores formas de interpretação,
contextualização e entendimento. E a necessidade destas formas de
relacionamento se materializarem para que não pareça que o ser humano nasça com
uma conexão e estigmatize sua vida nisto sem mesmo saber o quanto precisa de
maturação, tempo e interpretação para determinar significações de relevância na
sua materialização de vida e nas suas ritualísticas de celebração de vida.
Isto vai determinar uma nova
autopoiese no sentido atribuído por Niklas Luhmann e vai fazer com que ocorram
alterações fundamentais nos círculos de virtuosidade conforme hoje são
conhecidos. Vai se alterar a equação de vender mais, ter maiores lucros, para
gerar mais empregabilidade, maior arrecadação de impostos e por conseguinte
maior capacidade de intervenção estatal.
As pessoas em geral mobilizam
maiores e mais persistentes energias com fatos e situações ou procedimentos que
percebem como maiores e mais dificultosos. Ao menos as pessoas que não se
percebem como negligentes. E tendem a deixar passar mais rapidamente e de forma
que pode ser as vezes um pouco desapercebida, os fatos, situações e
procedimentos aos quais atribuem maior prazer ou maior satisfação e que
constituem rituais ou celebrações de vida.
Se tivéssemos que fazer uma
analogia da sensação que se percebe com grande realismo em todo este cenário já
detalhadamente descrito ao longo deste texto, se diria que parece que os seres
humanos se comportam diante desta realidade instantânea e virtual como
protótipo incompreensível. Nascido da água, dependente da água, mas que escolhe
a vivência num deserto com contínua ou frequente escassez do bem que mais
necessita e que materializa a mais imprescindível substância para seu
equilíbrio e realização de vida em condições homeostáticas.
Um exemplo concreto disto é o
tempo. A reflexão sobre o fator relevante e independente que é o a tempo,
merece uma abordagem ampla e desprovida de preconceitos. Não há nenhum
julgamento ou situação de deformidade ou inconsistência no que se vai discutir.
Hoje uma criança com poucos anos de vida tem uma carga de informações maior que
um sábio ou uma autoridade de civilizações antigas, ou nem tão antigas assim,
porque datadas de 2 ou 3 mil anos de anterioridade em relação a civilização
atual. Sem qualquer condenação se questiona será que este indivíduo teve o
devido tempo de maturação e assimilação para processar todo este complexo de
informações inter-relacionadas? Será que atribuiu algum valor próximo da
realidade para todo este conjunto processado?
Que seria este valor? Algo
que faça sentido dentro de um contexto. Por exemplo quando se informa a uma
criança em tenra idade que uma chapa de fogão pode produzir ferimentos como
queimaduras, imediatamente a criança disfarça algum procedimento ou conduta que
lhe faça ter a experiência sensorial que possibilite avaliar o que se está comunicando.
Confirmada ou desmentida a informação, então se dá o processamento ou a
assimilação, que terá desdobramentos no mínimo na esfera da credibilidade,
atingindo a interação que está ocorrendo.
Situações como estas são
determinantes para comportamentos que levam a ansiedades ou procedimentos de
maior gravidade no futuro do indivíduo, como ocorrências onde se assumem
vicissitudes de preocupação por fatos que ainda não ocorreram. Não importa que
as estatísticas determinem que em 90% das vezes não venham a ocorrer estes
fatos determinantes que geram desconfortos comportamentais ou simplesmente
inquietações, desassossegos ou pressentimentos envolvendo tristezas ou
insatisfações. O dano emocional ou espiritual já está consolidado e não se tem
apólice de seguro para isto.
A partir desta narração
pode-se perceber como evoluem bem precocemente, situações que geram ou não
ansiedades que posteriormente prosseguem ou não sua espiral evolutiva. Este
parece ser um bom exemplo de como as questões de tempo envolvidas com
maturação, assimilação e outras ações parecem estar desconectadas do
inegavelmente maravilhoso mundo que a tecnologia moderna certamente nos
disponibiliza, mas que talvez não se consiga absorver em toda sua plenitude na
condição humana que ainda nos caracteriza.
As abordagens e os escritos
que se acessa, são relativamente homogêneos em determinar que a velocidade das
transformações da vida parece nem sempre ser conforme ou concordante com as
características mais intrínsecas dos seres humanos, que nem sempre conseguem
atuar com o devido protagonismo sem que existam ou hajam sequelas, no mínimo,
emocionais, e nem sempre absorvidas ou em nível de consciência. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário