Não é fácil haver
programação neuronial ou existencial de maneira individual ou treinamento
sensibilizatório para que se considere a beleza intrínseca em cada situação de
vida, aparentemente singela mas plena de significados. Esta é cada vez mais uma
premissa exigida para que haja equilíbrio de vida no atual contexto. Acordar
pela manhã, em condição de saúde plena e com disposição e ânimo para enfrentar
todos os desafios do dia já é uma benção intangível, que nem se consegue
imaginar valorar nem em termos financeiros, nem em termos existenciais. Todos
os atos sensoriais são bênçãos de plenitude ou de celebração de vida, ainda que
a gente não tenha consciência imediata disto, como respirar, ouvir ou ver as
cores e sentir os aromas.
Certamente, as
relações do atual estágio civilizatório, alteram de maneira fundamental as
relações de trabalho. Esta transformação dignifica uma descrição e
interpretação da metamorfose que sacode o campo das relações de trabalho. O
mundo instantâneo e virtual que caracteriza estas relações de felicidade
efervescente numa gôndola ou numa tela de tablet ou celular, transformam
radicalmente e definitivamente as relações de trabalho, e pode-se afirmar, que
para um estágio mais evoluído e melhor.
Profissões simples e
antigamente não tão valorizadas ganham nova dimensão e novas proporções dentro
da sociedade como um todo. O trabalho à distância e a ampla utilização de
tecnologia permite uma descentralização e um “espalhamento” dos indivíduos nos
espaços físicos. Há uma valorização das atividades domésticas com a execução de
pequenos serviços, que passam a ser revalorizados. Mesmo tarefas pequenas e
temporárias, quando permitem a manutenção de uma qualidade de vida
diferenciada, ganham novos contornos, numa apropriação que considera não apenas
ganhos econômicos ou financeiros, mas também vantagens dentro do campo
existencial e da satisfação de vida.
O perfil do mercado
de trabalho se altera radicalmente numa velocidade surpreendente. Há uma
regressão que valora em muito as atividades de cunho manual, além do domínio
absoluto sobre as novas tecnologias vinculadas a informação. Conseguir contar
com o trabalho de um pedreiro ou instalador elétrico tem se tornado um ato
heroico e caro, bastante dispendioso para qualquer padrão que se considere. Da
mesma forma, conseguir entrar na agenda deste tipo de profissional está mais
complicado que a marcação de uma consulta médica ou odontológica. No fundo
mesmo se trata da aplicação da velha lei da oferta e da procura. Talvez existam
maiores disponibilidades na formação de médicos, dentistas, ou até engenheiros
em relação a instaladores, pedreiros, azulejistas, padeiros e outros tipos de
profissionais cuja formação não depende de carreiras universitárias ou
assemelhadas. No fundo esta é outra celebração de vida na medida que valoriza
atividades simples mas que se descobre como fundamentais para os atos
cotidianos de vida.
Previsões desta
natureza são bastante comuns na obra de Thierry Gaudin, um engenheiro francês
da Universidade de Paris X, especialista em inovações e na criação de cenários
prospectivos, nascido na França em 1.940. Ele prevê que o modelo ainda vigente
de um emprego formal com 44 horas semanais está superado, bem como a concepção
de um assalariado colocado sob a autoridade de um patrão. O financiamento de
sistemas sociais de proteção atualmente muito vinculado ao trabalho formal,
passará por enormes transformações, com autopoises que determinarão novos
equilíbrios hegemonizando sustentabilidade sobre crescimento contínuo e
privilegiando a passagem para sociedades cognitivas sobre a civilização
industrial clássica.
Indicações argumentam
que se vive o período crucial destas transformações nesta década. Isto pode ter
a ver com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que
indicam que 40% dos indivíduos que poderiam compor a força de trabalho ativa
atualmente do Brasil, se encontrem voluntariamente fora do mercado de trabalho.
Certamente 40% ou 60% não são índices certos ou errados e muito menos passíveis
de enganos. Representam fenômenos novos que não estão sendo mensurados.
Estas novas
realidades podem facilmente ser associadas a novos paradigmas de
sustentabilidade e por isto se argumenta que o sistema representado pela
civilização humana começa a girar de maneira relevante em torno da
sustentabilidade e determinará uma nova autopoiese sistêmica conforme descrito
e previsto por Niklas Luhmann, determinando a substituição da civilização
industrial que acabou nesta sociedade de instantaneidades virtuais e
felicidades efervescentes na roda de um consumo desvairado para gerar círculos
de virtuosidade por uma sociedade civilizada girando ao redor de
sustentabilidade.
As concentrações
urbanas, responsáveis pelos maiores consumos de água ou energia serão paulatinamente
substituídas por aglomerações menores, até mesmo rurais, autônomas e
pluriativas, baseada em empregabilidade sustentada por habilidades manuais ou o
uso maciço de aparatos tecnológicos, mas permitindo vida mais harmônica,
existencialmente satisfatória e com continuidade na celebração de vida.
Obviamente isto vai
gerar um planeta mais sustentável além de uma vida mais equilibrada e
homeostaticamente plena aos sistemas ou biomas que reúnem e sistematizam
indivíduos das dimensões fitológicas e faunística, em plena harmonia. Mais do
que uma previsão, este cenário é inevitável para a própria viabilização da
civilização humana em parâmetros exequíveis e harmoniosos. (ecodebate)
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