Metade da água que
abastece os grandes clientes da Sabesp sai do Cantareira
A vantagem para os grandes consumidores é que o custo do litro de água
vai caindo à medida que o uso cresce, lógica inversa da tarifa convencional
Quase metade da água destinada aos grandes
consumidores da Grande São Paulo sai do sistema Cantareira. Dos cerca de 1,8
bilhão de litros que abasteceram, em janeiro, os 526 clientes da Companhia de
Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) que têm contratos de
fidelidade, com tarifas vantajosas, 851 milhões (46,5%) deixaram o manancial
que está em situação mais crítica.
Esse volume, contudo, já foi maior.
Levantamento feito pela Sabesp mostra que o consumo de água dos clientes
fidelizados atendidos pelo Cantareira, como os condomínios comerciais da Avenida
Paulista, caiu 25% em janeiro deste ano na comparação com fevereiro de 2014,
primeiro mês da crise declarada no sistema, quando o gasto foi de 1,1 bilhão de
litros.
Nesse período, a Sabesp reduziu em 45% a
produção de água do Cantareira para a Grande São Paulo, por meio da economia
feita pela população, da transferência entre sistemas, que diminuiu a cobertura
do manancial de 8,8 milhões de pessoas (47%) para 6,5 milhões (34%), e,
principalmente, com a redução da pressão e fechamento da rede durante a maior
parte do dia, um racionamento que não é "sistêmico", segundo a
companhia. Antes da crise, 73% da receita da Sabesp era obtida com o
Cantareira.
A Sabesp reduziu em 45% a produção de água do
Sistema Cantareira para a Grande São Paulo, por meio da economia feita pela
população, da transferência entre sistemas.
De acordo com a empresa, os grandes
consumidores também se empenharam na campanha de uso racional da água e
reduziram o consumo mensal em 24% na região metropolitana, entre fevereiro de
2014 e janeiro deste ano, atingindo todos os sistemas.
No Guarapiranga, por exemplo, que fornece
31,6% da água dos clientes fidelizados da Sabesp, a redução foi de 22,3%. No
Alto Tietê, que cobre 9% do grupo e também opera com nível crítico (19,1% em
08/03), a queda foi de 30,7%.
Chamados de "demanda firme", os
contratos de fidelidade são destinados a comércios e indústrias que consomem
pelo menos 500 mil litros por mês.
A vantagem para o cliente é que o custo do
litro de água vai caindo à medida que o consumo cresce lógica inversa da tarifa
convencional. Por exemplo: na faixa de consumo de 500 mil a 1 milhão de litros,
cada mil litros (metro cúbico) custa R$ 11,67. Já acima de 40 milhões de
litros, o preço cai para R$ 7,72.
Para a Sabesp, o modelo de negócio, lançado
em 2005 para tornar o preço da água mais competitivo no mercado e turbinado a
partir de 2010, fideliza o cliente e garante melhor controle sobre o esgoto
produzido pelas empresas. "O grande viés da demanda firme é o esgoto, que
é 100% coletado pela nossa rede. O impacto ambiental disso é imenso",
afirma a gerente de relacionamento com clientes da Sabesp, Samanta Souza.
Campanha
Por contrato, cada cliente tem uma cota
mínima obrigatória de consumo de água para conseguir a tarifa vantajosa,
política que para alguns especialistas estimula o gasto abusivo. Samanta
explica, porém, que, desde fevereiro de 2014, essa regra foi suspensa por causa
da crise e os clientes de demanda firme foram liberados a usar fontes
alternativas de água, como poço e caminhão-pipa.
Segundo ela, 70% migraram para novas
captações, mesmo sem direito ao desconto do programa de bônus, apenas à
sobretaxa de até 50% na conta em caso de aumento do consumo.
A maior redução proporcional de consumo das
grandes empresas ocorreu no Sistema Rio Grande (-43,6%), resultado alavancado
pelas montadoras de automóveis da região do ABC.
"Esse setor não precisa de água potável
na sua cadeia de produção como o farmacêutico, por exemplo, onde a água de
qualidade é uma exigência. Então, foi mais fácil para as fábricas migrarem para
fontes alternativas", diz Samanta.
Só o setor automotivo reduziu o consumo
mensal de água em 64% em um ano. O segmento alimentação, como supermercados,
26%, hospitais, 19%, farmacêutico e varejista, 17,6% cada, aparecem na
sequência. Os condomínios comerciais, como os da Paulista e da Avenida Berrini,
foram os que menos economizaram: 14,8%. (OESP)
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