domingo, 1 de março de 2015

Billings é ‘mar de lixo químico e cocô’

‘Salvação’, Billings na verdade é ‘mar de lixo químico e cocô’
Análise mostra que solução proposta por Alckmin e Sabesp não pode ser coloca em prática.
Alckmim e Sabesp atropelam a segurança para fingir que está tudo certo com a água
Depois de negar, negar e negar o racionamento (que já está acontecendo em inúmeros bairros de São Paulo e da Região Metropolitana), agora o governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) diz que a salvação da lavoura, o manancial de água límpida e cristalina, atende pelo nome de represa Billings, como se a gente não soubesse que aquilo ali é um mar de lixo químico, lodo e cocô.
Só uma amostra dos riscos envolvidos:
1. Naquele imenso lago artificial já se lançou todo tipo de descarte industrial e metais pesados. Mesmo depois de desastres terríveis causados pelo mercúrio, com suas vítimas torturadas por distúrbios neurológicos graves, diarreias, problemas de audição e visão, o Brasil ainda seguiu usando o metal líquido e extremamente tóxico para fabricar cloro e soda. A empresa Solvay do Brasil, sediada em Santo André, empregava o mercúrio nos seus processos produtivos e lançou oceanos de águas contaminadas em rios próximos, que acabaram atingindo a Billings. O mercúrio está lá até hoje.
2. O reservatório é destino de carregamentos de herbicidas, venenos de plantas que também intoxicam seres humanos e animais, usados pela EMAE (Empresa Metropolitana de Águas e Energia S.A.) no controle da proliferação de algas;
3. Por fim, a Billings recebe enormes quantidades de esgoto doméstico e industrial proveniente do bombeamento do rio Pinheiros, além de lodo químico descartado pela Sabesp.
O presidente da Sabesp, Jerson Kelman, já deu a senha do vale-tudo, do padrão de irresponsabilidade que está sendo implantado na gestão hídrica. Numa sessão da CPI da Câmara Municipal sobre a Sabesp, admitiu o descumprimento da norma brasileira sobre a pressão da água dentro dos canos (que, entre outras coisas, protege o precioso líquido da contaminação por microorganismos).
Disse Kelman: “Normas da ABNT [Associação Brasileira de Normas Técnicas] e direitos individuais, em situação em que o direito coletivo está ameaçado, devem ser relativizados”.
Escândalo!
As normas da ABNT não são estabelecidas por capricho. Mas para garantir, por exemplo, que a panela de pressão não exploda no rosto da dona-de-casa. Também servem para garantir que a água esteja livre de misturas que possam transformá-la em veneno.
“Relativizar”, como quer o presidente da Sabesp, equivale a expor a população a riscos. Afrouxar as normas da ABNT significa abrir mão de segurança. Simples assim.
A proposta da ampliação do uso da Billings para produção de água potável parece seguir o mesmo caminho de irresponsabilidades e ilegalidades.
É ilegal porque inclui a volta do bombeamento de água do rio Pinheiros para a represa, o que foi proibido pela Constituição do Estado de São Paulo em 1989, e reiterado em 1996, como forma de proteger o reservatório da poluição. Atualmente, o bombeamento para a Billings só é permitido quando há perigo de enchentes.
Pudera! O rio Pinheiros é uma vala de esgoto a céu aberto, que o digam os milhões de paulistanos que passam diariamente pela marginal Pinheiros e são obrigados a conviver os miasmas daquela água podre.
Documento elaborado por técnicos e engenheiros especialistas em questões hidrológicas, que compõem o “Coletivo de Luta pela Água”, explica o problema da Billings:
Em primeiro lugar, inexiste apenas uma represa Billings. A represa está subdividida em oito unidades, denominadas braços: Rio Grande, Rio Pequeno, Capivari, Pedra Branca, Taquacetuba, Bororé, Cocaia e Alvarenga.
Dois braços em particular são importantes na atual discussão, o Rio Grande e o Taquacetuba, braços em que já é feita a captação de água, mas de forma restrita, de modo a garantir a segurança sanitária da água.
O braço do Rio Grande é hoje utilizado para produção de 4,8 m³/seg. (ou 4.800 litros/seg.) na Estação de Tratamento de Água Rio Grande. Para isso, esse braço foi isolado do ultra poluído corpo central da Billings, por meio de uma barragem sob a via Anchieta.
“Implantou-se essa barragem em 1981, devido ao surgimento de elevada concentração de cianobactérias, organismos que liberam toxinas extremamente perigosas, que podem levar ao óbito pela ingestão ou no tratamento de hemodiálise”, diz o documento do Coletivo.
As cianotoxinas já foram causadoras de dois eventos dramáticos no Brasil; um em 1988 em Itaparica com 88 mortes, e outro em Caruaru, em 1996, com 60 mortes.
Estudos técnicos convencionaram que a disponibilidade segura do braço do Rio Grande é de 4,8 m³/segundo. Com essa produção, não é necessário o uso das águas do corpo central da Billings. O mesmo não poderá ser dito, caso haja o aumento da capacidade de produção para 5,5 m³/seg., como cogita o governo. Nesse caso, será necessário usar a água do corpo central da Billings.
Sobre o braço Taquacetuba, diz o relatório do Coletivo de Luta pela Água:
“O Braço Taquacetuba já é utilizado para abastecimento (...), sendo que suas águas têm contato com corpo central da Billings, pois não há barragem isolando este compartimento. A vazão autorizada para este corpo de água é de 2,19 m3/seg. O governo está propondo ampliar para 5 m3/seg. Hoje são bombeados de lá 4 m3/seg., o que corresponde à capacidade da estação de captação da Sabesp. O uso de vazão superior à outorgada implica o uso direto das águas do corpo central,”
O incrível é que se tenha ampliado a drenagem do Braço Taquacetuba, sem a necessária implantação de uma barragem capaz de também separá-lo do corpo central da Billings!
"O governo tucano parece estar profundamente empenhado em passar por cima de toda a legislação, como se vivêssemos em um estado de exceção, colocando em risco a saúde da população ao inventar soluções arriscadas, a toque de caixa, sem licitação, sem outorga e sem o devido licenciamento ambiental", diz o Coletivo de Luta pela Água.
A população de São Paulo quer água, sim. Mas quer água com segurança, seguindo os padrões de potabilidade.
É o mínimo! (yahoo)

Nenhum comentário:

Degradação florestal na Amazônia afeta área três vezes maior que desmatamento

Entre março de 2023 e de 2024, INPE detectou aviso de degradação para 20,4 mil km², maior que os 18 mil km² do período anterior. É necessári...