‘Salvação’, Billings na
verdade é ‘mar de lixo químico e cocô’
Análise mostra que
solução proposta por Alckmin e Sabesp não pode ser coloca em prática.
Alckmim e Sabesp atropelam a segurança para fingir que está
tudo certo com a água
Depois de negar, negar e negar o racionamento (que já está acontecendo em inúmeros
bairros de São Paulo e da Região Metropolitana), agora o governador paulista
Geraldo Alckmin (PSDB) diz que a salvação da lavoura, o manancial de água
límpida e cristalina, atende pelo nome de represa Billings, como se a gente não
soubesse que aquilo ali é um mar de lixo químico, lodo e cocô.
Só uma
amostra dos riscos envolvidos:
1.
Naquele imenso lago artificial já se lançou todo tipo de descarte industrial e
metais pesados. Mesmo depois de desastres terríveis causados pelo mercúrio, com
suas vítimas torturadas por distúrbios neurológicos graves, diarreias,
problemas de audição e visão, o Brasil ainda seguiu usando o metal líquido e
extremamente tóxico para fabricar cloro e soda. A empresa Solvay do Brasil,
sediada em Santo André, empregava o mercúrio nos seus processos produtivos e
lançou oceanos de águas contaminadas em rios próximos, que acabaram atingindo a
Billings. O mercúrio está lá até hoje.
2. O
reservatório é destino de carregamentos de herbicidas, venenos de plantas que
também intoxicam seres humanos e animais, usados pela EMAE (Empresa
Metropolitana de Águas e Energia S.A.) no controle da proliferação de algas;
3. Por
fim, a Billings recebe enormes quantidades de esgoto doméstico e industrial proveniente do bombeamento do rio
Pinheiros, além de lodo químico descartado pela Sabesp.
O
presidente da Sabesp, Jerson Kelman, já deu a senha do vale-tudo, do padrão de
irresponsabilidade que está sendo implantado na gestão hídrica. Numa sessão da
CPI da Câmara Municipal sobre a Sabesp, admitiu o descumprimento da norma
brasileira sobre a pressão da água dentro dos canos (que, entre outras coisas,
protege o precioso líquido da contaminação por microorganismos).
Disse
Kelman: “Normas da ABNT [Associação Brasileira de Normas Técnicas] e direitos
individuais, em situação em que o direito coletivo está ameaçado, devem ser
relativizados”.
Escândalo!
As
normas da ABNT não são estabelecidas por capricho. Mas para garantir, por
exemplo, que a panela de pressão não exploda no rosto da dona-de-casa. Também
servem para garantir que a água esteja livre de misturas que possam
transformá-la em veneno.
“Relativizar”,
como quer o presidente da Sabesp, equivale a expor a população a riscos.
Afrouxar as normas da ABNT significa abrir mão de segurança. Simples assim.
A
proposta da ampliação do uso da Billings para produção de água potável parece
seguir o mesmo caminho de irresponsabilidades e ilegalidades.
É
ilegal porque inclui a volta do bombeamento de água do rio Pinheiros para a
represa, o que foi proibido pela Constituição do Estado de São Paulo em 1989, e
reiterado em 1996, como forma de proteger o reservatório da poluição. Atualmente,
o bombeamento para a Billings só é permitido quando há perigo de enchentes.
Pudera!
O rio Pinheiros é uma vala de
esgoto a céu aberto, que o digam os milhões de paulistanos que passam
diariamente pela marginal Pinheiros e são obrigados a conviver os miasmas
daquela água podre.
Documento
elaborado por técnicos e engenheiros especialistas em questões hidrológicas,
que compõem o “Coletivo de Luta pela Água”, explica o problema da Billings:
Em
primeiro lugar, inexiste apenas uma represa Billings. A represa está
subdividida em oito unidades, denominadas braços: Rio Grande, Rio Pequeno,
Capivari, Pedra Branca, Taquacetuba, Bororé, Cocaia e Alvarenga.
Dois
braços em particular são importantes na atual discussão, o Rio Grande e o Taquacetuba,
braços em que já é feita a captação de água, mas de forma restrita, de modo a
garantir a segurança sanitária da água.
O
braço do Rio Grande é hoje
utilizado para produção de 4,8 m³/seg. (ou 4.800 litros/seg.) na Estação
de Tratamento de Água Rio Grande. Para isso, esse braço foi isolado do ultra
poluído corpo central da Billings, por meio de uma barragem sob a via Anchieta.
“Implantou-se
essa barragem em 1981, devido ao surgimento de elevada concentração de
cianobactérias, organismos que liberam toxinas extremamente perigosas, que
podem levar ao óbito pela ingestão ou no tratamento de hemodiálise”, diz o
documento do Coletivo.
As
cianotoxinas já foram causadoras de dois eventos dramáticos no Brasil; um em
1988 em Itaparica com 88 mortes, e outro em Caruaru, em 1996, com 60
mortes.
Estudos
técnicos convencionaram que a disponibilidade segura do braço do Rio Grande é
de 4,8 m³/segundo. Com essa produção, não é necessário o uso das águas do
corpo central da Billings. O mesmo não poderá ser dito, caso haja o aumento da
capacidade de produção para 5,5 m³/seg., como cogita o governo. Nesse
caso, será necessário usar a água do corpo central da Billings.
Sobre
o braço Taquacetuba, diz o relatório do Coletivo de Luta pela Água:
“O
Braço Taquacetuba já é utilizado para abastecimento (...), sendo que suas águas
têm contato com corpo central da Billings, pois não há barragem isolando este
compartimento. A vazão autorizada para este corpo de água é de 2,19 m3/seg.
O governo está propondo ampliar para 5 m3/seg. Hoje são bombeados de
lá 4 m3/seg., o que corresponde à capacidade da estação de captação
da Sabesp. O uso de vazão superior à outorgada implica o uso direto das águas
do corpo central,”
O
incrível é que se tenha ampliado a drenagem do Braço Taquacetuba, sem a
necessária implantação de uma barragem capaz de também separá-lo do corpo
central da Billings!
"O
governo tucano parece estar profundamente empenhado em passar por cima de toda a
legislação, como se vivêssemos em um estado de exceção, colocando em risco a
saúde da população ao inventar soluções arriscadas, a toque de caixa, sem
licitação, sem outorga e sem o devido licenciamento ambiental", diz o
Coletivo de Luta pela Água.
A população
de São Paulo quer água, sim. Mas quer água com segurança, seguindo os padrões
de potabilidade.
É o
mínimo! (yahoo)
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