Principal
reserva de SP, Guarapiranga tem 30% menos água que o Cantareira
Manancial
não pode operar abaixo dos 20% da capacidade por limitações técnicas.
Sabesp quer aumentar em setembro a produção do
Guarapiranga.
O
Sistema Guarapiranga, que desbancou o Cantareira do posto de maior produtor de
água da Grande São Paulo em fevereiro, tem hoje um estoque disponível para
captação 30% menor do que o manancial em crise. Além de somar 11,5 bilhões de
litros a menos armazenados (dados de ontem), o reservatório da zona sul da
capital não pode operar abaixo de 20% da capacidade por limitações técnicas.
Em 11/03 o nível do Guarapiranga
estava em 71,6%, ou seja, havia 122,6 bilhões dos 171,2 bilhões de litros que o
sistema consegue armazenar. Já o Cantareira, que é sete vezes maior, mesmo com
13,7% da capacidade, incluindo duas cotas do volume morto, tinha 134,2 bilhões
de litros. Mas, além de não ter reserva profunda, o Guarapiranga precisa operar
com um volume mínimo de 20%, equivalente a 34 bilhões de litros, para não
danificar as bombas que transferem água da represa para a estação de tratamento
da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo).
De acordo com engenheiros
consultados pela reportagem, se a água ficar abaixo do nível de segurança, há
risco de entrar ar nas bombas (processo chamado cavitação), o que pode quebrar
os equipamentos. A mesma precaução vale para outras represas que têm estações
elevatórias de água, como a Paiva Castro, em Mairiporã, que pertence ao
Cantareira, e a Taiaçupeba, em Suzano, do Sistema Alto Tietê.
Em 2014, quando teve início a crise
hídrica, o índice mais baixo atingido pelo Guarapiranga foi 31,4%, no dia 10 de
dezembro. Neste ano, o sistema já registra quase a mesma quantidade de chuva
que o Cantareira e, em fevereiro, ultrapassou a produção do manancial, com 14,5
mil l/s, e passou a abastecer 5,8 milhões de pessoas, 200 mil a mais do que o
Cantareira. Antes da seca, o maior sistema paulista produzia 32 mil l/s e
atendia 8,8 milhões de pessoas.
Em setembro deste ano, a Sabesp
quer aumentar para 16 mil l/s a produção do Guarapiranga, para avançar mais
sobre bairros abastecidos pelo Cantareira. Para que o período de estiagem, que
começa em abril, não ameace a capacidade da represa, a companhia prevê aumentar
em 3.000 l/s a transferência de água dos rios Capivari e Juquiá para a represa,
por meio de obras emergenciais. Segundo a Sabesp, "esta ampliação de capacidade
de produção aumentará a segurança hídrica do sistema".
A Sabesp afirma ainda que o aumento
na produção do Guarapiranga “é resultado de uma série de ações” adotada na
crise, "como interligação de mananciais, que reduziram a dependência do
Cantareira, e o bônus criado para quem diminui o consumo de água".
Acostumados
Em 2000, na última crise do
Guarapiranga, a Sabesp decretou racionamento para 3,2 milhões de pessoas quando
a represa tinha 40% da capacidade. Na ocasião, o nível chegou a 19,2%. Os
moradores da zona sul paulistana dizem que já estão acostumados com a falta de
água na região nas últimas décadas. É o caso do eletricista Antonio Santos, de
54 anos, morador do Jardim São Luís.
— Eu convivi com uma situação bem
pior do que a de hoje. Foi a época mais difícil da minha vida, e a população
acabou se adaptando.
Já o diretor de licitações Eduardo
Camilo, de 27 anos, que veleja na represa, teme que o reservatório um dia
seque.
— A água daqui já não é suficiente
para toda a população que precisa da Guarapiranga. (OESP)
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