Cantareira:
a recuperação parcial aconteceu com as chuvas de fevereiro e março, que ficaram
acima da média.
Apenas uma das sete obras de emergência previstas
pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) para
"atravessar o deserto de 2015" sem decretar rodízio oficial no
abastecimento de água na região metropolitana já foi iniciada, segundo o
presidente da estatal, Jerson Kelman.
"Hoje está sendo feita apenas uma (obra), que é
a ligação do (Rio) Guaió com a (Represa) Taiaçupeba. Brevemente, começará
outra, que são duas adutoras que levarão água do (Sistema) Rio Grande para
Taiaçupeba (Sistema Alto Tietê)", disse Kelman, em debate sobre a crise
hídrica promovido pelo jornal Folha de S.Paulo.
A ligação do Rio Grande, que é um braço da Represa
Billings, com a Taiaçupeba é considerada a obra mais urgente.
O objetivo é levar 4 mil litros por segundo para o
Alto Tietê, cuja estação de tratamento está subaproveitada porque o manancial
está com 22,7% da capacidade. Com isso, a Sabesp prevê levar mais água desse
sistema para socorrer a área do Cantareira.
Ao anunciar a ligação das duas represas, no fim de
janeiro, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse que a obra começaria em
fevereiro e seria concluída em maio.
Agora, a previsão de entrega é julho, segundo a Sabesp.
Agora, a previsão de entrega é julho, segundo a Sabesp.
O custo estimado é de R$ 130 milhões, e os contratos
para execução das obras físicas e aquáticas, no valor de R$ 46,6 milhões, foram
assinados sem licitação no dia 27.
Além desse projeto e da obra já iniciada que prevê
levar 1 mil litros por segundo do Rio Guaió para a Taiaçupeba, o pacote de
intervenções emergenciais inclui a ligação do Rio Itatinga ao Sistema Alto
Tietê e dos Rios Capivari e Juquiá ao Guarapiranga.
Além disso, a Sabesp pretende ampliar de 4 mil para
5 mil l/s a transferência de água da Billings para a represa da zona sul da
capital e, com isso, ampliar a capacidade do Sistema Guarapiranga de 15 mil
para 16 mil l/s.
Neste caso, um contrato de R$ 41,6 milhões, sem
licitação, já foi assinado.
Condições
Para Kelman, a conclusão das obras emergenciais sem
atrasos é umas das condições necessárias para não adotar o rodízio.
As outras duas são a continuidade da economia de
água pela população e que o Cantareira receba até 80% da água que entrou no
manancial em 2014, pior ano da história.
"Nós fizemos um elenco de possíveis obras, que
serão defasadas no tempo, na medida que forem sendo necessárias", afirmou
Kelman, sobre o ritmo de execução das obras.
Ele disse que a ideia das intervenções surgiu
durante um sobrevoo que fez na região em seu terceiro dia à frente da Sabesp
para detectar novas fontes de recursos de abastecimento.
À época, o Cantareira caminhava para esgotar o
segundo volume morto.
A recuperação parcial aconteceu com as chuvas de
fevereiro e março, que ficaram acima da média.
Ontem, porém, no primeiro dia da estação seca, que
vai até setembro, não caiu nenhum milímetro nos seis mananciais da região.
O único que não registrou queda foi o Cantareira
(que subiu 0,1 ponto, para 19,1%), reflexo ainda da precipitação de segunda.
Apesar disso, Kelman acha que o rodízio não será necessário.
10 grandes números revelam descaso de São Paulo com
sua água
A
relação de SP com a água é marcada por ataques e danos que nos ajudam a
entender a crise hídrica de um jeito diferente — mais integrado.
Uma história de ataques e danos
Uma história de ataques e danos
A
relação das cidades com as águas é um negócio curioso. Os homens sempre
procuraram se fixar ao longo dos grandes rios para ter água e vias de
transporte próximas. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento urbano acarretou a
deterioração desses recursos hídricos, comprometendo sua quantidade e
qualidade.
No
maior estado do Brasil, não foi diferente. A história de São Paulo com seus
rios é marcada por ataques e danos, que se repetem até hoje e nos ajudam a
entender a crise hídrica que assombra a região de um jeito diferente — mais integrado.
Veja
nas fotos 10 números que mostram o descaso do Estado paulista com este bem tão
precioso.
Passe livre para poluir
Passe livre para poluir
Tão
importante quanto ter água em quantidade é ter água de boa qualidade. São Paulo
deixa de tratar quase 57% dos esgotos gerados, segundo dados do Sistema
Nacional de Informações de Saneamento Básico do Ministério das Cidades. Toda
essa água suja ameaça as reservas limpas e encarece os custos de tratamento no
futuro.
Zero tratamento
Zero tratamento
Entre os 645 municípios do Estado, pelo menos 60 não
possuem tratamento algum de esgoto. Sem rede adequada, todo o esgoto gerado vai
parar nos rios próximos. Em todos eles, a coleta de esgoto não passa de 40% dos
domicílios.
Ainda tem gente sem acesso à coleta de esgoto
Ainda tem gente sem acesso à coleta de esgoto
Quase
25% da população do Estado de São Paulo ainda não contam com serviços de coleta
de esgoto. Quem mora nessas situações, precisa recorrer a métodos de risco para
a saúde, como o uso de fossa negra.
Desperdício
Desperdício
De cada 100 litros de água coletada e tratada,
apenas 66 litros chegam são e salvos na casa dos paulistas. Os outros 34 litros
ficam pelo caminho. Ligações clandestinas, vazamentos, obras mal executadas ou
medições incorretas no consumo de água são as principais causas das perdas. Um
quadro imperdoável para um recurso tão precioso e cada vez mais escasso.
Despejo ilegal
Despejo ilegal
No entanto, nem toda a água que sai das indústrias
em forma de esgoto retorna limpa para o meio ambiente, como deveria acontecer.
A cada hora, as indústrias paulistas descartam cerca de dez milhões de
efluentes cheios de resíduos tóxicos e sem tratamento algum nos rios e lagos
dos municípios de São Paulo. Por dia, o descarte ilegal de esgoto industrial
daria para encher dois lagos do Parque Ibirapuera, segundo estudo feito pela
Grupo de Economia da Infraestrutura e Soluções Ambientais, da Fundação Getúlio
Vargas (FGV).
Descaso com as áreas verdes piora a crise
Descaso com as áreas verdes piora a crise
Nos últimos 50 anos, a região da Cantareira teve
quase 80% de sua vegetação nativa desmatada, segundo um levantamento feito pela
fundação SOS Mata Atlântica. Atualmente, restam apenas 21,5% da cobertura
original nas bacias hidrográficas e nos 2.270 quilômetros quadrados do conjunto
de seis represas que compõem o Sistema Cantareira. Os impactos do desmatamento
em áreas de manancial são significativos. A floresta tem papel essencial na prevenção
de secas, pois reabastece os lençóis freáticos e impede a erosão do solo e o
assoreamento de rios.
“Joga no rio que o rio resolve”
“Joga no rio que o rio resolve”
A política do laissez-faire com relação ao manejo do
lixo resulta em situações como a que deixou atônita a população da região de
Salto, em Sorocaba, em julho do ano passado. Por conta da estiagem severa, o
Rio Tietê, que corta o centro da cidade, transformou-se num fio de água e expôs
toneladas de lixo acumulado ao longo de décadas.
Clandestinidade impera
Clandestinidade impera
Na grande maioria dos casos é dos poços artesianos
que os caminhões pipa retiram água. A cidade de São Paulo tem cerca de 2000
poços outorgados pelo DAEE, mas especialistas do setor estimam em mais de 8 mil
o número de clandestinos, que incluem tantos poços operantes, como paralisados.
Rodízio “vetado”
Rodízio “vetado”
O rodízio de água era a primeira opção apresentada
pela Sabesp para contornar os níveis decadentes do sistema Cantareira. O plano
foi formalmente entregue em janeiro de 2014 ao Departamento de Águas e Energia
Elétrica de São Paulo (DAEE), mas foi descartado pelo governo Alckmin. Na
ocasião, o rodízio proposto era de 48 horas com água e 24 horas sem para as
localidades atendidas pelo Cantareira. Se tivesse sido implementada há um ano,
a medida poderia ter resultado em uma economia de 120 bilhões de litros em
2014.
Tietê na UTI
Tietê na UTI
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