O Brasil, assim como muitos países,
tem um pequeno número de céticos de clima, alguns dos quais são frequentemente
procurados pelos meios de comunicação. No entanto, eles nunca ganharam poder e
influência política. A influência dos céticos no Brasil tem sido muito
diferente do que nos Estados Unidos, onde essa visão predomina no partido
político que atualmente controla as duas
casas do Congresso.
Nos EUA há forte influência de fontes
financeiras de grupos de negação do clima. Os principais financiadores fizeram
contribuições rastreáveis até 2007 no caso de Exxon Mobil e até 2008 no caso
dos irmãos Koch, mas depois essas contribuições aparentemente passaram a inchar
o “dinheiro obscuro” que forneceu US$ 558 milhões [R$ 1,5 bilhão] para 91
grupos de negação climática entre 2003 e 2010 sem que a origem do dinheiro seja
rastreável a partir de registros públicos.
Os irmãos Koch atualmente estão
empatados em sexto lugar entre os indivíduos mais ricos do planeta, mas, se
somados juntos, tem riqueza superando aquela do indivíduo mais rico: Bill Gates.
Um lembrete de que esse investimento
continua em várias frentes foi fornecido em fevereiro de 2015 por documentos
obtidos pelo Greenpeace através do “Freedom of Information Act” nos EUA, revelando
que um proeminente negador de clima (Willy Soon, do Centro Harvard-Smithsonian
para a Astrofísica) havia recebido financiamento de US$ 1,25 milhões da
indústria de combustíveis fósseis ao longo dos últimos 14 anos, dois terços dos
quais (US$ 828.000,00) foram da fundação, instituto e fundo fiduciário dos
irmãos Koch. Seria ingênuo acreditar que os investimentos de
fontes como essas se restringem aos EUA.
Cientistas de clima no Brasil tiveram
um choque surpreendente em 2012 durante as preparativas para um evento global
sobre o meio ambiente. Nas semanas anteriores ao Rio+20 um dilúvio sem
precedentes de entrevistas com os céticos do clima apareceu na imprensa
brasileira. O fato que a grande maioria da comunidade científica não concorda
com os céticos às vezes era mencionado de passagem, mas essas ressalvas eram
logo seguidas por longas entrevistas apresentando a visão dos céticos sem
nenhuma contestação.
Entrevistas com céticos dos EUA., tal
como o Richard Lindzen (atualmente do Instituto Cato, fundado pelos Irmãos
Koch), foram apresentadas por fontes de notícias brasileiras importantes, tal como a Rede Globo. A televisão, jornais e revistas de notícias deram
espaço generoso para os céticos, frequentemente sem sequer uma representação
simbólica do outro lado.
Um artigo de opinião do cientista
Luís Carlos Molion na Folha
de S. Paulo onde afirma que
“os modelos matemáticos do aquecimento global são meros exercícios acadêmicos” fornece um exemplo. Outro exemplo é a entrevista com o
mesmo cético com a manchete “Terrorismo sobre o clima é ameaça à soberania nacional”. Destaque foi dado para uma carta entregue à Presidente
Dilma Rousseff logo antes da Rio+20 assinada
por 18 profissionais.
Eram principalmente os geólogos e físicos, e praticamente nenhum havia contribuido
à literatura científica sobre o aquecimento global. Enquanto a carta recebeu
ampla cobertura da grande mídia, refutações receberam quase nenhuma.
A entrevista com um geógrafo cético
da USP (Universidade de São Paulo) no
programa de Jô Soares pouco
antes da Rio+20, sem dúvida, foi a mais danosa para o entendimento público no
Brasil, devido ao grande alcance da mídia televisiva. O entrevistado declarou
que “o efeito estufa é a maior falácia científica que existe na história”, que
atribuiu a uma conspiração entre técnicos militares que estavam subempregados
após a Guerra Fria.
Quem não conhecia o assunto por
outros meios teria tido pouca ideia das dezenas de milhares de trabalhos
científicos que documentam o consenso representado pelos relatórios do Painel
Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) de que o aquecimento adicional
nos últimos anos é real, é causado pela ação humana, e terá impactos negativos
gravíssimos se não for contido rapidamente.
Os relatórios do IPCC estão
disponíveis gratuitamente em http://www.ipcc.ch. Sugiro também alguns dos
debates que tive com Luís Carlos Molion, disponíveis no site http://philip.inpa.gov.br. Vários dos principais cientistas da
área climática no Brasil se recusam a debater com céticos como Molion. Este
autor acredita que isto seja um erro crítico. (ecodebate)
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