Ambientalistas propõem
adaptação a mudanças climáticas com base em ecossistema
A Secretaria de Mudanças Climáticas e
Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente promoveu debate
com especialistas sobre o tema Mudanças do Clima e Biodiversidade. Um dos
trabalhos que serão apresentados, a convite do ministério, aborda o tema
Adaptação Baseada em Ecossistemas: Oportunidades para Políticas Públicas em
Mudanças Climáticas.
O trabalho, elaborado com apoio do
Observatório do Clima, será apresentado pelo coordenador de Estratégias de
Conservação da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, Guilherme
Karam. O objetivo é fazer com que, dentro do Plano Nacional de Adaptação às
Mudanças do Clima, que está sendo estruturado pelo governo, o papel dos
ecossistemas, ou seja, da conservação dos ambientes naturais e da
biodiversidade, seja considerado como uma estratégia de adaptação, disse Karam
à Agência Brasil.
A expectativa é que o plano seja
divulgado no segundo semestre deste ano, antecedendo a Conferência das Partes
da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, marcada para
dezembro em Paris. Na conferência na capital francesa, pretende-se fechar um
novo acordo global sobre o clima, em substituição ao Protocolo de Quioto, em
vigor desde 2005.
O plano engloba dez áreas temáticas,
com projeções do governo para medidas de adaptação relacionadas à agricultura,
à eficiência hídrica, à energia, ao transporte e à logística, disse Karam. “Em
todos esses recortes temáticos, existe oportunidade para medidas de adaptação
baseadas em ecossistemas.” O estudo pretende levar este conceito para o governo
e, a partir de exemplos encontrados no Brasil e no mundo, tentar fazer com que
a questão entre no plano nacional.
“Ele será um grande influenciador de
políticas públicas subnacionais nos estados e municípios. É estratégico o tema
da adaptação baseada em ecossistemas estar presente nesse documento”, disse o
ambientalista.
Nas Ilhas Fiji, por exemplo, que
estão suscetíveis às mudanças climáticas devido à elevação do nível do mar,
havia duas alternativas. “Ou se construíam diques para conter o avanço do mar,
ou se partia para uma adaptação baseada em ecossistemas, que envolvia a
recuperação do manguezal, que exerce de maneira natural uma função de regulação
do impacto da cheia ou mesmo da elevação do nível do mar.” A opção foi
recuperar os manguezais da ilha para que exerçam essa função de proteção
natural contra o avanço do nível do mar. De acordo com Karam, a alternativa
saiu muito mais barata para o governo local e, em poucos anos, o investimento
será pago.
Para ele, o problema é que o tema é
muito novo. Por isso, não há muita publicação a respeito. “Está entrando na
pauta agora.” Até há pouco tempo, a questão central nos debates internacionais
eram a mitigação e a redução das emissões de gases de efeito estufa. “Agora, a
agenda da adaptação veio mais forte, porque se percebeu que as mudanças
climáticas já estão em curso e continuarão vindo, porque são resultado do gás
carbônico que já está na atmosfera”. Nesse cenário, sustentou que o papel dos
ecossistemas é fundamental, porque pode também baratear muito os custos de
adaptação, se pensar que a natureza pode exercer nesse processo. Os países
estão fazendo seus planos de adaptação, por recomendação da Organização das
Nações Unidas.
O estudo é inédito no Brasil e leva
em consideração o conceito de qualidade ambiental apresentado pelo Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente. Karam deixou claro que a adaptação baseada
em ecossistemas é uma possibilidade complementar para os processos de adaptação
às mudanças climáticas e de minimização dos efeitos dos eventos extremos do
clima.
No caso de logística de transportes,
por exemplo, como no assoreamento dos portos, é bem-vinda, disse Karam. Citou o
caso do Porto de Paranaguá, no Paraná, que está assoreado e exige custo elevado
para fazer a dragagem do canal, a fim de permitir a entrada de navios de porte.
O problema tem duas soluções: ou se estabelece um plano frequente de dragagem
física, a custo elevado, ou se parte para uma medida de adaptação baseada em
ecossistemas, que é recuperar a floresta degradada para fixar de novo o solo na
região. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário