Na
cidade de Ferraz de Vasconcellos em São Paulo, existe um bairro denominado
Cambiri. Documentário exibido no espaço Tela Verde do Ministério do Meio
Ambiente na TV NBR em 09/08/14 e denominado “Ritos de rios e ruas” argumenta
que esta expressão de origem indígena, é empregada para designar “rios que
mudam de lugar”. Isto normalmente ocorre em várzeas que são mais comuns na foz
de cursos de água, ou em fases mais maduras. Mas em nascentes do rio Tietê ocorrem planaltos de baixa declividade que
determinam esta especificidade muito peculiar, uma característica própria de
cerrados, que se identifica nas nascentes do rio Tietê.
Rios e cursos de água em
regiões de cerrado podem nascer em chapadões de pequena declividade, em várzeas
ou algo como as “veredas” imortalizadas por Guimarães Rosa. Mas normalmente, os
rios tem em sua clássica descrição, uma fase juvenil, uma fase madura ou adulta
e um estágio senil ou terminal, que normalmente coincide com a denominada “foz”
ou zona de deságue em outro curso de água, num lago ou até mesmo em um oceano.
Na fase juvenil, em geral os
cursos de água se encontram limitados e encaixados em morros, com margens
íngremes e elevada declividade do curso de água. São regiões ideais para
implantação de barramentos do tipo de concreto por engastamento, e com
descargas de fundo, que podem tornar o tempo de vida útil da barragem muito
longo ou até mesmo permanente. É uma modelagem de retenção e armazenamento de
água para consumo ou produção de energia muito usada na Europa, onde se evitam
por inexistência de espaços, as grandes áreas inundadas. Tendem a serem cursos
de água lineares.
No estágio mais adulto, os
rios não são tão encaixados e a declividade é menor no curso de água. Neste
estágio até podem acontecer ou se estabelecer zonas de várzeas, como ocorrem no
rio Tietê no bairro de Cambiri em Ferraz de Vasconcelos em São Paulo, onde o
rio é responsável por todo um microambiente, um clima próprio, e onde se
destaca a grande quantidade de vertentes contributivas para a vazão do rio,
protegidas por matas ciliares e vegetações locais, em situação análoga aos rios
de cerrado. Em geral as grandes barragens brasileiras estão inseridas nesta
fase dos cursos de água e geram grandes áreas inundadas, que são origem de
variados conflitos de grande porte de todas as naturezas.
Estas barragens de grande
porte não admitem a implantação de mecanismos ou comportas de descarga de
fundo, porque as elevadas pressões geradas pela água, em reservatórios de
grande porte não viabilizam a implantação destas estruturas. Assim como no
Tietê, tendem a ser cursos de água com desenho em planta do tipo meandrante,
que acaba gerando mesmo braços abandonados. Mas que no caso do Tietê, de acordo
com testemunhas, houve escavações, com interferência antrópica que produziram
novos canais e contribuíram para o abandono de ”braços” ou canais naturais.
É de lamentar que o modelo de
barragens largamente adotado no Brasil, privilegie esta circunstância e não
tenha como diretriz primeira a manutenção e o fortalecimento de ações
integradas que beneficiem a sustentabilidade ambiental e a manutenção de
populações com saberes tradicionais em suas origens em seus “habitats” naturais
e tradicionalmente históricos, onde seus antecessores e sua comunidade
desenvolveu suas raízes.
Na fase madura, em geral os
cursos de água são acompanhados pela instalação e presença de grandes várzeas.
Apresentam baixa declividade, formato geométrico que tende a ser anastomosado e
devido às peculiaridades geomórficas, não se implantam barramentos, em geral
nesta fase, pois seriam barramentos de porte muito elevado e de grandes áreas
inundadas. A exemplificação mais característica seria a foz do rio Nilo na
África, na região da cidade egípcia de Alexandria.
Na região do bairro de
Cambiri, na cidade de Ferraz de Vasconcelos, é de saudar a existência de
movimentos sociais e ambientais de repercussão, que lutam pela preservação das
inúmeras nascentes que protegidas por matas ciliares ou assemelhadas,
contribuem para a manutenção do vigor do rio Tietê, contribuindo para a
preservação do meio ambiente e dos sistemas locais.
Mais do que as belas imagens
do documentário apresentado, se exalta estas ações num momento que o estado de
São Paulo e a cidade de São Paulo sofrem as drásticas consequências de episódio
de “seca”, associado ou não com as relevantes alterações climáticas que o
planeta tem sofrido.
A água representa um recurso
natural fundamental para a preservação da vida e a obtenção de condições de
sustentabilidade em novo patamar. Ações desta natureza com a água, em todas as
suas dimensões, com a grande compreensão da população e o grande aumento de
ações socioambientais sistêmicas, deve ser saudado com grande alento, para a
melhoria da qualidade ambiental e a qualidade de vida de todas as populações
que acabam sendo beneficiadas por iniciativas silenciosas e cotidianas, mas de
grande magnitude e importância de vida. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário