“A
floresta precede os povos e o deserto os segue” (Chateaubriand)
O Brasil já destruiu 93% da
Mata Atlântica, mais de 50% do Cerrado e mais de 20% da Amazônia. A degradação
não poupou outros biomas, tais como a Mata de Cocais, os Mangues, a Caatinga, a
Mata de Araucária, os Pampas e o Pantanal. Assim, o Brasil que não pensa em
restaurar a sua rica biodiversidade original, tem muita terra, roubada das
florestas, à disposição da agricultura, do reflorestamento e da pecuária.
Ao invés do replantio de
espécies nativas, a “indústria” do reflorestamento buscou espécies florestais
exóticas, como o Pinus e o Eucalyptus, que se adaptaram bem no Brasil,
possibilitando produtividade, no mínimo, dez vezes maior que as de muitos
países de clima temperado. O rápido crescimento das plantações de Pinus e
Eucalipto ocorre devido às condições favoráveis de clima, solo, extensão
territorial, mão de obra, infraestrutura e capacidade gerencial produtiva das
empresas que focam o lucro e não a recuperação dos ecossistemas.
As monoculturas voltadas para
o lucro não contribuem para a recuperação da biodiversidade. A expressão
“deserto verde” surgiu para denominar as plantações de só um tipo de árvores,
como nas grandes extensões de terra destinadas para a produção de celulose,
madeira ou carvão vegetal. As consequências deste tipo de plantação para o meio
ambiente são: desertificação, erosão e redução de biodiversidade.
Deserto verde, por exemplo, é
quando uma floresta tem cheiro de sauna e nenhuma fauna. Em geral, as grandes
plantações de Pinus e Eucalipto envenenam o solo, eliminam a biodiversidade
animal, a flora do local, secam as nascentes, sugam o lençol freático e
reforçam a concentração fundiária.
A desastrosa combinação entre
eucalipto, monocultura e agrotóxicos afeta também a saúde das pessoas que
produzem alimentos em regiões próximas, pois suas terras são invadidas por
animais silvestres, sem alternativa, na busca de alimentos. Os animais
selvagens são vítimas da falta do habitat, da falta de corredores ecológicos e
da falta de compaixão dos produtores que não admitem a “invasão” de suas terras
privadas e a perda de alguns de seus animais domesticados.
Para a produção de Etanol e
biocombustíveis, avança a monocultura de cana-de-açúcar, que expulsa animais,
destrói ambientais e literalmente calcina os que não conseguem escapar das
línguas de fogo em locais onde o corte da produção ainda é feito com fogo, como
nos primeiros tempos da escravidão.
A maior parte dos
ecossistemas brasileiros foi destruída e não existem corredores verdes para
unir o pouco que restou dos diversos biomas. A fauna também foi destruída ou
ficou ilhada em pequenas porções. A perda da fauna é definida como
“defaunação”, o que está levando a uma extinção em massa de animais de pequeno,
médio e todos os portes.
Este processo é global como
fica claro nos estudos publicados em julho de 2014 na Revista Science que
mostram taxas alarmantes de ecocídio. Segundo a Revista, o ser humano está
provocando, em um curto espaço de tempo, a sexta extinção em massa no planeta.
Isto acontece em função dos impactos da perda de vida devido ao empobrecimento
da cobertura vegetal, à falta de polinizadores, ao aumento de doenças, à erosão
do solo, aos impactos na qualidade da água, etc. Ou seja, os efeitos são
sistêmicos e um dos artigos da revista Science chama este processo de
“Defaunação no Antropoceno”, que ocorre devido ao aprofundamento da
discriminação contra as espécies não humanas.
O crime do especismo está
longe de ser objeto de uma discussão mais profunda, como já ocorreu com o
racismo, o sexismo, o classismo, o homofobismo, escravismo, etc. Recentemente
foi criado um site para incentivar a mobilização contra a discriminação das
espécies, definindo o dia 22 de agosto de 2015, como o “Dia mundial contra o
Especismo”.
O deserto verde e a
defaunação afetam a vida humana e não humana. Por exemplo, insetos, incluindo
as abelhas, que polinizaram 75% da produção agrícola mundial, sofrem ameaça em
escala global, com o uso generalizado de agrotóxicos. Da mesma forma, estão
ameaçados morcegos e aves que controlam pragas agrícolas que, de outra forma,
seriam devastadoras.
O declínio da população de
anfíbios – como sapos e pererecas – aumenta a concentração de algas e outros
detritos, o que compromete a qualidade dos recursos hídricos. Animais
vertebrados e invertebrados desempenham papel estratégico na decomposição
orgânica e ciclagem de nutrientes no ambiente. Desta forma, a defaunação afeta
a saúde humana de diferentes maneiras, desde a desnutrição ao controle de
doenças.
Em dezembro de 2014, o
Ministério do Meio Ambiente apresentou estudo que mostra que o número de
animais ameaçados de extinção no Brasil aumentou 75% entre 2003 e 2014. A nova
lista nacional de espécies ameaçadas tem 395 novas espécies, a maior parte de
invertebrados terrestres. Além disto, existem inúmeras espécies ameaçadas que,
por serem desconhecidas dos registros humanos, simplesmente não entraram nas
listas de extinção.
O crescimento das atividades
antrópicas no Brasil tem prejudicado de forma danosa todas as formas de vida
ecossistêmicas dos biomas nacionais. Os brasileiros estão reincidindo
cotidianamente nos crimes do especismo e do ecocídio. Se a dinâmica demográfica
e econômica continuar sufocando a dinâmica biológica e ecológica, o Brasil
destruirá a maior área de biocapacidade do Planeta a contribuir de maneira
decisiva para o abismo civilizacional e ecológico, gerando um suicídio global.
(ecodebate)
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