Árvores
ajudam a conservar água no solo em sistema integrado com lavoura
As perdas de água pelo escoamento superficial são
menores em sistemas de integração lavoura-floresta do que em sistemas
produtivos apenas com culturas anuais. Isso é o que indicam os primeiros dados
coletados pela Embrapa Agrossilvipastoril em um experimento realizado em Sinop
(MT).
A pesquisa, que ainda está em andamento, comparou o
volume de perda de solo e o escoamento da água da chuva em seis situações: solo
descoberto, lavoura (rotação soja e milho com braquiária), integração
lavoura-floresta, pastagem, silvicultura de eucalipto e mata nativa.
A análise dos dados do primeiro ano de monitoramento
mostra que há menor volume escoado no sistema de integração lavoura-floresta do
que na área apenas com lavoura. Enquanto na rotação de soja na safra e milho
com braquiária na safrinha, o escoamento foi de 2,4% do total de precipitação,
no sistema silviagrícola, esse número foi de apenas 1,7%. Em um local onde
chovem cerca de 2.000 mm/ano, isso representa 14 litros a mais infiltrados a
cada metro quadrado. Em um hectare, são 140 mil litros a mais disponíveis no
solo.
“Há um período de transição, quando ocorre o plantio,
que o solo fica desprotegido. Nesse período temos eventos intensos de chuva e
isso ocasiona a perda de solo. No sistema integrado, embora também tenha havido
a retirada da cultura anual, o componente arbóreo estava lá. Ele atua na
diminuição da energia cinética da chuva e reduz o escoamento da água”, explica
o pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril Cornélio Zolin.
De acordo com o pesquisador, quanto menor o
escoamento, melhor é para a conservação dos recursos hídricos. Isso porque a
água que escoa tem menor oportunidade de infiltração. “Quando se fala em
disponibilidade de água, estamos preocupados com a água que infiltra. Essa água
vai ficar no solo para ser usada pelas culturas e também vai alimentar o lençol
freático. É esse lençol que abastece os rios na seca, garantindo uma vazão mais
constante”, explica.
Perdas de solo e nutrientes
A pesquisa também analisou a perda de solo pelo
efeito da chuva. Observou-se que, com exceção do solo descoberto, todos os
outros sistemas tiveram perda de solo por erosão hídrica dentro do limite
tolerável para o tipo de solo da área experimental (Latossolo Vermelho-Amarelo
distrófico de textura argilosa).
Além disso, em uma próxima etapa, o trabalho irá
quantificar e avaliar os nutrientes e a matéria orgânica presentes no solo e
água que são perdidos com o escoamento da chuva nos diferentes sistemas
produtivos estudados. Para isso, os pesquisadores estão começando a fazer
análise química do solo erodido. Os dados preliminares têm mostrado, mais uma
vez, que a integração lavoura-floresta é mais eficiente na conservação de
nitrogênio e carbono orgânico do que a lavoura solteira. Outra informação
importante é a eficiência da pastagem na conservação do solo.
“Observamos nessa pesquisa que a pastagem apresentou
perdas de solo, água e nutrientes relativamente pequenas, o que mostra que uma
pastagem bem-manejada é uma importante forma de conservação do solo e água”,
afirma Zolin.
Método de coleta
Coletar os dados para essa pesquisa não é tarefa
simples. Em cada parcela do experimento foi montada uma estrutura com calhas e
uma trincheira em que foram colocadas duas caixas d’água. A água da chuva que
escoa é recolhida por essa calha e fica armazenada nas caixas d’água. Sempre
que chove é necessário fazer a medição do volume de água coletado.
No campo experimental da Embrapa Agrossilvipastoril,
essas informações já estão sendo coletadas há três anos. Além dos seis
tratamentos (solo descoberto, lavoura, integração lavoura-floresta, pastagem,
silvicultura de eucalipto e mata nativa) também está sendo monitorada uma área
de recomposição de reserva legal.
A meta é que o trabalho continue por mais três ou
quatro anos, dependendo do tratamento, formando-se assim uma base de dados
robusta e confiável. A partir daí, a expectativa é de se trabalhar com índices
de sustentabilidade para sistemas produtivos e também de se obter parâmetros
para o desenvolvimento de modelagens, que são simulações computacionais que
permitem prever efeitos de intervenções ou mudanças de sistemas produtivos em
uma paisagem.
“Sabendo a quantidade de água infiltrada dos sistemas
produtivos, podemos calcular o impacto da mudança do uso da terra em uma
microbacia. Podemos, por exemplo, estimar o efeito do aumento da faixa de mata
em termos de conservação de água”, explica Zolin.
Congresso Mundial sobre ILPF
De 12 à 17/07/15, Brasília vai sediar o Congresso Mundial
sobre Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta. Os maiores especialistas do mundo
em intensificação sustentável se reunirão para apresentar trabalhos científicos
e debater questões como aumento da produção mundial de alimentos, mudanças
climáticas e sustentabilidade ambiental. (ecodebate)
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