Exploração
de aquíferos precisa se tornar mais sustentável, diz especialistas.
Na medida em que as mudanças climáticas se
intensificam e as crises hídricas se tornam mais frequentes, cresce a
exploração dos aquíferos subterrâneos – onde está armazenada cerca de 95% da
água doce disponível no planeta.
A necessidade de pesquisas que ajudem a tornar mais
sustentável o uso desse recurso, evitando contaminações e garantindo a recarga
dos reservatórios, foi um dos temas abordados em 13/05/15, durante a FAPESP
Week UC Davis in Brazil.
“A Califórnia é responsável pelo cultivo de 50% das
frutas e vegetais consumidos nos Estados Unidos. Essas culturas dependem
intensamente de irrigação e, como a Califórnia enfrenta o quarto ano
consecutivo de seca, muitos fazendeiros têm recorrido ao bombeamento de água
subterrânea”, disse Jan Hopmans, professor de Hidrologia, Terra, Ar e Recursos
Hídricos da University of California, Davis.
Segundo dados apresentados por Hopmans, a população
mundial mais do que dobrou nos últimos 50 anos. O mesmo ocorreu com a área
agrícola irrigada e a demanda por água no período cresceu cerca de 250%.
“Na Califórnia, as águas subterrâneas, que antes
representavam um terço do total usado na irrigação, hoje já correspondem a dois
terços. E isso tem consequências tremendas”, disse.
De acordo com as estimativas de crescimento
populacional, será necessário duplicar a produção de alimentos para atender a
demanda dos próximos 50 anos. Segundo Hopmans, é urgente desenvolver
tecnologias para tornar a irrigação agrícola mais eficiente, permitindo menor uso
de água por unidade produzida. Caso contrário, a demanda por água duplicará nas
próximas décadas.
Também é necessário, segundo Hopmans, encontrar
soluções para minimizar a contaminação dos aquíferos por nitrato – oriundo
principalmente de fertilizantes agrícolas e dejetos animais –, problema que
pode se agravar nos próximos anos.
“A agricultura do futuro precisa se tornar, ao mesmo
tempo, mais produtiva e mais sustentável. Isso exige uma melhor compreensão de
como as plantas absorvem água e nutrientes, para que possamos fazer mais com
menos. Requer pesquisas inovadoras sobre o solo, combinadas com ciência de
plantas e novas tecnologias”, opinou Hopmans.
Preparação décadas antes
Na avaliação de Graham Fogg, professor de
Hidrogeologia da UC Davis, o uso que tem sido feito atualmente dos aquíferos
pelos fazendeiros californianos e também de outras regiões do globo está longe
de ser sustentável. Para exemplificar, ele fez uma analogia com o sistema
financeiro.
“Imagine que você tem todo o seu dinheiro depositado
em duas contas bancárias. A conta A – que representa a água presente na
superfície do planeta – tem saldo conhecido e você sabe quanto dinheiro está
entrando e saindo. Da conta B – que representa a água subterrânea – você não
sabe o saldo e nem quanto está entrando e saindo. E quando o saldo da conta A
se esgota, você passa a fazer retiradas descontroladas da conta B. Como é
possível ter segurança em uma situação dessas?”, disse Fogg.
Na tentativa de responder a uma questão fundamental –
onde haverá água e qual quantidade estará disponível em um cenário futuro de
mudanças climáticas – foi criado na UC Davis o IGERT Center for Climate Change,
Water and Society (CCWAS), coordenado por Fogg.
O IGERT (Integrative Graduate Education and Research
Traineeship) é um programa de treinamento oferecido pela National Science
Foundation (NSF), principal agência de fomento à pesquisa básica nos Estados
Unidos, para recrutar os mais destacados estudantes de doutorado do país.
“O centro da UC Davis tem como missão formar uma nova
geração de cientistas com a profundidade e a amplitude multidisciplinares
necessárias para lidar com os efeitos das alterações climáticas sobre os
recursos hídricos”, contou Fogg.
Segundo o pesquisador, a seca que a Califórnia
enfrenta atualmente não é consequência da queda nos índices de precipitação e
sim do derretimento mais precoce da neve causado pelo aquecimento do planeta.
“A Califórnia sempre dependeu da neve para
armazenamento de água. Toda nossa precipitação ocorre no inverno. Ela cai na
forma de neve nas montanhas e, entre abril e julho, derrete e abastece os
reservatórios. Assim, temos água para atender o pico de demanda, que ocorre
entre junho e julho. Mas, nos últimos anos, a neve começou a derreter mais cedo
e parte da água não tem como ser armazenada para uso no momento em que é
necessária”, contou Fogg.
Em vez de criar novos reservatórios de superfície,
defendeu Fogg, a solução é criar mecanismos para colocar mais água nos
reservatórios subterrâneos e começar a usá-los de forma mais sustentável, o que
requer pesquisas e avanços tecnológicos.
“Para estarmos preparados para uma seca como a que
enfrentamos hoje, tínhamos que ter feito esse trabalho cerca de dez anos antes.
É preciso motivar as pessoas para que façam o que tem de ser feito décadas
antes de um evento extremo ocorrer”, disse Fogg. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário